Contextualizando

Bancos buscam plano para assumir a gestão da Braskem em 90 dias

Em 26 de Agosto de 2025 às 09:00

Texto das jornalistas Cynthia Decloedt e Talita Nascimento, na plataforma Broadcast+ :

"Os bancos retomaram o plano de ter a fatia de controle da Novonor (ex-Odebrecht) na Braskem dentro de um fundo e, junto à IG4 Capital, gestora especializada em ativos em situações especiais, vão estruturar uma saída para o impasse em torno da venda desta participação, que já dura mais de quatro anos. O entendimento das instituições financeiras é o de que não há mais tempo para arrastar o assunto. Em 90 dias, uma solução terá de estar sobre a mesa. Apesar do último comunicado da Braskem, na sexta-feira, 22, dizer que as conversas entre a controladora Novonor e Nelson Tanure continuavam, na prática, o empresário deve ficar de fora das negociações no momento.

A Braskem vem queimando caixa nos últimos meses. O ciclo de baixa do setor petroquímico e o fato da operação da empresa no Brasil ser dependente da nafta, matéria-prima mais cara que o gás, tornam o futuro da companhia incerto, diante de sua alta alavancagem de 10,59 vezes (dívida líquida/Ebitda) e de vencimentos importantes de dívida em 2028. Há cerca de US$ 1,4 bilhão vencendo naquele ano e a leitura é a de que é preciso que as ações sejam tomadas o quanto antes.

A IG4 Capital, que estuda a situação da Braskem há um ano, foi agora formalmente contratada, com o fim da exclusividade na semana passada da negociação de aquisição por Tanure. A IG4 tem exclusividade para adquirir os créditos das instituições junto à Novonor. As ações da Braskem passariam então para um fundo da IG4.

Os bancos pretendem trabalhar com a gestora na estrutura do fundo e desenhar os caminhos para recuperar a petroquímica. Essas conversas estão sendo encaminhadas com a Petrobras, afirmou uma fonte com conhecimento do assunto.

A Petrobras tem deixado claro que quer ter mais poder de gestão na companhia e até, segundo fontes, pode ampliar sua participação acionária na petroquímica. Já a família Odebrecht vinha marcando posição em todas as negociações para assegurar uma pequena participação na Braskem. Os bancos sempre se posicionaram de modo mais duro nesse sentido, enquanto a proposta de Tanure previa que a família Odebrecht restaria com uma fatia de US$ 70 milhões e algo entre 3,5% a 5% das ações da Braskem.

No mercado, a impressão é de que a Braskem não escapará de uma renegociação de suas dívidas, qualquer que seja o interessado na petroquímica. À IG4 caberá não só tratar da estrutura de capital e financeira, mas também tratar das questões relacionadas ao passivo de Alagoas - com litígio também no exterior - e provavelmente traçar um plano de venda de alguns ativos. A empresa negou na última teleconferência de resultados que esteja inclinada a uma renegociação, mas admitiu posteriormente que chegou a tratar com a Unipar sobre uma possível venda de sua subsidiária nos Estados Unidos.

A questão de Alagoas, segundo fontes próximas a Tanure, foi um fator importante na retirada do comprador. Depois de estudar o caso com consultoria Aecom, a conclusão foi de que não há garantia de que esse passivo não tenha consequências para um novo controlador da companhia.

Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) são credores da Novonor e têm uma dívida que soma, incluindo juros, perto de R$ 19 bilhões. O grupo de bancos concedeu empréstimos para a então Odebrecht, antes de o conglomerado entrar em recuperação judicial.

A Novonor detém o controle da Braskem, com uma participação de 50,1% das ações ordinárias e 38,3% do capital total. Ao seu lado está a Petrobras, com uma fatia de 47% das ordinárias e 36,1% do total."

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