"Essa semana, Brasil e Estados Unidos deram um passo rumo à reaproximação de uma relação abalada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma ligação de seu homólogo Donald Trump, e segundo os informes oficiais, a conversa foi amistosa, durando cerca de trinta minutos. Teve até troca de 'telefones pessoais' e elogios mútuos após a ligação. Independente dos sentimentos de cada leitor sobre essa notícia, algumas considerações importantes precisam ser feitas.
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A primeira delas é que se tratam de dois líderes carismáticos, que dominam o falar em público, ame-se ou odeie-se cada um deles. Ninguém alcança multidões da maneira como Lula e Trump alcançam sem serem ótimos comunicadores.
Isso quer dizer que, seja um encontro rápido entre os dois na ONU, seja durante uma ligação telefônica, a comunicação entre os dois tende a ser fácil e fluida. O que não quer dizer que as questões estruturais dessa relação entre Estados sejam igualmente facilmente resolvidas, apenas pelo carisma.
O trabalho diplomático continuará em prol de boas relações entre os dois Estados. Nesse sentido, é completamente normal que Marco Rubio , secretário de Estado de Trump, conduza esse processo. A 'notícia', que mal notícia é, do envolvimento de Rubio gerou 'comemorações' entre setores bolsonaristas que enxergam no governo Trump um eventual aliado ideológico contra o governo Lula e o Judiciário brasileiro. Rubio vai cumprir o que Trump determinar, seja lá qual determinação for.
Marco Rubio é totalmente ideológico e ferrenho defensor da Doutrina Monroe, de que a América Larina é uma área de influência inconteste dos EUA. Isso já foi abordado aqui em nosso espaço. O ponto é: se Trump ordenar uma negociação com Brasil em boa-fé, Marco Rubio vai acatar, mesmo que pudesse ser pessoalmente contra. E se os bolsonaristas cultivam ilusões sobre o secretário de Estado, apoiadores de Lula também não podem cultivar ilusões sobre uma eventual 'facilidade' das negociações futuras, ou que Lula já ganhou.
Trump e Marco Rubio buscam impor as vontades dos EUA sobre a América Latina. Ambos também emboscaram dois líderes estrangeiros na Casa Branca, Volodmir Zelenski e Cyril Ramaphosa, fazendo comentários difamatórios ou até mesmo mentirosos contra ambos e seus países.
Não há nada resolvido e, justamente pelo aspecto carismático popular das lideranças de Lula e de Trump, quanto mais trabalho profissional de bastidores, talvez seja melhor, deixando um encontro entre os dois como uma eventual cereja do bolo apenas."
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