Saúde

Alergia à camisinha de látex: o que fazer?

18/09/16 - 10h53
Ilustração

Apesar de não ser muito comum, existem sim homens e mulheres alérgicos à camisinha de látex. E muitos deles só descobrem o problema depois de terem contato com o material, proveniente da planta Hevea brasiliensis.

De acordo com Dra. Fátima Rodrigues Fernandes, alergista e presidente da Regional São Paulo da Asbai - Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, a alergia ao látex começou na década de 80. "Para evitar e contaminação e a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis, os hospitais passaram a fazer uso indiscriminado de materiais à base do produto", explica.

A especialista conta que há dois tipos de alergias: a tipo 4 - dermatite de contato - e a tipo 1, de reação imediata. "A primeira é mais localizada e causa desconfortos como vermelhidão, coceira e até pequenas feridas na região da vagina ou do pênis. Já a de tipo 1 é mais grave e pode provocar rinite, asma e até choque anafilático", explica. "A irritação pode ocorrer em cinco minutos após o contato com o produto do látex. E as erupções cutâneas após 60 minutos", completa Dr. Bento, ginecologista e obstetra dos Hospitais Albert Einstein e São Luís.

Dr. Bento lembra ainda que pessoas que têm contato constante com o látex podem apresentar algum tipo de sensibilidade. "Profissionais da área de saúde, pacientes que passam por vários procedimentos cirúrgicos ou diagnósticos invasivos com materiais contendo látex, trabalhadores do setor, esportistas e artistas que usam materiais com este componente formam o grupo de risco".

Para identificar o problema, Dra. Fátima orienta que a pessoa procure um médico para fazer o diagnóstico. "Caso seja uma dermatite de contato, basta agendar uma consulta para saber do que se trata a irritação. Mas se aparecerem os sintomas do tipo 1, é preciso procurar um médico imediatamente."

Em casos relacionados ao tipo 4, o teste é simples: o especialista aplica o produto em uma parte da pele da pessoa e deixa por um determinado período para ver se causa reação. "Já no tipo 1 é necessário identificar a dosagem de IgE (anticorpo) no paciente por meio de um exame de sangue.

Outra forma é fazendo teste cutâneo. O médico pinga uma gota de extrato de látex na pele para ver se há reação", comenta Dra. Fátima. "Por meio de uma imunoterapia é possível promover o aumento da tolerância ao produto que causa alergia", lembra.

Curiosamente, quem tem alergia às proteínas do látex pode apresentar reação cruzada com alguns grupos alimentares. "Ou seja, os alérgicos devem evitar ingerir banana, amendoim, abacate, maracujá, mamão, kiwi, melão e manga. Cerca de 30% das pessoas sensíveis ao látex apresentam este problema", explica Dra. Fátima.

Como alternativa, os dois profissionais recomendam as camisinhas de poliuretano. "A eficácia é a mesma do produto de látex, desde que utilizado da forma correta", alerta Dr. Bento. Logo, a pessoa alérgica deve evitar também as camisinhas com aromas e pigmentos, que podem causar irritações e são feitas de látex. "Outra opção seria o uso do preservativo feminino, que é uma bolsa de poliuretano de 17 centímetros que se ajusta na vagina. É um método contraceptivo que pode também proteger contra várias doenças sexualmente transmissíveis", acrescenta o ginecologista.

Para Dr. José Bento, o grande problema é que as pessoas alérgicas ao látex sentem certa dificuldade para encontrar camisinhas de poliuretano. "Pelas minhas pesquisas, o produto não foi encontrado em farmácias e redes de drogarias, somente em algumas ‘sex shops’, o que é um fator limitante. Os gerentes das drogarias e da maioria das lojas consultadas desconheciam o produto", contou, afirmando que uma unidade deste tipo de preservativo corresponde ao valor de 20 das de látex.

E sugere: "Acredito que não só os preservativos de látex, mas também os de poliuretano, devam ser distribuídos gratuitamente, para o êxito das campanhas de prevenção da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis".