Saúde

Atletas de fim de semana têm ganhos em saúde semelhantes a quem pratica esporte regularmente

Folhpress | 18/08/22 - 08h26
Foto: Adriano Vizoni/Folhapress

Você é daquelas pessoas que acreditam ser suficiente praticar atividades físicas uma ou duas vezes na semana? Você está certo, contanto que cumpra o mínimo de 150 minutos de atividade moderada, 75 minutos de atividade intensa ou a combinação equivalente das duas.

É o que aponta um estudo da Escola de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em parceria com cinco universidades estrangeiras, com dados de um levantamento feito pelo The National Health Interview Survey com mais de 400 mil adultos pelo mundo.

A investigação chegou à conclusão de que guerreiros e guerreiras de fim de semana obtêm benefícios para a saúde semelhantes a quem tem regularidade acima de três sessões semanais, em comparação aos adultos fisicamente inativos, os chamados sedentários.

Entre os ganhos para a saúde identificados no estudo estão a redução na taxa de mortalidade por todas as causas, prevenção de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Especialistas ouvidos pela Folha apontam, ainda, que a prática de atividades físicas pode ajudar a prevenir outras doenças, tais como Alzheimer, AVC (Acidente Vascular Cerebral), osteoporose, obesidade e depressão, entre outras.

Isabela Pilar, cardiologista da Clínica AMO, em Salvador, lembra, porém, que o estudo fala de pessoas que conseguiram fazer 150 minutos de atividade física por semana e, por isso, não é adequado comparar com aqueles que praticam esportes somente aos sábados e domingos por menos tempo. Pilar frisa, no entanto, que para alcançar o efeito desejado no organismo, a intensidade da atividade física precisa ser individualizada por meio de um exame de ergoespirometria, também chamado de teste cardiopulmonar de exercício.

"É um exame que se faz numa esteira ou bicicleta ergométricas, que avalia tanto a parte cardiológica como a parte pulmonar. Com isso, é possível definir o que é intensidade moderada ou alta para cada pessoa", explica.

A cardiologista observa, no entanto, que o estudo delimita o tempo semanal mínimo necessário, mas não faz um recorte sobre qual tipo de exercício deve ser levado em consideração para alcançar os resultados desejados. "O estudo informa o tempo, mas não o tipo. Pode ser uma atividade só aeróbica, como caminhada, corrida, pedalar. Ou fortalecimento muscular: musculação, crossfit, pilates. Pode ter esportes coletivos, como futebol, vôlei e outras atividades", avalia.

A recomendação ideal, ela diz, é associar o mínimo de 150 minutos por semana de exercícios aeróbicos com duas sessões de fortalecimento muscular no mesmo período. "Os exercícios são complementares entre si, cada um com sua função", explica. Pilar ressalta ainda que, a depender da modalidade esportiva, é possível combinar as duas coisas em uma tacada só. "Por exemplo, a natação e a hidroginástica têm componentes aeróbicos e musculares ao mesmo tempo", aponta.

Oncologista do Hospital Universitário Professor Edgard Santos, o professor Carlos Frederico Lopes Benevides, da Faculdade de Medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia), diz que praticar exercícios pode prevenir comorbidades que potencializam alguns tipos de câncer.

"Pessoas com diabetes, obesidade, têm um risco aumentado para alguns tipos de câncer, como câncer de mama, próstata, intestino", elenca. "Para essa população, fazer atividades para reduzir o sobrepeso, controlar a glicose, minimiza o risco de outras doenças", completa.

Benevides alerta que os exercícios físicos de alta intensidade podem acarretar efeitos colaterais para quem pratica atividades em nível profissional, como um "desgaste" mais acelerado no organismo de atletas. "Tanto na parte osteomuscular quanto na produção de toxinas que podem levar ao envelhecimento precoce e doenças degenerativas. Fazer qualquer atividade é melhor que o sedentarismo, mas precisa haver um equilíbrio", orienta Benevides.

Para quem deseja iniciar uma atividade física, o professor indica procurar ajuda profissional para evitar o risco de lesão. No caso das pessoas a partir dos 40 anos, ele recomenda que seja feita uma avaliação médica para identificar se há alguma condição clínica que precise ser observada.

A cardiologista pondera, no entanto, que não se deve ter receio de iniciar algum exercício físico, sobretudo em pessoas abaixo dos 35 anos sem doenças crônicas e sem histórico familiar de mortes súbitas em parentes de primeiro grau. "Mas se for alguém acima dessa idade, que tenha hipertensão, diabetes, colesterol alto ou histórico de morte súbita, o mais prudente é que se faça uma avaliação com um médico da família, clínico ou cardiologista", finaliza Pilar.