Polícia

Ex-prefeito de Palestina teria tramado morte de caseiro para incriminar atual gestão

26/12/17 - 15h32

Em entrevista coletiva, na tarde desta terça-feira, 26, com a presença do secretário de Segurança Pública, coronel Lima Júnior, a polícia apresentou o resultado da operação que prendeu o vereador e ex-prefeito do município de Palestina, José Alcântara Júnior, conhecido como Júnior Alcântara, e mais quatro pessoas. Todos são suspeitos de participação no assassinato do caseiro Zenóbio Gomes Feitosa, sequestrado no dia 27 de maio e encontrado morto no dia seguinte, na Zona Rural de Jacaré dos Homens.

Além dele, foram presos Daniel da Silva Carvalho, o Daniel Gordinho, dono do veículo usado no seuestro e morte do caseiro, José Edilson Pinheiro da Silva, o Sula, Thiago Correia de Brito, e Luciano Lucena de Farias, acusado em outros crimes.

Segundo o delegado Mário Jorge Barros, o caseiro foi morto em meio a uma trama para incriminar a atual gestão municipal de Palestina. O ex-prefeito Júnior Alcântara teria feito uma reunião no dia anterior à morte do caseiro, onde teria afirmado possuir documentos que comprovariam irregularidades da atual gestão, que poderia caracterizar improbidade administrativa.

"Ao final da reunião ele teria dito que os documentos ficariam guardados na chácara. Isso já criando um álibi, para que quando acontecesse o sequestro do caseiro, automaticamente seria apontado quem supostamente seria incriminado com aquela documentação", explicou Mário Jorge Barros. Segundo o delegado,a polícia questiona se os documentos existiam de fato. 

O caseiro Zenóbio Gomes Feitosa tinha 60 anos  estava na companhia do filho de 9 anos, no dia 27 de maio, quando os homens chegaram à chácara, perguntando pela a documentação. Foi quando a criança que percebeu que um dos homens estava encapuzado e avisou ao pai. Pensando se tratar de um assalto, o caseiro mandou que o filho corresse. Nesse momento, Zenóbio foi sequestrado e morto horas depois.

A morte de Zenóbio levantou suspeita durante as investigações. "Como um homem de 60 anos iria impedir um grupo armado de roubar os documentos? O Sula é um cara grande, bastava dar um tapa no caseiro...", disse o delegado, ao explicar os detalhes da investigação que chegou aos suspeitos.

O carro usado no dia do crime, um Fox e cor prata, pertence a Daniel da Silva Carvalho, que tinha envolvimento em crimes mantinha ligação com José Edilson Pinheiro, o Sula, suspeito de participação em um assalto a turistas, na Praia do Gunga.

No decorrer das investigações, a polícia descobriu duas ligações de celular entre o grupo e o prefeito, uma na semana anterior ao crime, e outra no dia do assassinato.

Outro lado

O advogado Fábio Ferrário, que representa o ex-prefeito Júnior Alcântara, disse ter ficado perplexo com a entrevista coletiva concedida pela cúpula da SSP. "Primeiro porque esse processo corre em segredo de Justiça, esta com a tramitação oculta de tão sigiloso que está". Segundo ele, o ex-prefeito foi preso sem que o delegado entregasse a ele o decreto de prisão. "Ele foi preso sem saber os motivos pelos quais estava sendo preso", disse o advogado.

Ele contou que teve que entrar com uma ordem no TJ para ter acesso aos autos do processo. "Então a entrevista [coletiva] já me parece totalmente irregular. Como é que você dá uma entrevista detendo-se em um processo que está em segredo de Justiça? Significa dizer primeiro que não há necessidade do segredo de Justiça", questiona.

Ainda segundo Fábio Ferrário, após ter acesso ao processo ele tem certeza de que prisão de seu cliente não teve fundamento. "Em nenhum momento tecem uma linha sobre a necessidade da prisão", disse.

"O que se vê aí é que foi uma prisão exibição, para mostrar uma suposta culpa de alguém que está no início do processo. A materialidade, a autoria, pena e culpa são matéria de mérito. O que mais me chamou a atenção nos autos é que o delegado não diz a motivação do crime, ele faz uma prognose, um estudo de "achismo". Ora, então você já está adiantando uma condenação com base nesse achismo. Qual foi a razão para o Júnior cometer esse crime? Isso é uma "historinha" de quiromancia", criticou o advogado Fábio Ferrário.

Ele voltou a criticar a prisão de seu cliente: "Não existe uma linha de materialidade para se decretar essa prisão preventiva. Não se tem preenchido os requisitos da prisão preventiva", afirmou o advogado.