Polícia

Fraude na água adicionada de sais pode ter afetado paraibanos

Click PB | 09/11/18 - 15h15
Reprodução Click PB

Mais de 1,5 milhão de paraibanos, 40% do total, devem ter sido afetados pela água adicionada de sais que foi considerada irregular durante a deflagração da Operação Poseidon. A estimativa feita a partir da fiscalização ainda informa que a água irregular alcançou 24 municípios do estado.

A Operação Poseidon foi deflagrada durante toda esta semana em 22 municípios paraibanos, para fiscalizar fábricas de água adicionada de sais que atuam no Estado. João Pessoa e Campina Grande eram as cidades para onde o produto mais era escoado.

O promotor Glauberto Bezerra detalhou ainda que uma empresa dentre as fiscalizadas tinha no lacre a informação de que era água mineral enquanto no rótulo informava que se tratava de água adicionada de sais. Ele afirmou ainda que nessa empresa “a estrutura sanitária é totalmente inadequada, nem filtro essa empresa tem e sai do poço direto, pelo menos é o que aprioristicamente a princípio se detectou”.

Marcel Figueira, coordenador de Segurança Institucional da Anvisa, destacou em entrevista que a ingestão da água imprópria para o consumo acarreta vários problemas para a saúde. “Águas adicionadas de sais estavam sendo produzidas com um volume muito grande de sal. Por exemplo, o cloreto de sódio pode trazer para uma pessoa hipertensa problemas vasculares graves, o consumo diário disso”, destacou.

O coordenador também explicou que durante a fiscalização foram encontrados vários problemas. “Tinha sapo, os recipientes todos sujos, manuseio da água sendo feito com as mãos sem higienização, pode trazer uma consequência em relação a parasitas, infecções gastrointestinais e demais outros problemas”, detalhou Marcel.

A ingestão de água imprópria para o consumo humano acarreta riscos de doenças provocadas por bactérias e parasitas, com sintomas como febre, dores de cabeça, náuseas, vômitos, diarreia e desidratação grave que pode levar à morte. Além disso, a falta de procedência e uso fora dos padrões dos sais adicionados à água também poderiam prejudicar pessoas hipertensas e com problemas renais.

Apesar dos problemas encontrados, caso as empresas se adequem à legislação e cumpram todas as regras, poderão voltar a funcionar. Apesar disso, Marcel antecipou que “muitas delas eu acredito que não tenham a mínima condição e não retornarão ao mercado”.

17 fábricas fechadas e oito pessoas presas

A Operação Poseidon constatou que 83% das empresas de fabricação de água adicionada de sais estavam irregulares no estado da Paraíba. Foram fiscalizadas 24 empresas e somente quatro estavam em situação regular, a 'Santa Vitória' (localizada em Alagoa Nova), a 'Terra Santa' (localizada em Jericó), a 'Savoy' (que fica em Queimadas) e a 'Delícia' (localizada em Santa Luzia).

Quatro empresas foram fechadas por problemas na documentação (a 'Cristal Leve', em Areia; a 'Igapo', em Sousa; a 'Água Prata', em Prata, e a 'Olho D´Água', em Triunfo) e 13, por irregularidades sanitárias graves, que colocam em risco a saúde da população. São elas: 'Cristal de Areia' (em Areia), 'Fonte da Vida' (em Monteiro), 'Pureza' (em Conceição), 'Agrovida' (em Lagoa Seca), 'Vale Cristal' (em Cajazeiras), 'Clara Serra' (em Bananeiras), 'Várzea Verde' (em Frei Martinho), 'Ivna' (em Soledade), 'Água do Vale' e 'Água Azul' (em Santa Luzia), 'Água Clara' (em Piancó), 'K´Delícia' (em Caaporã) e ADI (em São João do Cariri).

Outras três fábricas foram notificadas e receberam recomendação dos órgãos por apresentarem irregularidades passíveis de soluções mais imediatas: a 'Nova Fonte' (em Manaíra), a 'Purifique' (em Pombal) e a 'Água do Sertão' (em Piancó).

Dentre os presos estão proprietários das empresas e responsáveis técnicos. Eles vão responder por crime previsto no artigo 7 da Lei 8137/1990 (cuja pena é de detenção de um a cinco anos e multa) e no artigo 272 do Código Penal (cuja pena também é de detenção de quatro a oito anos).

Irregularidades

De acordo com a Anvisa, as principais irregularidades sanitárias constatadas nas empresas foram: equipamentos irregulares que não garantem a qualidade do produto, a ausência de adição de sais, problemas de higiene nos ambientes de produção (em alguns, foram encontrados animais como sapo e perereca e vetores) e fabricação de água sem atender ao mínimo exigido pela Resolução da Diretoria Colegiada de número 182 da Anvisa, que versa sobre o assunto.

Em relação aos problemas de ordem fiscal, a SER-PB identificou que, a irregularidade mais grave encontrada foi a ausência de nota fiscal de compra dos produtos adicionados à água, o que dificulta saber a procedência e qualidade dos insumos.