José Nilton Cardozo, 65, tenta desde março retirar um tumor gigante que ocupa quase metade de seu rosto. Agora, após meses de batalha na Justiça do Rio Grande do Norte, a expectativa é de que o marceneiro faça a cirurgia ainda esta semana.
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A filha dele, a advogada Mirnari Cardozo, decidiu entrar com a ação para conseguir o tratamento do pai. Apesar de ser benigno, o tumor de José causa dor intensa, que o deixou incapaz de trabalhar. Para conseguir ficar acordado, ele tem de tomar 18 doses de morfina ao dia: são 3 comprimidos a cada quatro horas.
José convive com tumores desde 2013. O primeiro deles era intracraniano e não chegou a ficar aparente no rosto. Ele teve uma convulsão que o levou ao diagnóstico, mas a doença foi curada com uma cirurgia simples, feita pelo SUS.
Em 2016, ele recebeu um novo diagnóstico, mas demorou a contar para as filhas mais velhas.
Ele tinha uma outra família, com filhas menores, e no início não falou para a gente. Mas o tumor começou a crescer e quando se agravou muito ele contou. Quando nós o levamos para o neurocirurgião, já estava irradiando para a face e não tinha mais a chance de retirada total.
José fez uma segunda cirurgia apenas em 2020, para tirar a porção intracraniana do tumor. Na época, a massa exposta no rosto era discreta e ainda não limitava a vida do marceneiro, que sentia apenas uma leve dormência na região.
"Depois ele fez a radioterapia como uma última medida para estacionar o tumor. Após quase um ano sem crescer, ele começou a avançar. O neurologista nos encaminhou a um especialista em cabeça e pescoço, mas três deles disseram que não era caso de cirurgia, porque ela era mais agressiva do que a lesão", detalha Mirnari.
Meningioma
José tem um meningioma: tumor geralmente benigno que atinge as meninges, membranas que revestem o cérebro. Em alguns casos, a situação não causa sintomas que afetam a vida do paciente mas, para ele, o quadro teve uma reviravolta nos últimos cinco meses, quando o tumor aumentou.
"Hoje ele não faz nada. Só fica em casa, no quarto, tomando remédio — e sente muita dor, que não passa. Ele está tomando 18 [doses de] morfina por dia. E não tem vaga nos hospitais, ele vai e volta. A sorte é que o organismo dele é muito forte", diz a filha.
Falta de material
Segundo a filha, a cirurgia dele está na fila devido à falta de um material necessário para um procedimento pré-operatório.
"48 horas antes da cirurgia, ele precisa fazer uma embolização, que vai fechar os vasos do tumor e evitar uma hemorragia durante a cirurgia. A gente tem um hospital referência em câncer, mas falta o material, que é do SUS", explica Mirnari.
Para entrar com um processo, a advogada chegou a fazer um orçamento do procedimento na rede particular — que deu R$ 143 mil.
"(Na Justiça) O Estado alegou que a gente queria furar fila, que não era tão urgente. Eu solicitei o bloqueio das verbas públicas para fazermos no particular, porque meu pai não poderia esperar, mas o juiz deu uma liminar, pedindo não o valor total do procedimento, mas o do material: R$ 60 mil", conta.
Um médico do Recife chegou a conseguir uma vaga para que José passasse pela embolização no outro Estado. Mas a viagem, que seria complicada para ele, não deve acontecer: o Hospital Universitário Onofre Lopes, ligado à Federal do Rio Grande do Norte e referência no Estado, informou que o material para o procedimento deve chegar ainda esta semana, segundo a filha.
Se tudo correr como esperado, José pode passar pela cirurgia de retirada do tumor no próximo sábado.
"Até lá a luta continua para mantê-lo controlado e com a menor dor possível. Ele tem muita ansiedade, além do mal-estar pelos efeitos colaterais da morfina. Nossos esforços não estão sendo em vão", disse Mirnari.
'Próximos dias'
Procurada pelo UOL, a Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte informou que o procedimento cirúrgico "é de responsabilidade do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL)".
"Em contato com o HUOL, a regulação da pasta enviou os dados necessários para a realização da cirurgia, que por sua vez, aguarda o material específico adaptado para o caso, o qual deverá chegar nos próximos dias do Estado do Piauí", afirmou a nota.
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