PF cita 'declarações efusivas de carinho' entre juiz e Bacellar: 'Você é irmão de vida'

Publicado em 16/12/2025, às 17h53
Foto: Reprodução
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Por José Marques/FolhaPress

A Polícia Federal investiga o juiz Macário Ramos Júdice Neto por suposto vazamento de informações sigilosas ao deputado estadual Rodrigo Bacellar, que teria repassado dados a um ex-deputado preso por ligações com o Comando Vermelho. A prisão do magistrado foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Mensagens apreendidas revelam uma relação de intimidade entre Bacellar e Júdice Neto, com diálogos que indicam confiança mútua e encontros frequentes, incluindo um em uma churrascaria antes de uma operação policial. A PF também destacou a proximidade de Bacellar com o cantor Belo, que teria interagido com o juiz.

A defesa de Júdice Neto contestou a decisão de prisão, alegando erro do ministro Moraes e prometendo apresentar esclarecimentos para solicitar a soltura do juiz. Bacellar, que foi preso e depois solto pela Alerj, continua sob investigação e teve seu chefe de gabinete alvo de busca e apreensão.

Resumo gerado por IA

A Polícia Federal apontou que o juiz do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) Macário Ramos Júdice Neto foi o possível foco do vazamento de informações sigilosas ao deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil-RJ), presidente afastado da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).


Bacellar, segundo as investigações, teria repassado informações sobre a operação policial ao ex-deputado do Rio de Janeiro Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, que está preso sob suspeita de ligação com o Comando Vermelho.


A decisão da prisão do magistrado foi tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).


Mensagens obtidas em aparelhos apreendidos apontam, segundo a PF, "relação de intimidade entre Rodrigo Bacellar e o desembargador Macário Júdice Neto".


A análise policial diz que isso "chamou a atenção em razão das palavras de afeto e troca de declarações efusivas de carinho, que denotam confiança e lealdade".


Segundo a PF, os diálogos apontam que houve um encontro entre Bacellar e o magistrado em churraascaria no aterro do Flamengo na véspera da Zargun, em 3.set.2025, "permitindo-se concluir que Bacellar e Macário provavelmente estavam juntos quando TH Joias enviava mensagens a Bacellar sobre sua evasão e destruição de provas".


Também são usados outros exemplos de intimidade entre o presidente da Alerj e o magistrado. Em 23.out.2025, por exemplo, as mensagens mostram Bacellar dizendo para Júdice Neto "Vc é irmão de vida" e "Não se desgate por nada pq o melhor não temos irmão que é amizade pra vida e reciprocidade".


Um encontro do juiz com o cantor Belo foi usado como exemplo da relação com o parlamentar.


"A Polícia Federal ressaltou a relação de amizade entre Rodrigo da Silva Bacellar e cantor e artista Marcelo Pires Vieira ("Belo"), inclusive salientando que ambos têm proximidade pessoal com o desembargador", diz trecho da decisão de Moraes.


"Identificou-se, também, mensagem em que o cantor e artista Marcelo Pires Vieira ("Belo") encaminhou mensagem para Rodrigo da Silva Bacellar -em 6/8/2025, às 17h35-, afirmando que encontrou Macário Ramos Júdice Neto em um shopping e enviou uma foto com os dois", afirmou o ministro.


A defesa do juiz federal, por meio do advogado Fernando Augusto Fernandes afirma que "o ministro Alexandre de Moraes foi induzido a erro ao determinar a medida extrema".
Fernandes afirma que apresentará os esclarecimentos nos autos e vai pedir a imediata soltura de Júdice Neto.


Bacellar chegou a ser preso no início de dezembro devido ao caso, mas a Alerj decidiu por sua soltura. Ele pediu licença de seu mandato e só deve voltar em 2026 ao cargo.


Bacellar foi alvo novamente de busca e apreensão na operação desta terça. O chefe de gabinete dele também foi alvo de busca e apreensão em sua residência, em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense.


Em nota, os advogados Daniel Bialski e Roberto Podval, que atuam na defesa de Bacellar, afirmaram que o parlamentar sempre se colocou à disposição para "evidenciar seu não envolvimento nos fatos noticiados, prestando todos os esclarecimentos necessários". Ainda segundo a defesa, ele comunicou à PF seu novo endereço quando prestou depoimento.

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