Futebol

Após tirar foto com torcida rival, núcleo feminino da Mancha Azul recebe punição

Redação TNH1 | 18/06/19 - 15h14
Divulgação

Uma imagem com grupos de torcidas femininas de CSA e CRB, juntas por uma causa social, ganhou repercussão nas redes sociais nos últimos dias. Após comentários negativos de torcedores azulinos, a Torcida Organizada Mancha Azul, do CSA, decidiu suspender todo o núcleo feminino do grupo por tempo indeterminado. 

Uma representante da torcida Azulão Antifascista, do CSA, que esteve presente no encontro com a torcida rival, explicou à reportagem do TNH1 que a reunião estadual foi realizada no domingo (16), por intermédio do grupo nacional Movimento Feminino de Arquibancada (MFA), que tinha o objetivo de criar pautas para um evento, posteriormente, com a presença de pessoas ligadas às organizadas de CSA e CRB, além de simpatizantes pela causa, para debater a segurança das mulheres no esporte e outras questões.

Segundo ela, a participação dos grupos femininos nessa reunião teria sido autorizada pela diretoria da Mancha Azul. “O evento aconteceu no auditório do Estádio Rei Pelé, com o apoio do Governo para isso. Após a repercussão negativa da foto, a Mancha Azul informou que não tinha autorizado, devido aos comentários de que isso denegriu a ideologia da torcida. Porém, ela sabia do encontro e tinha autorizado”, disse.

“O nosso lema é “rivais em campo e irmãs na luta”. Nosso pensamento vai de encontro ao machismo, até porque houve uma foto tirada pelos membros das organizadas do CSA e do CRB durante a campanha Paz nos Estádios, meses atrás, durante um encontro com a polícia”, continuou.

A imagem citada pela advogada foi feita durante o Campeonato Alagoano 2019, na campanha "Paz no Estádios", promovida pela Secretaria do Esporte, Lazer e Juventude (Selaj), e contou com a participação de agentes das forças de segurança do Estado. 

(Crédito: Divulgação)

Ameaças

A representante da torcida também contou para o TNH1 que as integrantes dos grupos que acabaram suspensas estão amedrontadas com as mensagens enviadas por supostos torcedores da mesma torcida. “Elas não querem postar mais nada, não querem falar, pois estão recebendo ameaças, sendo acusadas de traírem a ideologia, de que não tiveram respeito, e até agressão nas ruas foi citada por eles”, afirmou.

A advogada também declarou que já imaginava uma repercussão negativa, mas não acreditava que acarretaria numa decisão como essa. “Eu acordei com mais de três mil mensagens, já imaginava ter repressão machista, mas não dessa forma, de suspender a torcida feminina. Entendo a ideologia da torcida, de rivalidade, mas a foto foi um símbolo de paz, assim como eles fizeram antes”, salientou.

Mancha Azul

Na noite dessa segunda-feira (17), a diretoria da Mancha Azul publicou uma nota com a informação da suspensão de todo o núcleo feminino por tempo indeterminado, com o impedimento das torcedoras vestirem a camisa da organizada ao irem para o estádio ou no dia a dia, como também impossibilitadas em participar de ações sociais promovidas pela torcida.

Confira:

A reportagem tentou contato com a Mancha Azul por e-mail, ligação telefônica e mensagens pelo WhatsApp, mas até a publicação desta matéria, não obteve retorno.

Movimento Feminino de Arquibancada

O Movimento Femino de Arquibancada (MFA) emitiu uma nota de repúdio, também por meio das redes sociais, e destacou que “a intenção sempre foi e sempre será o direito e a segurança da mulher em todos os âmbitos esportivos, principalmente aqueles em que as mesmas sofrem represálias pelo simples fato de serem representantes do sexo feminino”.

No final do comunicado, o MFA reforçou que repudia qualquer tipo de violência, seja ela moral, física, sexual ou misógina.

Veja abaixo:

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NOTA DE REPÚDIO DO MOVIMENTO FEMININO DE ARQUIBANCADA DIANTE DA NEGATIVA ENVOLVENDO A ÚLTIMA REUNIÃO ENTRE TORCEDORAS DE ALAGOAS. O Movimento Feminino de Arquibancada vem por meio desta esclarecer alguns fatos diante da última reunião promovida pelas representantes de Alagoas. A intenção sempre foi e sempre será o direito e a segurança da mulher em todos os âmbitos esportivos, principalmente aqueles em que as mesmas sofrem represálias pelo simples fato de serem representantes do sexo feminino. Sabemos que a luta é árdua, que por si só às vezes é bem cansativa, mas quando se encontra força dentro de um ambiente que não encontramos lá fora, fica difícil abandonar a caminhada do MFA. Jamais imaginaríamos que diante de uma foto onde mostra a sororidade, a empatia, a união em prol de algo maior, a vontade de acolher mulheres e pessoas que buscam seu espaço, o entusiasmo de fazer algo bonito entre outras coisas, pudesse ser alvo de não só críticas por parte de homens misóginos com síndrome de autoridade dentro de instituições que deveriam ser do povo, pro povo e em prol da igualdade futebolística, mas também de ameaças e expulsões/suspensões dessas mulheres de suas respectivas torcidas. Vale ressaltar que isso não engloba uma ideologia, não engloba a força e a festa da arquibancada. Isso trata-se de um comportamento antiquado e machista que visa somente a soberania e a amostra grátis do que o Movimento luta contra. O homem que se põe numa situação de falta de respeito com uma mulher, um componente que se dispõe a ser de baixo calão com outra componente por ela lutar por seus direitos e que pra isso precisou ir até a sua rival de campo, não é surpresa, mas muito nos decepciona e só mostra o retrato de uma instituição falha e que não merece as mulheres que tem. Por fim, que isso sirva de exemplo para mostrar a todos vocês o quanto é absurdo que em pleno século XXI ainda temos que estudar “neandertalenses”. NÓS REPUDIAMOS QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA, SEJA ELA MORAL, FÍSICA, SEXUAL OU MISÓGINA. Essa vergonha a gente deixa pra vocês. Sigamos na luta, e que isso só sirva de gás para continuarmos nessa estrada, pois se isso incomodou, é por estar funcionando!

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