Há exatamente duas semanas uma jovem moradora da Taquara, zona oeste do Rio, saiu de casa para ir a um baile funk no morro da Barão. Dois dias depois, foi vítima de um estupro coletivo no alto da comunidade. A violação do corpo da vítima foi registrada em vídeo e foto, e divulgada em redes sociais. O crime chocou o país e teve repercussão internacional. O R7 refaz os passos da investigação até agora e aponta o que falta ser explicado sobre o caso.
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20/05 - A adolescente sai de casa em direção ao morro da Barão para um baile funk. Após a festa, dorme com Lucas Perdomo dos Santos, um “ficante”, e passa o sábado (21) acompanhada dele.
22/05 - A menina vai a uma casa com um casal de amigos e outro rapaz e diz que acorda algumas horas depois em uma outra residência, abandonada, chamada de “abatedouro” pelos moradores. Ela acredita que alguém colocou alguma droga em seu nariz ou boca, porque não lembra do momento em que teria dormido. No momento em que a vítima desperta, quatro homens estão sobre o seu corpo. No local, cerca de outros 30, portando fuzis e armas, riem e xingam a menina. Depois de acordada, passa cerca de 10 minutos sendo vítima de violência sexual.
Um amigo da vítima entra no local, aos gritos, e a retira dali. Vestida com uma roupa masculina, ela sai do local. Ainda não há esclarecimentos sobre o que acontece com a menina entre a manhã de domingo, quando foi resgatada, e a tarde de segunda, quando ela chega em casa.
23/05 - A jovem chega à casa em que mora com os pais, o irmão e o filho, em um condomínio de classe média, vestida com as roupas masculinas e sem o telefone celular.
24/05 - Ela sai de casa em direção ao morro da Barão para tentar recuperar o celular. Na comunidade, a adolescente descobre que aparece desacordada e nua em um vídeo de cerca de 40 segundos. Nas imagens, um homem toca suas partes íntimas e outro diz a frase “Mais de 30 engravidou”, em alusão a uma música de MC Smith. Ainda é possível ouvir a risada de uma terceira pessoa no vídeo.
25/05: Os usuários “juninhopierre” e “michelbrasil7” divulgam no Twitter as imagens. Em uma imagem congelada do vídeo, o primeiro diz: “Amassaram a mina, entendeu ou não entendeu?”. Na foto publicada por “michelbrasil7” é possível ver um homem ao lado da vítima desacordada e as suas partes íntimas expostas, com a legenda:“Estado do Rio de Janeiro inaugura o novo túnel para a passagem do trem bala do Marreta”. Marreta é um dos traficantes mais importantes da maior facção criminosa do Estado, e foi preso em dezembro de 2014.
O Ministério Público do Rio de Janeiro recebe cerca de 800 denúncias em relação à divulgação das imagens.
A adolescente é levada para casa por um homem que se identifica como agente comunitário. Ele diz que a levou para casa depois que viu a repercussão do vídeo e a encontrou “mal” pela comunidade. Ainda não há informações sobre o local em que a vítima passou a madrugada de quarta.
A Polícia Civil identifica os dois suspeitos de divulgarem os vídeos: Marcelo Correa, de 18 anos, e Michel Brazil, de 20 anos.
26/05: A vítima depõe na Polícia Civil e faz exames no Instituto Médico Legal. Ela relata sentir fortes dores no útero e se declara usuária de drogas como ecstasy e “cheirinho da loló”, mas ressalta que não fazia uso há um mês.
A DRCI (Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática), do delegado Alessandro Thiers, assume o caso.
27/05: A Polícia Civil divulga o nome de dois homens envolvidos no estupro: o jogador de futebol e "ficante" da vítima, Lucas, de 20 anos, e Raphael Assis Belo, de 41 anos. Raphael é o homem que aparece em uma selfie ao lado da vítima e levou ela em casa, se passando por agente comunitário.
Alessandro Thiers diz não poder afirmar a existência do estupro. A delegada Cristiana Bento, da DCAV (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima) passa a acompanhar as investigações.
Lucas e a vítima depõem na Polícia Civil. Raí de Souza, de 22 anos, que até então não tinha aparecido nas investigações, também dá sua versão dos fatos. Lucas afirma em depoimento que não tem relacionamento com a adolescente, e que na noite do crime transou com outra garota. Raí diz ter feito sexo consensual com a adolescente de 16 anos e assume a autoria do vídeo. Ao entrar na delegacia para depor, Raí sorri e acena para as fotos.
A adolescente vítima do estupro se diz constrangida com a forma com que Alessandro Thiers conduz o depoimento. Acompanhado da namorada, ele expõe as fotos e vídeos da investigação à adolescente e pede “conta aí”. Na sala, outros dois inspetores acompanham a oitiva, mesmo com a reclamação inicial da jovem de “ter muito homem na sala”. Thiers questiona se a jovem tinha hábito de fazer sexo em grupo e se foi cooptada pelo tráfico de drogas.
28/05: O caso de estupro coletivo ganha repercussão internacional. A vítima recebe manifestação de apoio nas redes sociais com a campanha “Eu luto pelo fim da cultura do estupro”.
A advogada da adolescente, Eloisa Samy Santiago, pede ao Ministério Público afastamento do de Thiers do caso, por postura machista e criminalização da vítima.
A Polícia Militar faz operação no morro da Barão e localiza a casa em que a jovem foi violentada.
OAB-RJ passa a acompanhar investigação após críticas ao delegado Alessandro Thiers.
29/05: Após críticas, o chefe da Polícia Civil transfere para a DCAV a investigação do caso e da divulgação das imagens.
A família da adolescente entra para o Programa de Proteção à Criança e Adolescente Ameaçados de Morte e dispensa Eloisa Samy
30/05: A delegada Cristiana Bento pede a prisão de seis envolvidos no estupro. Além de Michel, Marcelo, Lucas, Raí e Raphael, também devem ser presos Sergio Luiz da Silva Junior, o da Russa, chefe do tráfico no morro da Barão.
Laudo preliminar do IML não aponta indícios de violência física e sexual contra a adolescente. A titular da DCAV confirma que o vídeo divulgado nas redes sociais é prova suficiente para confirmar que houve estupro e diz querer saber qual a extensão do crime e quantas pessoas participaram.
Ministério Público Federal abre procedimento para investigar a divulgação e compartilhamento das imagens.
Acompanhada da mãe, do pai, do irmão, do filho de três anos e da avó, a adolescente deixa o Rio de Janeiro após ameaça do tráfico de drogas.
30/05: Raí se apresenta à DCAV e Lucas é preso em um restaurante, antes de uma “entrevista coletiva”. Parentes e amigos de Raí fazem protesto contra a vítima de estupro.
O time Boavista, em que Lucas atuava, suspende o contrato com o suspeito.
31/05: O advogado de Raí aponta um homem identificado como Jefinho como autor das imagens, mas confirma que o vídeo foi gravado no celular do seu cliente.
Raphael Belo divulga carta em que pede desculpa à vítima e a todas as mulheres. Ele confirma que foi o responsável por levar a jovem em casa e conta que não teve conjunção carnal com a vítima. O suspeito diz se arrepender de ter “zombado de alguém naquele estado”.
1º de junho: Raphael Belo se entrega à polícia por não querer “viver fugindo de algo que não fez”.
Uma amiga da adolescente se apresenta à polícia, acompanhada do advogado de Lucas, e mostra mensagens em que a vítima nega participação do jogador no crime.
Ministério Público ordena que Corregedoria da Polícia Civil investigue postura de Thiers durante os três dias que ele conduziu as investigações sobre o caso.
Cristiana Bento diz acreditar que a saída da adolescente do Estado é o melhor para a sua segurança mas lamenta a dificuldade de investigação.
02/06: Raí e Lucas são transferidos para Bangu 10. Raphael Belo permanece na Cidade da Polícia para prestar esclarecimentos.
Cristiana Bento afirma que depoimento de Raphael ajuda a esclarecer investigação. A delegada pede a liberdade de Lucas Perdomo por não acreditar que seja necessária a prisão dele, mas o mantém como envolvido no crime.
A Polícia Civil pede a prisão de mais dois suspeitos: Jefinho, apontado como autor do vídeo, e Moisés, conhecido como Canário, identificado pela adolescente como um dos quatro homens que estavam em cima dela no momento em que acordou
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