Usar o 13º para reforma exige cuidados para escapar das dívidas

Publicado em 29/11/2025, às 09h08
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Por Júlia Galvão/Folhapress

A família Climaco, na Vila Natal, São Paulo, decidiu utilizar o 13º salário para reformar sua casa e construir novas moradias, visando acomodar a avó e gerar renda extra no futuro. A obra, que começou de forma improvisada, reflete a necessidade de espaço e melhorias estruturais na residência.

A falta de um projeto formal e planejamento adequado pode resultar em custos adicionais, com especialistas alertando que retrabalhos podem aumentar o valor da reforma em até 20%. Consultores financeiros recomendam cautela ao usar o 13º salário, sugerindo que até 60% do valor seja destinado à reforma, enquanto o restante deve ser reservado para imprevistos.

Os especialistas aconselham que reformas sejam iniciadas pela infraestrutura e que a execução seja planejada para evitar gastos desnecessários. A família Climaco espera concluir a obra em três meses, enquanto avalia a melhor forma de equilibrar as despesas com as obrigações financeiras do início do ano.

Resumo gerado por IA

Na casa da família Climaco, na Vila Natal, zona sul de São Paulo, o 13° salário já está reservado: vai direto para a reforma. Pela primeira vez, os dois filhos que trabalham com carteira assinada decidiram usar o benefício para ajudar os pais a continuarem a construção de quatro casas no terreno onde moram há duas décadas.

A ideia é terminar uma construção que começou em julho de forma improvisada. A mãe, Vanilde Climaco da Silva, 55, conhecida como Vanda, explica que a necessidade surgiu porque a casa vai ganhar mais uma moradora, sua mãe, mas não tem um quarto disponível. Eles aproveitaram a situação para reparar também vazamentos na laje.

Sem projeto formal e com o dinheiro entrando aos poucos, o pai e marceneiro, Arnaldo Tomas da Silva, 55, decidiu tocar tudo de uma vez. A obra avançou porque Arnaldo conseguiu pegar serviços bons entre julho e setembro. O pedreiro é o vizinho, que cobra um preço mais em conta. Ainda assim, faltou um orçamento fechado, que especialistas apontam como um dos pontos principais para reformas.

"O erro mais comum, e praticamente universal, é começar sem projeto", afirma a arquiteta Cristiane Schiavoni. Ela diz que pesquisas apontam que o retrabalho pode representar mais de 20% do valor da obra quando não há planejamento prévio.

A expectativa é que a principal parte da obra dos Climaco fique pronta em cerca de três meses, e eles já pensam na renda extra que as casas vão gerar. Allan, um dos filhos, diz que vê a estratégia da família como investimento para o futuro, como forma de criar um patrimônio próprio.

CUIDADOS COM ENDIVIDAMENTO

O consultor financeiro Renan Diego diz que usar o 13º numa reforma pode ser um bom investimento, principalmente quando aumenta o valor do imóvel, seja em manutenção estrutural, troca de instalações elétricas e hidráulicas, cozinha ou banheiro. Segundo ele, essas melhorias valorizam o patrimônio e podem evitar gastos maiores no futuro.

Ele adiciona, no entanto, que isso deve ser feito preferencialmente quando é possível concluir o pagamento à vista, sem parcelamentos com juros.

Outro risco que deve ser evitado é competir com as despesas tradicionais do início do ano. Diego alerta que parcelas começam a vencer em janeiro junto com IPTU, IPVA, matrícula escolar e outras despesas sazonais, gastos que podem virar uma bola de neve e dificultar a organização financeira.

O planejador financeiro Ivan Vianna, certificado CFP pela Planejar, recomenda usar no máximo 60% do 13º para a reforma, reservando entre 10% e 20% para imprevistos.

Renan Diego adiciona que, caso haja parcelamentos, o limite seguro depende de três fatores principais: o percentual da renda comprometida, a duração das parcelas e o calendário de despesas fixas do início do ano. A soma de todas as parcelas, seja do cartão ou de serviços da reforma, não deve passar de 20% da renda líquida.

Ele diz ainda que as parcelas muito longas, como de 10, 12 ou mais vezes, devem ser evitadas, pois atravessam quase o ano todo e também tendem a reduzir a capacidade de poupança.

POR ONDE COMEÇAR?

Para quem precisa dividir a obra em etapas, Cristiane Schiavoni sugere começar sempre pela infraestrutura: infiltrações, vazamentos e parte elétrica, por exemplo. "É importante entender que o projeto, nessa fase, não se concentra nos acabamentos, mas na definição exata do que será feito. A cor da parede importa, claro, mas ela não pode vir antes de sabermos onde ficarão os equipamentos e como será distribuída a casa."

Depois vêm os banheiros, que são locais de muita sujeira, entulho e alto uso de água. "Reformar um banheiro depois que o restante da casa está pronto é extremamente incômodo, especialmente se o morador já estiver vivendo no imóvel", afirma a arquiteta.

Em seguida, ela recomenda as áreas molhadas, como a cozinha, que têm grande complexidade por envolver hidráulica, elétrica, instalação de equipamentos específicos e revestimentos que exigem precisão. Por último vêm os ambientes secos, como salas e quartos, que têm intervenções mais simples.

REFORMO DE UMA VEZ OU DIVIDO EM PARTES?

Segundo Renan Diego, é necessário avaliar diferentes pontos sobre a situação financeira da família para essa decisão. Se a reforma resolve problemas urgentes, como infiltração, risco elétrico ou vazamento, adiar pode sair ainda mais caro. Nesses casos, se o 13º salário não fizer falta no planejamento das finanças, é recomendado realizar a reforma assim que o benefício for concedido.

Já se são melhorias puramente estéticas ou sem urgência, dividir por etapas reduz a pressão financeira. Nesse cenário, é possível utilizar a bonificação como uma reserva para futuramente realizar a reforma sem correr riscos.

COMO EVITAR GASTOS DESNECESSÁRIOS?

Ivan Vianna diz que entre as estratégias estão:
Definir um valor máximo antes de iniciar a obra (já considerando os imprevistos); Criar uma planilha com categorias (materiais, mão de obra, acabamentos, transporte, pequenos reparos); Validar o orçamento com ao menos três fornecedores diferentes; Estabelecer um checklist semanal de avanço e custos atualizados.

POSSO EQUILIBRAR A REFORMA COM INVESTIMENTOS?

Vianna diz que, para quem deseja reformar sem abandonar os investimentos, o equilíbrio vem com a divisão de aportes.

Um caminho possível é reservar uma parcela específica do 13º para a reforma, de 10% a 20% como reserva de contingência, e o restante para investimentos de curto ou médio prazo, como: Tesouro Selic, CDBs com liquidez diária e fundos referenciados DI com liquidez diária.

Para quem já tem perfil e horizonte maior, fundos imobiliários ou ações também podem ser opções, de acordo com o especialista.

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