Alagoas

Covid causa síndrome rara que faz mulher parar de respirar ao dormir no interior de Alagoas

TNH1 com UOL | 14/01/22 - 09h49
Equipe que acompanhou Dijane no Hospital de Emergência, em Arapiraca | Foto: Arquivo pessoal

Uma paciente de Covid-19 no interior de Alagoas desenvolveu um distúrbio raro conhecido como síndrome de ondine. Dijane Silva, de 34 anos, moradora de Taquarana, para de respirar enquanto dorme, problema neurológico que a fez permanecer internada por um ano e meio, passando por três hospitais.

Dijane Silva teve alta no último dia 30, mas o retorno para casa foi um tanto diferente. Ela faz uso de respirador para dormir e conta com acompanhamento de uma equipe de saúde em casa, o que lhe foi assegurado na justiça por meio da Defensoria Pública Estadual (DPE).

"Conforme a decisão, o Estado é o responsável pela transferência da paciente para o tratamento permanente domiciliar em até 15 dias, e deverá assegurar o custeio de qualquer tratamento médico relacionado ao tratamento da doença entendidos como necessários para a manutenção da qualidade de vida da assistida e devidamente prescritos por médicos, sob pena de multa cominatória, em caso de atraso ou descumprimento.

O quadro médico de Dijane é de Hiipoventilação Central pós Covid-19, a  síndrome de ondine, e “escoliose de pé cavo congênitos”. Segundo a Defensoria, ela não estaria recebendo o tratamento indicado para o seu caso, que seria a internação domiciliar, urgente, com acompanhamento ininterrupto de equipe multidisciplinar, por tempo indeterminado. O laudo médico apontou, ainda, que a manutenção da forma atual de internação poderia gerar complicações e o óbito da paciente.  

Com o quadro inicial de Covid-19, a cidadã foi internada no Hospital Chama de Arapiraca, em maio do ano passado, e, posteriormente, transferida para a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário, em Maceió, local em que permanecia até então.


Dijane caminhando com apoio de um andador, ainda no hospital Chama. Foto: Arquivo pessoal 


Diagnóstico - Acompanhada por médicos na UTI (unidade de terapia intensiva) no HU, ela conta que um diagnóstico do problema que a acometia foi percebido. Foi o neurologista e pesquisador Fernando Gameleira que chegou à conclusão que o distúrbio respiratório de Dijane seria a síndrome de ondine. "Nosso cérebro tem uma parte que detecta quando o gás carbônico vai se acumulando e automaticamente desencadeia o movimento respiratório. No caso da síndrome, ela tem uma alteração nesses sensores que reconhecem esse aumento do gás carbônico. E aí ela para de respirar e morre se não usar respirador", diz.

A síndrome pode causar ainda alterações cognitivas, nos nervos e no intestino, Segundo ele, a doença desenvolvida pós-covid é algo inédito —e por isso o caso da paciente interessa para pesquisa. Normalmente, a pessoa já nasce com essa síndrome. Em alguns raros casos ela pode adquirir após, por exemplo, uma encefalite, um tumor cerebral, um AVC [acidente vascular cerebral]. A impressão que tenho é que ela desenvolveu uma encefalite crônica pela covid. O prognóstico dela ainda é incerto: ela pode precisar do respirador a vida inteira, mas não sabemos porque pode haver algum grau de reversão.Fernando Gameleira, neurologista