Futebol Internacional

Transcarpátia bate o Chipre do Norte nos pênaltis e é campeã da Copa do Mundo 2018; entenda

18/06/18 - 17h05
Dmitry Kostyukov/The New York Times

Dezesseis equipes de futebol vindas de lugares geralmente excluídos da diplomacia e das atividades esportivas internacionais, entre elas Tibete, Tamil Eelam, Cascádia e Matabeleland, aproveitaram a oportunidade de disputar uma Copa do Mundo alternativa na capital britânica.

Vindas de regiões que não são reconhecidas como países pela maior parte do mundo, as seleções não podem participar da Copa do Mundo da FIFA.

“Com a nossa participação, podemos trazer visibilidade internacional para o nosso povo e nossa causa", disse Ferhat Mehenni, presidente do governo provisório da Cabília, região das Montanhas Atlas, na Argélia.

Antes do campeonato, os atletas da sua seleção de cabilas e suas famílias foram alvo de intimidação por parte das autoridades argelinas, disse Mehenni, falando da França, onde vive no exílio.

Per Anders Blind, presidente da Confederação de Associações de Futebol independentes, ou Conifa, disse que a ideia era um campeonato centrado nas partidas, e não em questões políticas. Mas ele disse que isso é difícil quando muitos dos atletas e torcedores anseiam pelo dia em que suas regiões serão reconhecidas pela comunidade internacional.

“É claro que o campeonato envolve controvérsias", disse ele. “Somos todos azarões.”

O campeonato desse ano, terceira edição do torneio, foi realizado nos arredores de Londres.

A Conifa tem 47 membros, que vão de regiões com governos plenamente operacionais, como o Curdistão iraquiano, até aqueles que buscam chamar atenção para sua luta política, como os ciganos Roma e os coreanos do Japão. Delvidek (húngaros da Sérvia), Groenlândia, Brava (na Somália) e a República Popular de Donetsk são membros. Cascádia é um país proposto que inclui a Costa Noroeste dos Estados Unidos, Pacífico, e partes do Canadá. Tamil Eelam é formado pelas áreas de maioria tâmil no Sri Lanka. Matabeleland fica no Zimbábue.

A primeira Copa do Mundo da Conifa foi disputada em 2014 no norte da Suécia, em Ostersund - não muito longe de onde pastavam as ancestrais renas da família de Blind, pertencente à minoria indígena sueca Sami.

Para os jogos de 2016, a República da Abcásia, região separatista da Geórgia, ofereceu o melhor de sua hospitalidade. Para um país reconhecido apenas pela Rússia e um punhado de outros, organizar um evento esportivo se tornou uma maneira importante de defender a causa da independência. Em 2011, o reconhecimento da Abcásia por parte da Federação Mundial de Dominós foi visto pelos políticos locais como um marco - na capital proposta para o país, Sukhumi, há muitos seguidores do jogo.

Na cerimônia de abertura da Conifa deste ano, realizada no estádio do Bromley FC, torcedores locais assistiam nas arquibancadas ao lado de uma curiosa mistura global de diásporas, e até alguns cientistas políticos. Muitos do público tinham críticas contra a FIFA, organização oficialmente responsável pelo futebol mundial, que se defende de acusações de corrupção até da escolha da Rússia como sede da Copa do Mundo de 2018.

Alexandr Kogonia, 22 anos, volante da seleção da Abcásia, disse que o número de torcedores na Abcásia tinha aumentado desde o campeonato anterior, e jogar em Londres ajudava a aumentar a visibilidade por meio do esporte.

Na partida final, disputada no dia 9 de junho, a Transcarpátia, que representa uma minoria de idioma húngaro na Ucrânia Ocidental, derrotou o Chipre do Norte, país reconhecido apenas pela Turquia, numa disputa de pênaltis após empate em 0 a 0.

A campeã Abcásia foi derrotada numa rodada anterior. Mas a lembrança do título de 2016 ainda retinha seu brilho para Boris Adleyba, 25 anos, estudante da Abcásia que mora atualmente em Moscou e viajou a Londres para torcer pela seleção. “Na Abcásia, as pessoas dizem que a Copa de 2016 foi um dos acontecimentos mais felizes desde 1992", disse ele. Esse foi o ano em que a Abcásia iniciou sua guerra contra a Geórgia.