Brasil

Homem-placa traz holografia para campanha eleitoral

04/08/18 - 22h58

Em 2014, quando o atual primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, então concorria às eleições, foi visto em um comício em diferentes cidades ao mesmo tempo.

Sua campanha eleitoral contou com uma tecnologia até então usada apenas em grandes shows, a holografia.

O discurso de quase uma hora exibia uma imagem tridimensional do candidato, o que lhe poupou de viajar para diferentes regiões do país.

Além da Índia, há registros de comícios que usaram a tecnologia na França, em 2017, e na Nova Zelândia, em 2018.

No Brasil, a empresa paulistana Holo Ahead quer ser a pioneira na corrida presidencial holográfica.

O holograma é uma representação em três dimensões, portanto dá a ideia real de relevo, e é resultado de uma técnica que foca na propriedade ondulatória da luz.

Apesar de antiga –foi criada na década de 1940–, seu potencial para conquistar eleitores só foi explorado nos últimos anos.

Os publicitários Gabriel Cecilio e Leandro Nunes desenvolveram uma mochila que transmite imagens em 3D para chamar a atenção do eleitorado nas ruas.

Feita de polietileno e com peso de pouco mais de um quilo, a mochila traz o dispositivo portátil abarcado. A ideia é que o objeto seja leve para que cabos eleitorais possam carregar nas costas. A bateria dura de seis a oito horas.

A aposta em "homens-placas digitais" foi a forma viável que os idealizadores encontraram para rodar a tecnologia nessas eleições.

"A tecnologia da Índia, por exemplo, é cara e de difícil implementação. Soluções de tamanho real custam milhões, dependem de uma grande infraestrutura para a projeção acontecer e exigem óculos ou algum tipo de dispositivo como intermediador. No meu entendimento, é inviável trazer isso ao Brasil", diz Cecilio.

A projeção nesse caso acontece por meio de uma lâmina com vários LEDs acoplados, que gira graças a um motor. A resolução é de 512 x 512 pixels.

Para viabilizar comercialmente o produto, os empresários fizeram uma parceria com uma universidade chinesa que desenvolve a tecnologia em escala industrial.

Os conteúdos são transmitidos por meio do aplicativo da marca no celular (via wi-fi) ou por controle remoto (modo que consome menos bateria).

Por enquanto, não é possível realizar transmissão ao vivo.

A Holo Ahead precisou adequar a novidade à legislação eleitoral brasileira –apesar de a mesma não mencionar "displays holográficos".

Como a lei determina que uma peça de comunicação não seja superior a 50 centímetros, o modelo ficou com 42 centímetros.

Esse tipo de objeto é comum no varejo, mas ainda não foi usado para substituir folhetos e santinhos nas cidades.

A mochila já foi apresentada em convenções de partidos como PSDB e MDB, mas os sócios pretendem levá-la a outras legendas. A recepção, segundo Cecílio, "é incrível".

Nessa eleição, a locação da mochila (são 1.000 unidades) custará R$ 6.600 pelo período da campanha, que inicia no dia 16 de agosto.

O custo foi elaborado com base na remuneração diária de um cabo eleitoral.

Até agora, nenhum partido político fechou contrato, mas os sócios estão otimistas.

"Com o impacto que vimos na rua e nas convenções, não temos dúvida de que terá saída. O coordenador da campanha na França disse que não esperava aquele buzz com a holografia. Os políticos que adotarem essa tecnologia mostrarão que estão abertos a novidades", diz Cecilio.

Advogados ouvidos pela Folha de S.Paulo dizem que o objeto está em conformidade com a lei.

A legislação eleitoral não menciona holografia, mas o tamanho condiz com o exigido para propagandas.

Já a Lei da Cidade Limpa, em vigor em São Paulo, diz que peças eleitorais são especiais, portanto respondem à lei nacional.