A recente campanha das Havaianas estrelada por Fernanda Torres dominou o debate publicitário no Brasil nos últimos dias. Amplamente comentada nas redes sociais e no mercado, a peça gerou discussões sobre interpretação de mensagem, possíveis leituras políticas e riscos de recepção. O episódio reacendeu um alerta no setor: comunicar sem testar pode custar caro.
LEIA TAMBÉM
É justamente para evitar esse tipo de ruído que o Governo de Alagoas vem adotando um método ainda pouco usual na publicidade institucional: testar campanhas antes de colocá-las no ar. Na manhã desta terça-feira (23), a Secretaria de Estado da Comunicação realizou mais uma rodada de pesquisa qualitativa com especialistas para avaliar uma campanha de segurança pública prevista para veiculação na primeira quinzena de janeiro. A iniciativa integra um protocolo adotado na gestão do governador Paulo Dantas, que prioriza a análise prévia dos efeitos da mensagem sobre diferentes públicos.

De acordo com a Secom, conforme a natureza de cada campanha, o processo pode envolver escutas com a população, análises técnicas com especialistas e, em casos específicos, avaliações baseadas em fundamentos da neurociência. A lógica é antecipar reações, ajustar a narrativa e reduzir riscos antes da veiculação.
Convidado para a análise, o publicitário Herman Fernandes destacou a importância do olhar externo no processo criativo. Segundo ele, a pesquisa qualitativa com especialistas fortalece a publicidade governamental ao evitar distorções de leitura. “Quem está muito envolvido na criação nem sempre percebe todos os impactos da mensagem. A pesquisa ajuda justamente a eliminar pontos cegos”, observou.
O empresário do setor audiovisual Marcos Damascena também ressaltou o valor do método. Para ele, a escuta técnica permite refinar a narrativa e encontrar soluções mais eficazes antes da campanha ir ao ar. “É uma oportunidade de contar a mesma história de forma ainda mais precisa e responsável”, afirmou.
À frente da Secretaria de Comunicação, o secretário Wendel Palhares reforçou que a preocupação do Governo vai além da estética ou da qualidade técnica das peças publicitárias. “A comunicação pública não pode errar por descuido. Testar e retestar é uma forma de respeito ao cidadão. Comunicação clara, precisa e responsável também é um direito”, disse.

A psicóloga social e especialista em neurociência Mad Honorato, que coordenou a pesquisa, explicou que o ambiente de avaliação é estruturado para estimular contribuições técnicas e colaborativas. “É um espaço seguro, onde a crítica não é pessoal. O foco é melhorar o material que chega à casa e ao celular de cada cidadão”, explicou.
Com a institucionalização desse modelo de validação prévia, a Secretaria de Comunicação de Alagoas consolida uma prática inovadora no campo da comunicação pública. Em um cenário de alta sensibilidade social e interpretações rápidas, antecipar riscos deixou de ser opção e passou a ser método.