A adolescente afegã Qamar Gul, de 15 anos, não se intimidou diante de insurgentes do Talibã, que assassinaram seus pais, na semana passada, em um vilarejo da província central de Ghor. Passado o susto, após ter a casa invadida pelos extremistas, reagiu e matou dois deles. Ontem, a jovem disse que está pronta para enfrentar qualquer outro fundamentalista que tentar atacá-la.
“Não tenho medo deles. Estou pronta para lutar contra eles novamente”, disse a adolescente à agência de notícias France Presse (AFP), por telefone da casa de um parente. “Tenho orgulho de ter matado os assassinos dos meus pais”, afirmou, lamentando não ter conseguido se despedir deles.
Um grupo de aproximadamente 40 talibãs invadiu a vila do distrito de Taywara, no fim da noite da quinta-feira passada. Por volta de meia-noite, Qamar Gul estava dormindo com o irmão de 12 anos em seu quarto quando ouviu a porta da casa abrir. “Minha mãe correu para detê-los, mas a essa altura eles já haviam arrombado a porta”, relatou a jovem.
Raiva
Os extremistas dispararam várias vezes contra os pais da adolescente. “Fiquei aterrorizada”, recorda-se. Momentos depois, veio a reação. “A raiva tomou conta de mim. Peguei a arma que tínhamos em casa, fui até a porta e atirei neles”, contou. O pai a ensinou a disparar um fuzil AK-47.
O irmão da jovem a ajudou quando um dos insurgentes, que parecia ser o líder, tentou se defender. “Meu irmão pegou a arma de mim e atirou nele. O combatente fugiu ferido, mas voltou mais tarde”, continuou ela. Em seguida, vizinhos e milicianos pró-governo chegaram à casa. Os talibãs, finalmente, fugiram após um longo tiroteio.
Segundo as investigações, os extremistas mataram o pai da adolescente, que era o líder do vilarejo, porque ele apoiava o governo. O grupo extremista costuma matar moradores suspeitos de serem informantes das autoridades ou das forças de segurança. Taywara é uma área remota e cenário de confrontos quase diários entre as forças do governo e o Talibã.
Afegãos inundaram as mídias sociais manifestando apoio à jovem, e uma foto dela, usando um lenço na cabeça e segurando uma AK-47, foi amplamente compartilhada. Centenas de pessoas pediram ao governo para protegê-la. O presidente Ashraf Ghani também elogiou a adolescente por “defender sua família contra um inimigo cruel”.
