Polícia

Carla Viana foi vítima de "transfobia" e crime teve requintes de crueldade, diz polícia

05/07/17 - 12h13
TNH1

A travesti Carla Viana, morta há uma semana, foi vítima de crime de transfobia (preconceito contra travestis, transexuais e transgêneros) praticado por quatro homens ainda não identificados pela polícia. De acordo com o delegado Eduardo Mero, que investiga o caso, o crime teve requintes de crueldade.

Carla morreu no Hospital Geral do Estado na última quarta-feira (28) após ser espancada e esfaqueada por quatro homens, que a seguiram após sair de um bar no bairro do Clima Bom, em Maceió no dia 25 do mês passado. O corpo foi sepultado na cidade de Joaquim Gomes, na região Norte de Alagoas, onde ela nasceu.

As declarações do delegado foram dadas durante uma entrevista coletiva na sede da Delegacia de Homicídios, no Complexo de Delegacias Especializadas (Code), no bairro da Mangabeiras, em Maceió. Além do delegado, participaram da entrevista a secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh), Maria Aparecida de Oliveira Berto Machado, o presidente da Comissão de Igualdade Social da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Betinho Costa e ativistas da comunidade LGBTTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis e intersexuais) de Alagoas.

“Tudo indica que se trata de uma questão preconceituosa dos autores. Foram muitas facadas, inclusive, algumas pelas costas, o que indica que o autor, não satisfeito, correu atrás e desferiu outros golpes”, explicou o Mero.

Ele disse ainda que a investigação está avançada. “Cumprimos algumas diligências ainda no dia em que o crime aconteceu. As investigações estão bem avançadas e a autoria vai ser descoberta. A polícia deverá apresentar o resultado disso nos próximos dias”, garantiu.

Violência contra homossexuais

Para o presidente do Grupo Gay de Alagoas (GGAL), Nildo Correia, o Estado está voltando a ser o mais violento em relação ao público LGBT. A entidade deverá encaminhar uma proposta de lei para a Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas para que criminalizar a homofobia.

“Só este ano, já foram nove casos [de crimes contra o público LGBT]. Poderia ser qualquer de nossos colegas que poderiam não estar aqui por estarem mortos ou sendo sepultados. É muito preocupante”, ressaltou. 

A ativista Lilian Barbosa criticou a falta de políticas públicas para o público gay, como as que dão acesso ao nome social de transgêneros. “Sou ativista, trabalho com a questão de violência de gênero e não me sinto confortável, enquanto ativista, de falar de pessoas pós sepultamento. Muitas vezes, elas são ilegitimadas enquanto sujeito político porque, mesmo pós-morte, não tiveram nem acesso ao nome social”, destacou.

Ela disse ainda que a comunidade trans é vítima da sociedade. "Não somos doentes mentais, mas a sociedade insiste em nos patologizar a todo momento, deslegitimando nossa luta, nossa causa, nossa dor”, concluiu.

*Estagiário sob supervisão