Economia

Dólar fecha acima de R$ 4 pela primeira vez desde 1º de outubro

Folhapress | 16/05/19 - 20h37
Reprodução/Agência Brasil

O dólar fechou a quinta-feira (16) em R$ 4,038, maior patamar desde 1º de outubro, antes do primeiro turno das eleições presidenciais. A moeda americana teve valorização de 1%, impulsionada pelo viés negativo do mercado brasileiro.

Nos últimos dias, o governo Bolsonaro tem sofrido derrotas que colocam em xeque a aprovação da reforma da Previdência e a melhora da economia. Com a preocupação de investidores, a moeda americana chegou a R$ 4,0430 durante o pregão.

Na terça (14), oposição e centrão aprovaram a convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, para o plenário da Câmara prestar esclarecimentos do bloqueio de R$ 7,3 bilhões na pasta aos 513 parlamentares.

Inicialmente, Weintraub falaria na comissão de educação e foi surpreendido pela convocação. A intenção do PSL, partido do presidente, era derrubar a deliberação e impedir que o ministro fosse obrigado a vir, mas foi derrotado por 307 votos a 82.

O episódio deixa investidores cautelosos com a aprovação da reforma da Previdência, que depende da boa articulação do governo com o centrão.

Outra questão que impacta o andamento da reforma é citação ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em delação premiada de Henrique Constantino, sócio da companhia aérea Gol. Segundo Constantino, Maia teria recebido propina da empresa.

"Se temos alguma aprovação da reforma é responsabilidade do Maia. A articulação é dele. Se este inquérito for mais a fundo afeta muito o panorama", diz Fabrizio Velloni, chefe da mesa de operações da Frente Corretora.

Para o economista, a investigação que envolve Maia preocupa mais que a de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente. "O risco ao governo neste caso é mais indireto. A princípio, pode apenas respingar no presidente", afirma Velloni.

Flávio teve quebra de sigilo bancário e fiscal decretada pela Justiça. O processo dá início a investigação judicial após um relatório do governo federal, há quase 500 dias, ter apontado movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Queiroz. Os dados financeiros atingem ao menos cinco ex-assessores de Jair Bolsonaro.

Dados fracos da economia também derrubaram o mercado brasileiro. Na quarta (15), o Banco Central divulgou de que a atividade econômica brasileira registrou retração de 0,68% no primeiro trimestre.

O IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) recuou na comparação de março com fevereiro, apresentando queda de 0,28%. Economistas previam queda de 0,20%, segundo projeções das agências Bloomberg e Reuters.

"O governo não apresenta medidas efetivas que possam melhorar a economia. O problema não é a reforma da Previdência, o problema é o déficit fiscal. Se gasta mais do que arrecada. Você pode acertar isso com a reforma e corte de gastos, alguma coisa tem que ser feita", afirma Pedro Coelho Afonso, economista-chefe da PCA Capital.

Com o viés negativo, a Bolsa atingiu o pior nível desde 2 de janeiro durante o pregão. Nesta quinta, o Ibovespa, maior índice acionário do país, chegou a 89.778 pontos na mínima, mas fechou a 90.024 pontos. A queda de 1,75% foi a maior dentre os principais índices globais.

O giro financeiro foi de R$ 17,4 bilhões, acima da média diária para o ano.

No exterior, o dia foi de ganhos. A Bolsa de Londres valorizou 0,78%. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones teve 0,84% de ganhos. S&P 500 sobiu 0,9% e Nasdaq, 0,97%.

Na Ásia, o índice CSI 300, que mede o desempenho dos papéis das bolsas de Shangai e Shenzen, teve alta de 0,45%. A Bolsa de Hong Kong se manteve estável. O índice Japonês operou descolado do cenário externo e fechou em queda de 0,6%.

"Hoje o cenário externo é favorável ao mercado, mas não conseguimos acompanhar. O panorama político que não vem agradando nem um pouco o mercado. A investigação envolvendo Flávio, as manifestações de ontem e a ida do ministro da Educação no Congresso assustam. Há uma fuga de capital do nosso país. A instabilidade política afasta estrangeiros", diz Afonso.

No ano, a saída de aportes estrangeiros na Bolsa é de R$ 3,3 bilhões.

"Investidores estrangeiros nem pensam em voltar para Brasil no momento. A taxa de juros está baixa em relação aos outros emergentes e mercado produtivo sem reação. Eles veem que o tamanho da reforma não cobre o déficit. Além disso, a reforma tributária é tão importante quanto a da previdência", afirma Velloni.

Segundo o economista, o retorno expressivo de investimento estrangeiro no Brasil deve acontecer apenas em dois anos, quando o país estiver melhor classificado em ratings de investimento, com a resolução do déficit e melhora da economia.