A morte de Ronald José Salvador, de 55 anos, após um acidente durante o supino em uma academia de Olinda (PE), reacendeu o debate sobre segurança no treinamento de força e os riscos associados tanto à técnica inadequada quanto aos traumas torácicos graves provocados pela queda de equipamentos pesados. A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu depois que a barra caiu diretamente sobre o seu peito.
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Imagens das câmeras de segurança mostram que ele utilizava uma variação de pegada sem o polegar envolvendo a barra, a chamada “pegada suicida”, quando o equipamento escorregou de suas mãos. A técnica, comum entre atletas muito experientes, é considerada altamente arriscada para praticantes recreativos. “É uma técnica extremamente arriscada”, alerta o educador físico Alexandre Rocha, especialista em fisiologia do exercício e treinamento de força.
Segundo o especialista, a “pegada suicida” pode ter sido determinante para a tragédia. “Quando o praticante não envolve o polegar, a barra fica totalmente instável. Qualquer pequeno deslize, suor ou falha de controle pode fazer o equipamento escorregar direto sobre o tórax ou pescoço. É uma técnica extremamente arriscada e nunca deveria ser usada sem supervisão”, explica.
Alexandre Rocha explica que muitas pessoas adotam a pegada aberta acreditando que ela oferece conforto ou maior amplitude, mas desconsideram o potencial de um trauma de alta energia. “Uma barra pesada caindo no peito pode causar fraturas, ruptura de estruturas internas, pneumotórax e até arritmias fatais provocadas pelo impacto. Estamos falando de um equipamento capaz de gerar um trauma violento”, alerta.
Para ajudar a evitar acidentes, o especialista defende que academias adotem protocolos mais rígidos. “É preciso educar o aluno sobre técnica correta, sobre exercícios adequados ao nível de cada praticante e sobre riscos de variações avançadas. Segurança não pode ser negociada”, diz.
Além dos riscos mecânicos do exercício, o acidente acendeu o alerta para os impactos cardiovasculares que podem ocorrer quando há trauma direto no tórax. O cardiologista Dr. Raphael Boesche Guimarães explica que batidas fortes ou compressões bruscas podem desencadear complicações graves de evolução rápida — entre elas, o commotio cordis.
“O commotio cordis ocorre quando um impacto atinge o tórax justamente durante a fase mais vulnerável da atividade elétrica do coração. Isso pode levar à fibrilação ventricular em segundos. Sem tratamento imediato, o desfecho é quase sempre fatal”, afirma o médico.
Embora a condição seja mais comum em esportes de impacto, como beisebol e futebol, o cardiologista reforça que a queda de barras pesadas pode gerar consequências semelhantes. Entre as complicações possíveis, ele cita:
“Mesmo pessoas jovens e aparentemente saudáveis podem sofrer complicações fatais após impactos dessa natureza. Trauma torácico nunca é simples”, reforça.

O Dr. Raphael Boesche Guimarães destaca que, antes de iniciar treinos intensos com pesos, é importante passar por avaliação médica, principalmente para detectar condições que podem aumentar o risco de eventos graves durante o esforço.
Além disso, Alexandre Rocha reforça o papel da supervisão profissional:
“Treinar não é só levantar peso; é dominar a técnica. E, sempre que possível, com alguém acompanhando”, ressalta Alexandre Rocha.
Outro ponto essencial é a presença de DEA (Desfibrilador Externo Automático) nas academias, além de profissionais treinados para utilizá-lo. “A única forma eficaz de tratar uma fibrilação ventricular é a desfibrilação precoce. Se a academia tem o equipamento e alguém preparado, as chances de sobrevivência aumentam drasticamente”, explica o cardiologista.
Os especialistas reforçam que acidentes semelhantes ao que aconteceu em Pernambuco geralmente envolvem:
Para os especialistas, a tragédia serve como um alerta urgente. “Traumas no tórax podem causar desde arritmias fatais até rupturas internas graves. Academias equipadas, com protocolos rígidos e supervisão qualificada, literalmente salvam vidas”, conclui o Dr. Raphael Boesche Guimarães.
Priorizar a segurança é essencial durante a prática de qualquer exercício. “Não dá para normalizar práticas arriscadas. Técnica correta e segurança são tão importantes quanto a carga usada”, finaliza Alexandre Rocha.
Por Daiane Bombarda
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