Sequência de erros causou tragédia com o avião da Chapecoense

Publicado em 30/11/2016, às 12h32

Por Redação

A delegação do clube de futebol Chapecoense deveria chegar à Colômbia na tarde de segunda-feira (28), horário local, saindo de São Paulo em um Airbus 320 fretado e, sem autorização oficial para o voo direto, teve que parar em Santa Cruz de La Sierra (Bolívia) e, lá, embarcar em um avião que, sabe-se agora, tem um alcance de voo limitado.

Ali começou a terrível sequência de erros que terminou com um acidente de avião que matou 75 pessoas deixou seis sobreviventes, e o mundo do esporte e do jornalismo de luto.

Aviões como o Airbus 320, como o que a Chapecoense não pôde contratar para viajar para a cidade colombiana de Medellín, saindo do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, têm uma autonomia de voo de mais de sete horas.

A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) do Brasil não autorizou a saída do Airbus para fazer o trajeto direto para Medellín, o que obrigou a delegação a usar um plano B.

A mesma aeronave levou o grupo para Santa Cruz de La Sierra, para fretar um voo charter da Lamia (Airline Merida Internacional de Aviação), sociedade anônima com capital venezuelana criada em 2009 no estado de Mérida, mas que opera a partir da Bolívia.

As leis aeronáuticas determinam que voos particulares devem ter matrícula no país de onde se parte ou no de destino.

Horas mais tarde, os passageiros partiram do Aeroporto Internacional Viru Viru, em Santa Cruz.

A viagem durou cerca de quatro horas e a delegação deveria chegar ao destino antes da meia-noite, no avião da empresa Lamia, um RJ100 fabricado nos anos 90, chamado por essa sigla em referência ao termo “Regional Jet”, ou seja, criado para cobrir distâncias curtas.

O avião estava sob o comando do capitão Miguel Quiroga, proprietário da empresa charter, que transportou 18 dias antes a seleção da Argentina de Belo Horizonte para Buenos Aires, depois da partida das eliminatórias da Copa do Mundo da Rússia de 2018.

Especialistas em segurança aeroportuária ouvidos pela EFE fizeram todo esse relato detalhado, mas não explicaram por que a aeronave foi contratada para cobrir a distância de 2.265 quilômetros que separam Santa Cruz de La Sierra do aeroporto Jose Maria Cordova, em Medellin.

Essa distância é quase o total de autonomia de voo de um avião tipo RJ, como o que caiu às 22h de segunda-feira (horário local) a poucos quilômetros do destino, na colina El Gordo.

As fontes consultadas lembram que vinte anos atrás aviões como estes foram devolvidas ao fabricante pela companhia aérea extinta SAM (Aeronautical Society de Medellín).

Até então, os diretores da SAM, que em 2010 fundiu-se com a Avianca, argumentam que eram de baixo desempenho. "Os protocolos de segurança aeronáutica determinam que uma aeronave deve ter combustível suficiente para chegar ao seu destino, mas também para suportar uma eventual espera ou ainda ir até aeroportos alternativos, no caso de uma emergência", disse à EFE um diretor da Aeronáutica Civil da Colômbia.

Outro fator da sequência de erros que terminou com a morte de sete dos nove tripulantes e 68 dos 72 passageiros do avião de matrícula Lamia CP2933, foi que na mesma hora que o avião se aproximava do seu destino, houve uma emergência no aeroporto Rionegro.

Um Airbus 320, o mesmo negado os brasileiros irem cumprir o seu compromisso com o Atlético Nacional, na primeira partida da final da Copa Sulamericana, recebeu prioridade para aterrisar por conta de um vazamento de combustível.

Enquanto isso, o RJ85 de Lamia, que estava apenas com o combustível suficiente, ficou em estado de espera, no qual a aeronave se move em um raio definido até receber a ordem para aterrisar ou seguir para um aeroporto nas proximidades.

Especialistas também afirmaram que o piloto deveria ter informado imediatamente à torre sobre sua situação, e pedir a rota mais rápida para o aeroporto de destino.

Mas o desconhecimento da situação pelos controladores foi total. Eles nunca receberam a declaração de emergência.

Sem combustível, problemas elétricos foram gerados porque os geradores foram desligados. Isso explica por que o avião não explodiu quando colidiu com o monte El Gordo.

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