Veja quatro dicas para passar o Natal e o Ano Novo sozinho e feliz

Eu passei o último Natal sozinha. O voo de São Paulo para a cidade da minha família, na Bahia, estava com preço muito alto. E, sinceramente, as festividades de fim de ano não são tão divertidas em famílias de pais separados que não se falam.

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Já havia me questionado como seria não precisar equilibrar os diversos pratinhos da convivência familiar nessa época do ano e, apesar de ter parentes na capital paulista, decidi que queria testar ficar sozinha pela primeira vez. Fiquei em casa e celebrei o período do meu próprio jeito. E foi bom.

Neste ano, voltarei a passar o Natal em família. Se você, por qualquer motivo, precisar ou quiser passar a data sozinho, aqui vão algumas dicas de especialistas de como fazer com que o dia seja o melhor possível.

O primeiro passo é entender que o conceito de felicidade nas comemorações de Natal e Ano Novo é socialmente construído. Segundo a psicóloga Cristiana Medeiros, da UFC (Universidade Federal do Ceará), a indústria cultural e a globalização transformam a proposta religiosa e comunitária em "celebrações idealizadas e planificadas de um suposto bem-viver".

"Muitas comunidades rurais ou mais distantes dos grandes centros urbanos vivem um dia atrás do outro, como a sucessão natural do tempo. A ideia do Papai Noel, com seus presentes e promessas, não chega a ser uma possibilidade", diz Medeiros. "Nem o estouro dos fogos de artifícios é opção para atrasar a noite que antecede um dia madrugador de trabalho. Esse retrato mostra claramente que há muitos modos, todos lícitos, de se passar por essas datas festivas."

Para a psicóloga, ter um bom momento de Natal ou Ano Novo sem companhia depende mais da intimidade consigo mesmo do que da presença de outras pessoas.

"Se sou capaz, em dias comuns, de achar abrigo e satisfação na vida cotidiana, aproveitando pequenas epifanias espalhadas no viver, já estou apta a encarar um momento solo que não seja solidão", diz.

FAÇA UM DETOX DAS REDES SOCIAIS

Para lidar com as expectativas sobre como deveria ser a comemoração, a pesquisadora de felicidade Renata Rivetti recomenda abandonar as redes sociais nesses dias. "As pessoas postam muito, e essa comparação social é uma das maiores causas de infelicidade", afirma.
Segundo Medeiros, ficar sozinho pode até ser uma forma de respeito consigo próprio.

"Existem vínculos tão adoecidos e nocivos que o distanciamento pode ser a escolha mais saudável", diz.

PLANEJE UM DIA PRAZEROSO, COM AUTOCUIDADO

Organizar o dia com atividades que ofereçam conforto emocional ajuda a transformar a data em um momento de cuidado. Cozinhar algo especial, assistir a um filme ou montar uma playlist podem criar um ambiente íntimo e acolhedor.

Rivetti sugere incluir passeios que tragam leveza, como ir ao parque ou fazer uma atividade cultural. Medeiros destaca que pequenos rituais ajudam a acessar um abrigo interno justamente quando o entorno impõe expectativas exageradas. Comprar um presente simbólico para si mesmo pode ser um desses rituais.

"Tente organizar o dia para não ficar simplesmente intoxicada em redes sociais, muitas vezes se comparando com outras pessoas", diz Rivetti.

FAÇA UM INVENTÁRIO DO ANO QUE PASSOU

Olhar para o ano com compaixão, como propõe Rivetti, reduz o impacto da "felicidade de massa" mencionada por Medeiros.

A reflexão deve ir além de metas: envolve observar valores, relações e quem você se tornou ao longo do caminho. "Quando a gente fala em felicidade, tem muito mais a ver com a jornada do que com a chegada. Esse é o momento de parar e refletir", afirma Rivetti.

Medeiros acrescenta que essa pode ser uma boa hora para entender o que está atravancando suas relações afetivas —percebendo se o afastamento de algumas pessoas é cuidado pontual ou fuga recorrente. Ignorar dores profundas tende a cobrar um preço emocional, diz, enquanto reconhecer limites é um gesto de respeito consigo.

SONHE O ANO SEGUINTE COM INTENCIONALIDADE

O exercício do "best possible self" (melhor versão possível de si, em português) também é uma opção para os dias festivos, diz Rivetti. A ideia é planejar o próximo ano a partir do sonho, imaginando o melhor futuro possível.

"Não é pensar em metas práticas ou um planejamento estruturado, mas em quem eu quero ser e aonde quero chegar, permitindo-me sonhar com grandeza", afirma.

Medeiros reforça que assumir qualquer escolha —inclusive a de estar só exige responsabilidade e autoconhecimento capazes de iluminar partes internas que costumam ficar escondidas. Dessa combinação surgem decisões mais livres e significativas.

No Natal do ano passado, minhas escolhas foram ir ao mercado comprar minhas comidas preferidas, abrir um bom vinho, arrumar a casa, ler um livro, escrever sobre o ano que passou e fazer chamadas de vídeo com amigos e familiares. Mesmo sem as dicas, preferi limitar para quem contaria que passaria a data sozinha e sair das redes sociais, o que fez com que a pressão pela reunião diminuísse.

Para quem vai passar as festividades sozinho: um Feliz Natal e um próspero Ano Novo —do jeito que você quiser que seja, ou do jeito que você puder passá-los.