Artigos

Pausa para a Leitura: Protagonize-se

Fernanda van der Laan* | 03/03/24 - 09h00
Foto: Fernanda van der Laan

O problema não é você. Você navegou tempestades, encarou dores e abismos, e ainda assim, triunfou. Ninguém pode medir a profundidade das suas convicções. Você, somente você, detém a força bruta da verdade - e a verdade é um arsenal que você escolhe, deliberadamente, não disparar. Opte pela diferença, despreze a indiferença, recuse-se a ficar encaixado nos moldes de uma maioria. Vazia. Os verdadeiramente valorosos não caçam inspirações em mundos alheios; eles forjam propósitos. A legitimidade da beleza e da sabedoria não reside nas vitrines das redes sociais, ou no barulho das vozes estridentes do mundo, mas sim numa força que só você domina, e que é detentora de um poder capaz de desmantelar as maiores injustiças com a arma mais poderosa que existe – e que você tem - a verdade.

A verdade, esta joia preciosa de valor incalculável, habita soberana em todas as suas ações. A verdade, este monstro sagrado, onipotente e inconformado, cala as vozes e os gritos da opressão e do conformismo que margeiam a vida de quase todas as pessoas do mundo. A verdade é uma carta na manga que apenas você possui. Use-a. Não a desperdice em vãs tentativas de pertencimento.

Procure ser fiel aos seus semelhantes e à Natureza. Honre uma história que só você conhece. Descubra as reais gêneses que motivam os seus atos. Encontre, dentro de você, as fragilidades, mas não deixe que elas, sorrateiramente, norteiem o seu comportamento. Você precisa ser aliado das suas vulnerabilidades. Não permita que a sua essência mais bruta seja seu algoz. Por infelicidade ou insegurança, não infernize ninguém. Infernizar alguém sempre será um manifesto da sua infinita miséria. Não devolva o inferno aos outros. O inferno não é você – o inferno são os outros.

Reconheça as fraquezas de seus atos, assimilando-as como aliadas e não como adversárias em sua jornada de autodescoberta e autenticidade. Em suas interações, evite ser uma sombra tóxica que se alimenta da infelicidade alheia, pois tal atitude é um vergonhoso atestado da miopia das suas insatisfações.

E em uma era que seduz para a uniformidade, afirmar-se é revolucionário. A sociedade demanda adesão, celebra a cópia, mas a autenticidade é a única celebração verdadeira da existência. Ser fiel a si mesmo, em meio à epidemia de pessoas replicadas, parecidas e despersonalizadas, destoa como rebeldia, mas é o precioso enigma que soluciona as doenças do corpo e do mundo.

Submeter-se aos desejos alheios é um naufrágio garantido. A aprovação que realmente importa é a da sua consciência. Você. Você mesmo. Você mesmo é o único influenciador que deveria repercutir em seus anseios e desejos mais profundos. Não sucumba à armadilha de anular a sua essência no imponderável estratagema do mundo virtual. Viver autenticamente é entender que as histórias das outras pessoas são importantes, mas nunca vão servir em seu próprio destino.

Sua existência é definida pela ordem caótica de um DNA, pelos ramos de uma árvore genealógica e pela sequência exata de acontecimentos sucedidos desde o dia de seu nascimento até agora. Você ainda acredita que é possível que alguém, além de você, norteie a sua felicidade?

A verdade como paridade não existe. Apenas como soberania.

Você é o herói. Você é o personagem principal. Você é o criador absoluto de uma felicidade que merece figurar ilustre em sua vida. Encarne a pessoa que está encarcerada e escondida em meio aos artifícios torpes das futilidades inebriadas do mundo. Olhe para o único olho que reproduz as imagens como você as vê – no espelho. Encare a verdade. No fim, isso é o que verdadeiramente importa: viver, de forma irrevogável e apaixonada, uma história verídica.

Você é o protagonista da sua vida.
A sua história não é uma ficção.
A vida sempre será uma história real.

► *FERNANDA VAN DER LAAN É PSICÓLOGA / @fernandissima