Alagoas

Família de modelo alagoana morta nos EUA questiona versões de namorado e de policiais norte-americanos

Redação TNH1 | 04/04/23 - 17h47

Cleane Ferreira, irmã de Gleise Graciela Firmiano, a modelo alagoana de 30 anos que foi morta a tiros pela polícia americana, na Califórnia, no último dia 30 de janeiro, questionou uma suposta versão apresentada recentemente pelo namorado da modelo e por policiais norte-americanos. O namorado americano, identificado apenas como Daniel, teria dito à Cleane que dois dos três policiais envolvidos na morte da modelo teriam morrido em um tiroteio recentemente. Além disso, o outro oficial, que teria disparado contra Gleise, teria sofrido um acidente e estaria em estado grave.

As novas informações foram reveladas por Cleane Ferreira em entrevista ao podcast Face2Face, publicado nessa segunda-feira, 4, no YouTube.

"Daniel me mandou uma mensagem, que me deixou muito suspeita, ele não sabia quem eram os policiais, não sabe nada dos policias, mas quando viu que eu comecei realmente a mexer nas coisas para entender, ele me mandou uma mensagem dizendo que tinha acontecido uma coisa que talvez eu ia gostar. Um dos policiais envolvidos na morte da minha irmã, talvez o atirador, tinha se envolvido em um acidente e estava muito mal no hospital, talvez não resistisse e morresse. Primeiro ele não sabe quem é a pessoa, agora ele já sabe quem é o atirador. E os outros dois policiais, que possivelmente era um motorista e o outro que talvez tivesse atirado nela, tinham se envolvido em um tiroteio e estavam mortos".

Relembre o caso - A versão dada à família é que a modelo foi morta por um policial ao ser vista armada, em uma rua, depois de uma discussão com o namorado. Gleice teria deixado a residência onde vivia enfurecida, o que teria preocupado o companheiro que acionou a polícia. Na abordagem policial, a alagoana teria feito um movimento com a mão como se fosse pegar a arma e a polícia reagiu, o que resultou na morte da mulher.

Irmã dá novos detalhes em entrevista - A família de Gleise Graciela vem tendo dificuldades em trasladar o corpo da modelo dos Estados Unidos para o Brasil e também de saber mais detalhes sobre as investigações. Após contar com a ajuda financeira do Governo de Alagoas, os familiares agora precisam esperar até seis semanas para aguardar a liberação do corpo da modelo. 

"A gente ficou sabendo que ela foi assassinada dia 30 de janeiro, mas que as autoridades americanas só entraram em contato com a família aqui no Brasil dez dias depois. É uma história que está muito complicada, muito difícil da gente entender. Porque dez dias depois é muito tempo para as autoridades tentarem localizar a família de uma pessoa que os próprios assassinaram. Tinham documentos com ela, o passaporte, eles tinham o nome completo, sabiam o estado de onde ela era".

Segundo Cleane, o consulado de Los Angeles entrou em contato e falou que tinha acontecido um assassinato com Graciela.

"A polícia americana precisava do contato da família aqui no Brasil. Então, até o momento, eu não sabia se ela tinha sido assassinada, se ela tinha sido presa ou se ela tinha assassinado alguma pessoa, eles não informaram direito. Por volta de 19h, uma detetive da polícia ligou e disse: "Sua irmã foi assassinada aqui na Califórnia. Teve uma briga entre ela e o namorado Daniel, na qual houve violência doméstica. Daniel acionou a polícia. E a polícia chegando na residência, encontrou ele com marcas da briga, ele falou que ela tinha saído de casa com uma arma e o cachorro". Mas aí agora é o que a gente não entende, uma pessoa que vivia nos EUA há quase 8 anos, ia sair para uma floresta 1h da manhã? São muitas dúvidas que não estamos entendendo, nem temos como ter certeza. E infelizmente ela está morta", lamentou a irmã.

Ao longo da entrevista, que durou quase 50 minutos, Cleane contou que não sabia se Graciela e Danial estavam ou não rompidos. "Ela não falava de briga, se estava tendo algum problema com ele. No dia da discussão, ele teve essa briga com ela, ela saiu armada, segundo ele falou, com o cachorro e pegou o veículo dela para ir em uma floresta 1h da manhã. A gente não entende, mas vai descobrir, com fé em Deus. E ele acionou a polícia. Mas foi uma briga entre eles dois, se ele não a ameaçou, e ela não o ameaçou, por que ele acionou a polícia? A polícia chegou até a casa dele, perguntou o que aconteceu e ele contou o que aconteceu. Perguntaram se ele sabia para onde ela poderia ter ido. Ele informou que ela gostava de fazer trilha. Então, a polícia foi até a trilha. Isso foi o que a polícia me informou. "Fomos até o local, encontramos o veículo da sua irmã, estava ligado, mas ela não estava dentro do carro. Andamos mais um pouco e avistamos sua irmã sentada ao lado de uma árvore, com o cachorro e uma arma. Nos aproximamos, falamos, ela não entendeu, não percebeu que era polícia, e botou a mão na arma. A gente usou força letal contra sua irmã, ela foi baleada e morreu", relatou Cleane ao descrever o que ouviu dos oficiais americanos.

"Falaram que ela colocou a mão na arma, não apontou a arma para eles. Quem falou foi uma investigadora da Polícia de Los Angeles. Eles pediram para falar comigo. Ela falava em inglês e uma outra pessoa traduzia para mim".

Família questiona versões - "O Daniel, que era o namorado dela, acho que ele deveria ter mais esclarecimentos sobre o caso. Ele é americano. Ele é um ex-militar da Marinha, é aposentado pela guerra. Ele é uma pessoa que tinha poder de ter mais conhecimento sobre o caso e não nos avisou. Consegui contato com ele através de um amigo dela, que pedi para ele ir até a Califórnia procurar mais informações. Esse amigo tentou e localizou o Daniel, que foi quando mantive contato com ele e perguntei sobre o assunto. Daniel me falou umas coisas que, para mim, não convém. Outra coisa que eu quero que as autoridades tenham investigação severa com Daniel", cobrou Cleane.

Ela ressalta que Daniel respondeu não saber muito sobre a morte da modelo. "Porque quando ela saiu de casa, ele não foi atrás. A polícia, que ele acionou, voltou uns 15 minutos depois e disse que ela já estava morta a 1km da casa em que ela morava. Quando perguntei a ele se ele não foi ver o corpo da minha irmã, ele disse que não, porque não tinha coragem de vê-la morta. Depois que a gente começou a mexer no caso, que pediu fotos, o nome dela nas matérias que saíram nos jornais, então saiu outra versão da polícia. Em que ela apontou a arma e atirou contra os policiais, e eles atiraram de volta nela com arma de choque. Você atira contra o policial americano e ele atira de volta com arma de choque? Não existe".

Ainda durante a entrevista, Cleane revelou que ainda não sabe qual o paradeiro de pertences da irmã, como o notebook e o celular. Ela foi informada pelas autoridades americanas que os objetos pessoais recolhidos junto ao corpo de Graciela no dia da morte seria enviados ao endereço da família no Brasil, mas já se passaram 30 dias e nada chegou para a família. Ao mesmo tempo, ela tenta obter mais informações de Daniel.

"Perguntei sobre as coisas dela, os documentos. Ele disse que não sabia, que as bolsas dela estavam arrumadas. Pedi o celular e o notebook dela, que através desses dois aparelhos a gente vai encontrar alguma coisa, saber se ela estava sendo ameaçada. Ela gostava de escrever e guardar o que ela sentia ou o que ela pretendia fazer. Ele falou que não sabia do celular. Numa ligação que ele fez com minha irmã em São Paulo, até pedi para ela guardar essa mensagem, ele disse que ligou para a Gleise, pedindo para ela voltar para casa, mas ela não voltou. Quando eu perguntei, ele disse que não sabia se ela estava com o celular. Então, são duas coisas que não estão batendo. Para mim, ele falou que não sabia se ela estava usando o aparelho, já para minha irmã, ele disse que ligou e pediu para ela voltar para casa".

Graciela pretendia voltar ao Brasil - "Ela só me falou que estava namorando, que morava com ele. Ela me disse que queria voltar de vez para o Brasil agora em 2023, que queria morar aqui, montar duas agências de modelo, sendo uma no Rio de Janeiro e outra em Aracaju".