Pesquisadores desmontam mito sobre mordida de dinossauros gigantes

Publicado em 18/08/2025, às 12h32
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Por CNN Brasil

Um estudo publicado recentemente na revista Current Biology contradiz um mito popularizado pelo cinema de que “todo dinossauro gigante morde como um T. rex”. Na verdade, segundo os pesquisadores da Universidade de Bristol, na Inglaterra, cada linhagem evoluiu um tipo de mordida adaptada ao seu estilo de caça e dieta.

Ou seja, enquanto o temível tiranossauro tinha realmente uma mordida extremamente poderosa e esmagadora, capaz de quebrar ossos, outros terópodes como Allosaurus e Giganotosaurus tinham mordidas menos potentes. Já o Spinosaurus desenvolveu uma mordida rápida para capturar presas aquáticas.

Para entender se todos os dinossauros carnívoros gigantes evoluíram para ter crânios igualmente poderosos ou se adotaram estratégias biomecânicas diferentes para caçar e se alimentar, os autores realizaram o maior conjunto de dados tridimensionais de crânios de terópodes carnívoros já produzido até hoje.

Na pesquisa, os autores usaram crânios fossilizados e bem preservados de 18 espécies de dinossauros terópodes carnívoros. Inicialmente, eles usaram varreduras 3D para digitalizar os fósseis. Depois, aplicaram métodos de engenharia normalmente utilizados para testar o estresse de pontes.

Estresse, em engenharia e biomecânica, é a força interna por unidade de área que um material sofre quando é submetido a uma carga (a mordida, no caso dos dinossauros). Com isso, a equipe analisou como a força se distribui e se desloca pelo osso, indicando como a estrutura suportaria diferentes esforços.

Dinossauros carnívoros em cenários e dietas distintos

Para o primeiro autor do estudo, Andre Rowe, “os dinossauros carnívoros seguiram caminhos muito diferentes à medida que evoluíram para gigantes em termos de biomecânica alimentar e possíveis comportamentos”. Como não há mais carnívoros bípedes gigantes hoje, a pesquisa atual dá algumas pistas sobre essa evolução.

O Giganotosaurus desenvolveu uma anatomia especializada para o corte preciso de carne. Seu crânio comprido e cheio de dentes afiados e serrilhados permitia que ele arrancasse grandes pedaços de carne de suas presas, sem despedaçar os ossos. Nem por isso seus golpes eram menos devastadores.

Durante o Cretáceo médio, há cerca de 98 milhões de anos, o Giganotosaurus vivia na região da Patagônia, no que hoje é a Argentina. Ele teve seus dentes comparados a "um cruzamento entre um grande tubarão branco e um dragão de Komodo" pelo professor Eric Snively, da Universidade Estadual de Oklahoma.

O Spinosaurus, por sua vez, exibia uma estratégia de caça totalmente diferente, focada no ambiente aquático. Com focinho retraído e narinas para cima do crânio, seus dentes de formato pontiagudo — como cones ou estacas — eram ideais para perfurar e segurar presas escorregadias, como peixes,

Em entrevista ao Earth.com, o professor Snively, que não participou do presente estudo, fez uma analogia sobre a adaptação do terópode à vida semiaquática, descrevendo-o como "uma garça com corpo de salsicha e dentes de crocodilo”.

Por que o T. rex permaneceu com sua mordida destruidora?

Comparando a estrutura craniana e pontos de fixação muscular do T. rex com alguns de seus parentes modernos como crocodilos e aves, os pesquisadores concluíram que a mordida do T. rex era uma das mais intensas já registradas em qualquer predador terrestre da história.

Como o T. rex viveu durante o Cretáceo Superior, um período de competição predatória intensa, é possível que o ambiente hostil tenha forçado o desenvolvimento de uma “estratégia de alimentação única”, explica a paleontóloga Fion Waisum Ma, do Museu de Pterossauros Beipiao da China, em entrevista ao Earth.com.

O segredo, portanto, não estava apenas no tamanho e força colossais, mas na necessidade de sobrevivência. Nesse cenário, somente um crânio robusto e músculos poderosos poderiam proporcionar mordidas matadoras, uma defesa eficiente de carcaças e capacidade de esmagar ossos para acessar nutrientes.

Enquanto os terópodes anteriores dependiam mais da velocidade ou da capacidade de cortar carne, o rei dos tiranossauros foi moldado para finalizar qualquer tipo de confronto. Além de minimizar riscos, sua abordagem direta maximizava a eficiência e eliminava rapidamente qualquer chance de fuga da presa.

Em um ecossistema onde hesitar significava perder a refeição ou se tornar a refeição, o T. rex prosperou. Mais do que sobreviver, ele se tornou o predador dominante, impondo sua força esmagadora, controlando o topo da cadeia alimentar e sendo o principal ícone de todos os filmes, mesmo não tendo vivido no Jurássico.

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