Publicado em 07/08/2025, às 15h12
Para o alagoano Jeferson de Souza, a viagem para São Paulo carregava também o sonho presente em tantos lares: o de vencer na vida. O jovem de 24 anos havia deixado para trás a cidade de Craíbas, no Agreste alagoano, com o desejo de procurar a felicidade na capital paulista. Porém, essa busca foi interrompida no dia 13 de junho deste ano, quando ele foi brutalmente assassinado a tiros por policiais militares durante uma abordagem sob o Viaduto 25 de Março. Dois PMs estão presos pelo crime.
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Assim como muitos nordestinos, a dificuldade na metrópole se tornou realidade desde a chegada. Órfão após a morte da mãe, vítima de câncer, e o assassinato do pai, Jeferson se manteve firme em tentar algo melhor.
A vontade dele era de jogar futebol profissionalmente, mas antes de tentar impressionar olheiros em campeonatos de várzea, ele teve que buscar trabalho. Foi aí que uma oportunidade apareceu e ele foi contratado por um dono de pizzaria. Depois, um novo desafio, no mesmo ramo alimentício, e a luta continuava para poder se sustentar.
Diante das dificuldades, e também por estar abalado psicologicamente devido à saudade de familiares, Jeferson não resistiu ao consumo das drogas e se entregou ao vício, que o levou às ruas de São Paulo, segundo a irmã dele, Micaele de Souza, contou em vídeo divulgado nessa quarta-feira (6).
"Creio que ele não teve o psicológico suficiente para aguentar tanta coisa acontecendo".
Quase dois meses depois do assassinato de Jeferson, a irmã ainda convive com a tristeza de perder o único irmão homem. Ela espera que os policiais Alan Walace e Danilo, acusados de homicídio com motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima, condições qualificadoras, sejam responsabilizados na Justiça pela morte.
"Espero muito que a Justiça seja feita. Nada nesse mundo justifica tirar a vida de um ser humana de uma forma tão cruel. Se ele devia algo para a Justiça, por que não prenderam? Foram lá e tiraram a vida dele. Espero que a Justiça não pare por aí".
O caso
Imagens de câmeras corporais revelaram que o alagoano Jeferson de Souza, que vivia em situação de rua, foi executado durante uma abordagem policial em São Paulo. O crime aconteceu no dia 13 de junho, sob o Viaduto 25 de Março, e expôs a ação violenta praticada pelos dois policiais militares da Força Tática.
Os PMs, um tenente e um soldado, alegaram que Jeferson teria tentado tomar a arma de um dos agentes, justificando os disparos. No entanto, os vídeos mostram que a vítima estava desarmada, acuada e chorando, com as mãos para trás, quando foi morta com três tiros de fuzil, na cabeça, no tórax e no braço.
Jeferson chegou a ser levado para trás de uma pilastra, onde permaneceu sentado, enquanto era interrogado. Em determinado momento, o soldado encobriu a lente da câmera corporal, e segundos depois Jeferson aparece morto. A cena desmente totalmente a versão apresentada pelos policiais.
Desde julho, os dois agentes estão presos no Presídio Militar Romão Gomes e respondem por homicídio doloso, falsidade ideológica e obstrução de Justiça. Para o Ministério Público, o crime foi cometido com “motivo torpe” e em “absoluto desprezo pelo ser humano e pela condição da vítima, pessoa em situação de vulnerabilidade social”.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo classificou o episódio como “inaceitável” e “vergonhoso”, e a Corregedoria da PM segue investigando o caso.
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