Após 18 anos, casal consegue engravidar com ajuda de IA: como é feito o processo

Publicado em 25/06/2025, às 22h38
Foto: Ilustrativa/Freepik
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Por Revista Crescer

Depois de quase duas décadas de espera, um casal conseguiu realizar o sonho de engravidar devido a ajuda de um novo sistema de inteligência artificial usado por médicos do Centro de Fertilidade da Universidade de Columbia, de Nova York, Estados Unidos.

Chamada pelos profissionais de "a primeira concepção habilitada por IA", a gestação aconteceu através de um procedimento inovador conhecido como STAR (“Sperm Tracking and Recovery”, ou “rastreamento e recuperação de espermatozoides”, em tradução) e marca um avanço importante para casais que enfrentam infertilidade masculina, particularmente aqueles com azoospermia — condição caracterizada pela ausência ou quantidade limitada de espermatozoides no sêmen.

De acordo com Zev Williams, diretor do Centro de Fertilidade da Universidade de Columbia e criador do STAR, trata-se de um quadro que pode ocorrer em homens saudáveis e que têm uma vida sexual normal.

“É realmente um diagnóstico doloroso e, muitas vezes, completamente surpreendente. A maioria dos homens que receberam esse diagnóstico são completamente saudáveis. Eles têm função sexual masculina normal. A amostra de sêmen a olho nu parece completamente normal", explicou em entrevista ao TODAY.com.

Para se ter uma ideia, enquanto a contagem típica de espermatozoides pode variar de 15 a 200 milhões por mililitro de sêmen, a azoospermia leva a apenas 2 a 3 espermatozoides ou a nenhuma contagem mensurável de espermatozoides. É aí, então, que a nova tecnologia de IA entra.

Como o STAR funciona?

Através da combinação de tecnologia de imagem de alta potência e inteligência artificial do STAR, o sêmen é escaneado para localizar os poucos espermatozoides em amostras de homens diagnosticados com a condição, capturando até 8 milhões de imagens por hora.

Depois, o algoritmo de IA analisa essas imagens para detectar e isolar espermatozoides raros que podem passar despercebidos por embriologistas humanos.

Uma vez identificados os espermatozoides, um chip microfluídico os remove e os direciona para canais separados, permitindo um isolamento rápido e suave, sem a necessidade de centrifugação ou outros procedimentos potencialmente prejudiciais. Assim, os espermatozoides viáveis são preservados e podem ser usados em uma futura fertilização in vitro, conduzida por um embriologista.

Gravidez com a ajuda da IA

A primeira concepção habilitada por IA aconteceu com um casal que estava há 18 anos tentando engravidar, passando, inclusive, por 15 ciclos de fertilização in vitro sem sucesso. Em março de 2025, contudo, tudo mudou quando a mulher descobriu um ensaio clínico utilizando o sistema STAR.

A tecnologia de IA identificou com sucesso espermatozoides viáveis, levando, finalmente, a uma gravidez bem-sucedida.

“Imagine procurar uma única agulha escondida entre mil palheiros espalhados por 10 campos de futebol — e encontrá-la em menos de duas horas. Esse é o nível de precisão e velocidade proporcionado pelo sistema STAR”, comparou Williams em um comunicado à imprensa.

“Usando IA, microfluídica e robótica, o sistema vasculha uma amostra de sêmen aparentemente sem vida para identificar e isolar um único espermatozoide viável, tornando o impossível possível para homens aos quais antes se dizia que não tinham chance de serem pais biológicos”, completou.

O líder do projeto ainda observou que, embora a nova técnica tenha sido desenvolvida para combater a azoospermia, tecnologias semelhantes baseadas em IA poderiam ser adaptadas para aprimorar outros aspectos do tratamento de fertilidade, como a seleção de embriões e o rastreamento genético.

Vale ressaltar que, o STAR não é a primeira tecnologia de fertilidade com IA, mas é a primeira do gênero. Outros processos de fertilidade com inteligência artificial já podem prever a viabilidade embrionária, analisar conjuntos de dados e alguns até mesmo diagnosticar.

Agora, mais pacientes estão no que Williams chama de "estágio de armazenamento", ou seja, estão isolando e congelando espermatozoides encontrados e recuperados com o STAR para, com sorte, fertilizar óvulos.

Embora o sistema ainda esteja em fase experimental, seu sucesso oferece um vislumbre do futuro dos cuidados de fertilidade para ajudar pessoas a realizarem o sonho de parentalidade.

"Todos nós estamos incrivelmente animados por podermos ajudar pacientes que nunca puderam ser ajudadas antes. E é incrível que estejamos usando inteligência artificial para ajudar a criar vida real", disse ele TODAY.com. "Haverá esta criança e milhares de outras que (não existiriam) se não fosse pela ajuda de toda a equipe que desenvolveu isso e pelo quão avançada a tecnologia de IA se tornou. Esse é um resultado incrível dessa tecnologia", finalizou.

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