Jornalista Eliane Cantanhêde:
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"Com sua megalomania, impulsividade e imprevisibilidade, Donald Trump deu a tudo o que ele precisava para recuperar apoio político e popularidade: um inimigo externo e um discurso. Um discurso catalisador, resumido no slogan que o Planalto produziu, mas terceirizou para seus militantes e aliados massificarem nas redes sociais: 'Lula quer taxar os super ricos, Bolsonaro taxa o Brasil'.
É assim que Lula tenta sair das cordas, unindo a perigosa, mas eficaz, bandeira do 'pobres contra ricos' com o sempre conveniente nacionalismo, que costuma quebrar o maior galho para governantes sob pressão. O venezuelano Hugo Chávez era craque nisso, mas é apenas um pequeno exemplo no meio da multidão que usava e usa esse recurso quando a política interna esquenta e as pesquisas trazem más notícias.
Se Lula recorre à 'soberania', o bolsonarismo tenta, a duras penas, e sem bons resultados até agora, usar a 'democracia'. A diferença, porém, é abissal. A agressão do império às instituições, à democracia e à economia – e, portanto, à soberania nacional– é real, palpável. Já a alegação de Trump de que há censura, ameaça à livre expressão e 'caça às bruxas' no Brasil é tão mentirosa quanto a própria 'carta' de Trump para anunciar tarifas de 50% a todos os produtos brasileiros.
No texto, ele justificou o tarifaço com 'esses déficits comerciais insustentáveis' que o Brasil causaria aos EUA, mas é o oposto! O Brasil teve um déficit de US$ 400 bilhões com os EUA em quinze anos, e oito dos dez produtos americanos exportados para o Brasil chegam aqui com... tarifa zero. Além de mentirosa, malcriada, grosseira e cheia de erros, a carta foi divulgada antes de chegar ao destinatário -- o presidente do Brasil. É algo impensável entre pessoas comuns, imagine-se entre chefes de Estado? O Itamaraty reagiu à altura: devolveu a carta.
É isso que Jair Bolsonaro, o 'deputado exilado' Eduardo Bolsonaro e a imensa militância do grupo não apenas defendem, como atiçam incessantemente no governo e no Congresso dos EUA? Taxação no comércio, sanções a ministros do Supremo, avacalhação da imagem do Brasil no exterior? Não combina muito com o lero-lero do “Brasil acima de tudo” que embalava multidões no pico de popularidade de Bolsonaro.
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