De acordo com o superintendente agroindustrial da Usina Caeté, Mário Sérgio Matias, o uso da vinhaça tem reduzido significativamente a necessidade de fertilizantes químicos, especialmente os potássicos, por já ser naturalmente rica nesse nutriente.
'Com a aplicação direcionada, conseguimos aproveitar melhor o valor agronômico da vinhaça, diminuindo a necessidade de adubação mineral. Além disso, essa técnica permite uma distribuição mais precisa, o que evita desperdícios, melhora a eficiência do processo e contribui diretamente para o aumento da produtividade agrícola', detalha.
Além da economia, os impactos ambientais da técnica têm sido expressivos. 'A fertirrigação localizada ajuda a evitar a sobrecarga do solo e reduz significativamente os riscos de contaminação de lençóis freáticos', afirma Matias.
'Além disso, observamos melhorias na qualidade do solo, com aumento da matéria orgânica e da atividade biológica', acrescenta.
Segundo o superintendente, as áreas que recebem vinhaça nesse modelo apresentam melhor desempenho agrícola. 'Tudo isso está alinhado com os compromissos da Caeté com a sustentabilidade, que incluem a valorização de subprodutos do processo industrial e a adoção de práticas que tornam a agricultura mais eficiente e ambientalmente responsável'.
A aplicação da vinhaça na Usina Caeté está integrada a um planejamento agrícola estruturado, focado em manejo nutricional eficiente e controle operacional. 'O trabalho começa com um planejamento agrícola bem estruturado, focado em um manejo nutricional racional e eficiente”, explica Matias.
'Há também um acompanhamento constante dos custos e da eficiência operacional, com base em indicadores bem definidos', aponta.
A empresa também tem participado ativamente de fóruns do setor, como o Congresso Nacional da Bioenergia, levando sua experiência em aproveitamento de resíduos e tecnologias sustentáveis.
A vinhaça também é a base de um projeto de bioenergia em negociação com a GranBio. A empresa brasileira de biotecnologia industrial e a Usina Caeté estudam firmar parceria para uso da vinhaça e de parte do melaço na produção de biogás, biometano e etanol de baixo carbono.
Segundo Bernardo Gradin, CEO da GranBio, o projeto está em fase de tratativas, mas já segue a linha estratégica da empresa. 'A Caeté é nossa parceira de longo prazo. Ainda não temos nada concretamente assinado, mas essa parceria está em negociação, voltada ao uso da vinhaça', afirma.
A proposta é implantar uma biorrefinaria que integre a produção de etanol residual, biogás e biometano — com ganhos de escala e aproveitamento contínuo dos resíduos durante todo o ano. 'O biogás e o biometano que potencialmente vamos produzir virão a partir da vinhaça, na produção de um etanol residual de baixo carbono', explica Gradin.
O projeto deve reforçar o papel de Alagoas como polo nacional de bioenergia, com impacto direto na cadeia produtiva e na diversificação da matriz energética local. 'Existem impactos estruturais que esse projeto pode gerar para a economia, considerando a cadeia produtiva, a atração de investimentos e a diversificação energética', avalia Gradin.
Com o novo marco regulatório do biometano, o estado pode sair na frente. 'Isso vai permitir que Alagoas tenha um dos primeiros polos de alta produção contínua de biometano no Brasil', diz o executivo.
Gradin afirma que a iniciativa contribui para a transição energética e para a economia circular: 'Não é apenas uma diversificação energética – é um passo concreto na direção da redução da pegada de carbono na produção de hidrocarbonetos. E isso tem ligação direta com o reaproveitamento de resíduos, dentro da lógica da economia circular', conclui.
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