Pioneirismo: industrialização sustentável para desenvolver o Sertão

Publicado em 27/09/2015, às 08h03

Por Redação

“Pedra” foi o primeiro nome dado ao até então povoado quando foi desmembrado do município de Água Branca no ano de 1938. O lugarejo recebeu esse nome por conta das grandes rochas existentes no lugar, uma das maiores permanece ao lado da estação da Estrada de Ferro da Great Western, no centro da cidade, hoje transformada em museu. 

Depois de alguns contratempos em Recife (PE), onde foi criado, o cearense Delmiro Augusto da Cruz Gouveia chegou à vila formada por poucas casas no ano de 1903. Ali ele conseguiu se estabelecer inicialmente com a venda de couro e peles de caprinos, mas sonhava com a criação de uma fábrica no lugarejo.  No entanto, faltava algo fundamental: energia elétrica para alimentar os maquinários.

Autodidata, Delmiro estudou apenas o ensino fundamental, o que não o impediu de aprender outros idiomas com os estrangeiros que utilizavam a estação ferroviária de Recife e, anos depois, desbravar a Europa. Em uma de suas viagens, ele visitou a Alemanha, onde conheceu dois engenheiros que apresentaram algo inovador para a época: a obtenção de energia elétrica através de água canalizada.

Munido de três geradores, três turbinas e muitas informações trazidas do continente europeu, o visionário empresário viu na cachoeira localizada na divisa de Delmiro com Paulo Afonso (BA), a chance de criar a primeira fonte de energia elétrica do Nordeste, e a segunda do Brasil: A hidrelétrica de Angiquinho.

As obras iniciaram em 1911 e dois anos depois a inauguração aconteceria. Não só da hidrelétrica, mas de uma vila dentro dela de 11 casas e uma escola, onde os funcionários recebiam toda assistência necessária. No ano seguinte, em 1914, a tão sonhada Companhia Agro Fabril Mercantil – ou Fábrica de Linhas Estrela – era inaugurada na Pedra, e com ela, outras casas que abrigariam novos operários. Em pouco tempo a fábrica já exportava para o Peru e Chile.

Inicialmente, mil operários trabalhavam no empreendimento, sob um regime de oito horas diárias de serviço e descanso aos domingos, procedimento inédito naquela época.

COMIDA, DIVERSÃO E ARTE EM PLENO 1911

Foram abertas estradas, construída uma vila operária na cidade e outra dentro de Angiquinho, além de escolas e toda uma estrutura, com água encanada e energia elétrica gratuitas. As casas também possuíam rede de esgoto e as vilas saneamento básico, promovendo desenvolvimento sustentável para toda a região.

Além de estrutura, também chegaram à Pedra o telégrafo, teatro, cinema, banda de música, cassino, farmácia, açougue, chafarizes, feira local sem cobrar imposto e o primeiro automóvel a circular no sertão, o que colaborou para a construção de estradas com subvenção do governo alagoano.

A fábrica Estrela era um modelo para a época a ponto de incomodar os executivos da Machine Cottons, uma poderosa fábrica inglesa.

Considerando a citação do presidente da consultoria Urban Systems, que promove pesquisas ligadas a qualidade de vida de cidades mundo afora, Thomaz Assumpção, cidades inteligentes são aquelas que têm sustentabilidade econômica, promovem a qualidade de vida e preservam o meio ambiente. Mesmo sem saber, Delmiro promoveu o impensável para uma região tão árida de oportunidades: o bem estar de seus moradores.

UM TIRO NO CORAÇÃO

Ao perceber o potencial de Angiquinho, políticos da época passaram a apoiar a criação de outra usina, erguida ao lado da hidrelétrica. No entanto, as obras nunca chegaram ao fim, já que Delmiro foi assassinado antes de concluir a ampliação.

Na noite de 10 de outubro de 1917, tiros foram disparados contra o industrial, quando ele lia jornal na varanda de seu chalé, dentro da vila da Pedra. Ele morreu aos 54 anos nos braços de sua terceira esposa, com um tiro no coração.

Os cangaceiros que atiraram contra Delmiro fugiram sem deixar pistas, deixando um rastro de mistério quanto à autoria intelectual do crime. Três homens chegaram a ser presos e foram condenados, mesmo alegando inocência. Róseo Moraes, José Ignácio "Jacaré" e Antônio Félix receberam absolvição post mortem no ano de 1983, depois que a Justiça entendeu que eles só foram usados como “bodes expiatórios”.

Operários durante expediente, em Angiquinhos

A repercussão da morte de Delmiro ocorreu em todas as esferas da sociedade brasileira. O alagoano Graciliano Ramos escreveu que "algum tempo depois, Gouveia recebeu um tiro de emboscada no coração. [...]. E os cavalos, despertos por Gouveia, adormeceram de novo na cachoeira magnífica, celebrada em prosa, imortalizada em verso, apontada com orgulho, sinal da nossa grandeza".

Diante da inegável contribuição dada não só à região, mas ao país, em 1952 o município que foi mais transformado com as ações do empresário passou a se chamar Delmiro Gouveia, em sua homenagem. A hidrelétrica de Angiquinho foi desativada em 1962, após a inundação da casa de máquinas, e tombada como patrimônio histórico de Alagoas em 2006, tornando-se um sítio arqueológico sob os cuidados da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf).

Angico = árvore da caatinga usada para tingimento de tecidos, encontrada nas pedras que compunham a cachoeira onde foi construída a hidrelétrica.

FONTES

Literatura: 

Delmiro Gouveia e a Educação na Pedra / Edvaldo Francisco do Nascimento / 2014 / Viva

Olhares Sobre o Sertão / Felipe de Paula Souza / 2014 / Mondrongo 

Imagens: Acervo do Museu Angiquinhos

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