Programa russo divulgado por influenciadoras pode ser fachada para tráfico humano; entenda

Publicado em 03/10/2025, às 14h01
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Por O Tempo

MC Thammy, Catherine Bascoy e Aila Loures estão entre as influenciadoras brasileiras que publicaram retratações em suas redes sociais após promoverem o programa russo "Alabuga Start", que pode ser fachada para promover o tráfico humano no país que está em guerra com a Ucrânia. Após divulgarem a proposta como uma chance de intercâmbio com salário garantido, as criadoras de conteúdo removeram publicidades do programa que oferece empregos para mulheres entre 18 e 22 anos na Rússia, para receberem até US$ 680 mensais — R$ 3.643,37, de acordo com a cotação atual.

O caso ganhou repercussão quando o influenciador Guga Figueiredo publicou um vídeo alertando sobre a falta de regulamentação, CNPJ ou telefone de contato da empresa no Brasil. A partir dessa denúncia, descobriu-se que o Programa Start está vinculado à Zona Econômica Especial de Alabuga, na República do Tartaristão, na Rússia.

Nas publicidades, as influenciadoras divulgaram vagas com benefícios como transporte e hospedagem pagos, aulas de russo, seguro médico e documentação de imigração garantida. As oportunidades seriam em setores como hospitalidade, alimentação, logística e produção.

Além de MC Thammy, Catherine Bascoy e Aila Loures, as influenciadoras Raphaela Nogueira e Isabella Duarte também participaram da divulgação e posteriormente se retrataram em suas redes sociais.

Polícia internacional investiga programa

Investigações indicam que a Zona Econômica Especial de Alabuga é um local de fabricação de drones (veículos aéreos não tripulados) de ataque e reconhecimento utilizados pelo serviço militar russo. Embora o programa se apresente como oportunidade de emprego para jovens mulheres da África, Ásia e América Latina, há indícios de que as recrutadas acabam trabalhando na produção de equipamentos militares.

A Associated Press publicou uma reportagem em outubro de 2024 revelando que cerca de 200 mulheres africanas já haviam sido recrutadas pelas redes sociais para trabalhar em fábricas russas. As mulheres eram originárias de países como Uganda, Ruanda, Quênia, Sudão do Sul, Serra Leoa e Nigéria, além do Sri Lanka.

Segundo a investigação, as mulheres só descobriam que trabalhariam na fabricação de armamentos após chegarem ao território russo. Durante o recrutamento, eram informadas apenas que participariam de um programa profissionalizante com cursos de idioma e salário acima da média - promessas semelhantes às que apareciam nos vídeos das influenciadoras brasileiras.

Até o momento, não há informações sobre possíveis investigações das autoridades brasileiras sobre o caso ou medidas contra a empresa ou as influenciadoras envolvidas na divulgação.

Em suas manifestações públicas, as influenciadoras alegaram desconhecimento sobre as verdadeiras atividades da empresa. MC Thammy declarou que jamais apoiaria algo "prejudicial às pessoas" e informou ter devolvido o pagamento recebido: "Devolvi e ativei a equipe jurídica para cuidar do caso e estamos acompanhando tudo de perto".

Catherine Bascoy enfatizou que, "Minha participação se limitou exclusivamente à publicidade contratada, sem qualquer envolvimento com a administração ou a operação da empresa", acrescentando que, "Ao meu ver, tudo parecia estar em conformidade."

Já Aila Loures explicou em vídeo no "Instagram" que, "A publicidade em específico chegou ao meu escritório, passou pelo crivo jurídico do meu escritório, as informações foram completamente averiguadas, teve confirmação da existência da empresa na Rússia".

A Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional divulgou um relatório em maio de 2025 detalhando que as primeiras suspeitas do recrutamento internacional começaram a circular na mídia independente russa em 2023. O documento concluiu que o programa "cumpre várias condições para um caso de tráfico humano".

Os trabalhadores recrutados enfrentam longas jornadas, problemas de saúde devido à exposição a produtos químicos, condições adversas e gestão punitiva, segundo relatórios internacionais. Um relatório de 2024 do Departamento de Estado dos Estados Unidos aponta para a existência de trabalho infantil na construção de drones na Zona Econômica de Alabuga.

A Human Rights Watch indicou que a situação é consistente com outras ações da Rússia no recrutamento de estrangeiros, oferecendo empregos sem explicar completamente sua natureza. Em Botsuana, a Interpol iniciou investigações para verificar o envolvimento da Alabuga Start em tráfico de pessoas."

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