Contextualizando

A chance de ouro para Lula recuperar apoios políticos e popularidade

Em 11 de Julho de 2025 às 17:50

Jornalista Eliane Cantanhêde:

"Com sua megalomania, impulsividade e imprevisibilidade, Donald Trump deu a tudo o que ele precisava para recuperar apoio político e popularidade: um inimigo externo e um discurso. Um discurso catalisador, resumido no slogan que o Planalto produziu, mas terceirizou para seus militantes e aliados massificarem nas redes sociais: 'Lula quer taxar os super ricos, Bolsonaro taxa o Brasil'.

É assim que Lula tenta sair das cordas, unindo a perigosa, mas eficaz, bandeira do 'pobres contra ricos' com o sempre conveniente nacionalismo, que costuma quebrar o maior galho para governantes sob pressão. O venezuelano Hugo Chávez era craque nisso, mas é apenas um pequeno exemplo no meio da multidão que usava e usa esse recurso quando a política interna esquenta e as pesquisas trazem más notícias.

Se Lula recorre à 'soberania', o bolsonarismo tenta, a duras penas, e sem bons resultados até agora, usar a 'democracia'. A diferença, porém, é abissal. A agressão do império às instituições, à democracia e à economia – e, portanto, à soberania nacional– é real, palpável. Já a alegação de Trump de que há censura, ameaça à livre expressão e 'caça às bruxas' no Brasil é tão mentirosa quanto a própria 'carta' de Trump para anunciar tarifas de 50% a todos os produtos brasileiros.

No texto, ele justificou o tarifaço com 'esses déficits comerciais insustentáveis' que o Brasil causaria aos EUA, mas é o oposto! O Brasil teve um déficit de US$ 400 bilhões com os EUA em quinze anos, e oito dos dez produtos americanos exportados para o Brasil chegam aqui com... tarifa zero. Além de mentirosa, malcriada, grosseira e cheia de erros, a carta foi divulgada antes de chegar ao destinatário -- o presidente do Brasil. É algo impensável entre pessoas comuns, imagine-se entre chefes de Estado? O Itamaraty reagiu à altura: devolveu a carta.

É isso que Jair Bolsonaro, o 'deputado exilado' Eduardo Bolsonaro e a imensa militância do grupo não apenas defendem, como atiçam incessantemente no governo e no Congresso dos EUA? Taxação no comércio, sanções a ministros do Supremo, avacalhação da imagem do Brasil no exterior? Não combina muito com o lero-lero do “Brasil acima de tudo” que embalava multidões no pico de popularidade de Bolsonaro.

Por mais que o bolsonarismo seja uma seita, que as versões de Bolsonaro virem verdades absolutas (até contra vacinas!), é muito difícil até para convertidos assimilar que a Comissão de Relações Exteriores da Câmara tenha aprovado uma moção de louvor a Trump por produzir o maior e mais sério ataque já visto ao Brasil, que atinge agricultura, pecuária, Embraer, serviços... Logo, prejudica empregos, gera queda na Bolsa e alta do dólar, impacta na inflação e pode aumentar os juros. Moção de louvor ao inimigo da Pátria?
O grande teste sobre o 'pobres contra ricos' e agora, o fresquinho, 'Brasil soberano' será a pesquisa que a Quaest começou a fazer nesta quinta-feira sobre Lula, governo, 2026. É difícil captar o efeito, porque o campo da pesquisa começa no dia seguinte ao míssil de Trump, mas não é impossível, porque só se fala nisso nas casas, bares, restaurantes, gabinetes e consultórios pelo Brasil afora. Em menos de 24 horas, já eram computados 240 milhões de menções sobre o ataque na internet.
Trump mirou no governo Lula, no STF e nos Brics, mas errou o alvo e acertou Bolsonaro e pode se transformar no marco da reviravolta de Lula – e, além dele, Fernando Haddad – rumo a 2026. Lula, porém, tem de ajudar, principalmente não errando. A fórmula está no pós 8 de janeiro: assim como reuniu os poderes e a federação na defesa da democracia, Lula precisa, como sugere o professor Roberto Menezes, da UnB, unir Congresso, setores privados, entidades e brasileiros de qualquer raça, religião ou ideologia em torno do interesse nacional.
Só Trump poderia dar essa chance a Lula. E deu."

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