Há duas décadas, a Igreja Católica vem sendo sacudida por escândalos de pedofilia. Milhares de casos envolvendo o clero se alastraram pelo mundo, a partir do Estados Unidos, onde foram trazidos à tona em 2002 pela equipe investigativa Spotlight do jornal “The Boston Globe” (que deu origem ao filme “Spotlight — Segredos revelados”). No entanto, o Brasil, maior nação católica do planeta, passou ao largo das denúncias.
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Num trabalho inédito de reportagem, o livro “Pedofilia na Igreja” revela um quadro não menos dramático no país e joga luz sobre os abusadores de crianças e suas redes de proteção. Ao longo de três anos, Fábio Gusmão e Giampaolo Morgado Braga, experientes e premiados jornalistas, produziram um relato detalhado dos casos, e apresentar a real dimensão do problema no Brasil. Eles pesquisaram mais de 25 mil páginas de documentos em tribunais, ministérios públicos, inquéritos policiais, dossiês, relatórios e bases de dados internacionais. Os autores também ouviram vítimas e seus parentes, promotores, membros do clero, advogados, policiais, jornalistas, psicólogos que atendem vítimas e abusadores, e um padre condenado pelo crime.
Da lista de entrevistados fazem parte, entre outros, os maiores especialistas do mundo e do Brasil no tema: o advogado Mitchell Garabedjan, que defende as vítimas de Boston e o jornalista Michael Rezendes, do “Boston Globe”, além de representantes da Survivors Network of Those Abused by Priests , rede mundial de apoio a vítimas de abuso por sacerdotes católicos, que reúne mais de 30 mil pessoas, de bancos de dados internacionais e de integrantes de núcleos da Igreja no Brasil voltados à apuração de casos e suporte às vítimas, como o Lux Mundi, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
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| Fábio Gusmão e Giampaolo Braga investigaram denúncias de pedofilia no clero católico e mais de 25 mil páginas de documentos oficiais |
O resultado é um retrato da pedofilia na Igreja Católica no Brasil: pelo menos 108 membros do clero foram acusados, indiciados, denunciados, condenados ou se tornaram réus por envolvimento em abuso sexual de 148 crianças, adolescentes ou pessoas com deficiência intelectual, 96 cidades de 23 estados, de Caçapava do Sul (RS) a Xingu-Altamira (PA). Os casos envolvem arcebispos, bispos, monsenhores, padres, frades e, em um deles, uma freira.
O trabalho está em linha com os esforços do papa Francisco, que fez do combate à pedofilia a principal bandeira de seu pontificado e emitiu 15 documentos sobre o abuso de menores entre 2014 e 2022. O livro vai além de fazer um levantamento dos crimes; avança sobre as causas, as consequências e os desafios da própria Igreja em virar uma das páginas mais tristes e chocantes de sua história.
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