Interior

Em narrativa digna de um filme, vereador chegou a queimar carro para simular sequestro

Eberth Lins | 29/10/21 - 11h10
Foto: Reprodução

Contada com riqueza de detalhes, a história do falso sequestro do vereador Manoel Remerson Almeida da Silva (PP), de Boca da Mata, no interior de Alagoas, mais parece o recorte de um roteiro de filme de ação. O parlamentar viralizou nas redes sociais ao gravar e postar uma série de vídeos para comunicar que foi vítima de um sequestro relâmpago, nessa quinta-feira (28). Assista aos vídeos abaixo:

"Fui sequestrado em Boca da Mata, na estrada, entre o Peri Peri e o Bento, um gol, com um quatro cones e uns três caras do lado de fora, tudo de roupa preta e de fuzil, eu digo que é fuzil porque entendo de fuzil, eu sou CAC [ Colecionador, Atirador e Caçador], sou atirador. Me renderam, um veio comigo no carro, no banco, pediu meu celular e senha, eu dei. Veio comigo mandando eu dirigir e pedindo senha", disse.

O parlamentar seguiu gravando vídeos e compartilhando a suposta emboscada ."Só sei que rasparam a minha conta, usaram o cheque especial, usaram tudo, tudo que tinha, me deixaram sem nada. Levaram meu carro, me deixaram de pé, levaram minha pistola glock comprada em 2012, levaram minha bolsa, uma bolsa boa e o relógio. Eu pedi pelo menos a minha carteira e deixaram. O celular me entregaram inativado por mais de uma hora, disseram: 'o celular você pode ficar, que isso aí vai localizar a gente'. Me deixaram na pista, mandaram eu tirar a camisa e dois abençoados iam passado, pedi ajuda, disse de onde era, mostrei minha identidade. Esses dois abençoados rodaram uns 100 km, coitados, para me deixar aqui nesse posto", disse. Por fim, o vereador ainda se mostrou revoltado com a suposta violência praticada pelos bandidos. "É isso aí, o caba sai de casa e não sabe se volta, a vida está uma incerteza muito grande. Você acorda cedo e trabalha muito para no final vir alguém e roubar você", lamentou.

Sequestro foi desmentido pela polícia - O então crime de repercussão, no entanto, logo foi descoberto pela polícia como sendo uma picaretagem. De acordo com o diretor da Divisão Especial de Investigações Criminais (Deic), delegado Gustavo Xavier, o vereador chegou a queimar um carro para endossar a história, que conta ainda com supostos homens encapuzados e armados com fuzis. "A nossa conclusão é que o vereador cometeu falsa comunicação de crime, conduta pela qual ele responderá. Além disso, o veículo dele foi queimado e caso ele tenha acionado o seguro em razão dessa conduta, responderá também pelo crime de fraude para recebimento de valor de seguro", disse Xavier.

O vereador ainda não foi ouvido oficialmente, mas a Secretaria de Segurança Pública (SSP) adiantou que ele disse ter misturado álcool e remédios controlados para justificar o crime. "Nós ainda vamos ouvi-lo oficialmente, mas o crime em si envolvendo esse criminosos que teriam sequestrado, arrebatado esse vereador e deixado na divisa entre Alagoas e Sergipe, não houve. O crime ocorreu por parte do vereador de ter noticiado um crime inverídico, falso, inexistente e, com isso, ter mobilizado toda a estrutura da segurança pública para verificar um crime que não ocorreu", assegurou o delegado.