O conselho de administração da Renault aprovou, na manhã desta segunda (27), a abertura das negociações para uma possível fusão com o grupo Fiat-Chrysler (FCA).
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A montadora ítalo-americana apresentou uma proposta de fusão com a francesa Renault que pode criar a terceira maior montadora do mundo, com 8,7 milhões de veículos vendidos no mundo por ano.
Cada metade do novo grupo seria detida pelas respectivas empresas. As ações seriam cotadas em Nova York e em Milão.
Se a proposta seguir adiante, a aliança de mais de US$ 35 bilhões (R$ 141 bilhões) vai alterar o cenário do mercado para rivais como General Motors e PSA (Citroën e Peugeot).
A Renault disse estudar a proposta com interesse e que considera amigável a oferta amigável. As ações da FCA subiram 8%, e as da Renault, 12%.
"O amplo e complementar portfólio das duas marcas forneceria uma cobertura completa do mercado, do luxo ao 'mainstream'", disse a FCA no comunicado. A fusão não levará ao fechamento de fábricas, afirmou a Fiat.
Em comunicado divulgado após uma reunião extraordinária, o conselho de administração da Renault disse que está "estudando com interesse" a proposta.
Segundo o jornal Le Monde, a operação pode receber o sinal verde definitivo dos franceses já na primeira quinzena de junho.
Nesta segunda (27), informou o Figaro, todos os membros do conselho votaram pelo início das conversas, com a exceção de um representante sindicalista, que se absteve.
O vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, classificou a junção de forças como brilhante, desde que proteja postos de trabalho no país de origem da Fiat.
Como o governo francês possui 15% das ações da Renault, existe a expectativa de que o Executivo italiano busque adquirir alguma participação na nova empresa.
Paris também demonstra entusiasmo pelo cenário, mas quer preservar, além dos empregos franceses, sua influência na tomada de decisões.
Em paralelo, pretende acoplar ao combo Renault-FCA a aliança da primeira com as japonesas Nissan e Mitsubishi, em banho-maria há seis meses por causa da prisão no Japão de Carlos Ghosn. O ex-presidednte-executivo do conglomerado, que tem nacionalidades brasileira, francesa e libanesa, é acusado de corrupção e má conduta financeira. Ele nega.
Se as empresas asiáticas aderissem à sociedade agora em discussão, o mastodonte resultante seria o maior produtor de automóveis do mundo, com cerca de 15 milhões de unidades por ano, à frente de Volkswagen e Toyota.
A sinergia representaria uma economia de € 5 bilhões (R$ 22,5 bilhões) para os cofres das duas empresas.
Antes da fusão com participação igualitária de lado a lado, os acionistas da FCA receberiam dividendos da ordem de € 2,5 bilhões (R$ 11,3 bilhões), já que a cotação de mercado da ítalo-americana é superior à da francesa.
A holding a ser criada na Holanda seria presidida por John Elkann, da Fiat, enquanto Jean-Dominique Senard, que substituiu Ghosn na Renault, faria as vezes de diretor-executivo.
Analistas alertam para complicações, incluindo a aliança atual da Renault com a Nissan, o papel do governo francês, que é o maior acionista da Renault, e potencial oposição de políticos e trabalhadores a cortes de custos.
"O mercado vai avaliar com cuidado as sinergias apresentadas, uma vez que muito já foi prometido antes e não houve uma única fusão de iguais no setor que já tenha sido bem-sucedida", disse o analista Arndt Ellinghorst, da Evercore ISI.
No Brasil, a fusão reforçará posição de liderança de vendas do grupo FCA, à frente de GM e Volks. De janeiro a abril, as vendas de carros e comerciais leves da FCA somaram 148,4 mil unidades, ante 144,4 mil da GM e 116 mil do grupo alemão, segundo a Fenabrave (associação de concessionários).
Já a Renault, quarta maior no mercado brasileiro, adicionaria na conta da FCA mais 70,5 mil unidades vendidas no primeiro quadrimestre.
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