Brasil

"Injusta e arbitrária", diz mãe sobre prisão de brasileiros em Cabo Verde

Letícia Sobreira* | 21/01/19 - 17h40
Daniel Guerra, Daniel Dantas e Rodrigo Dantas | Arquivo Pessoal

Após um ano e dois meses presos preventivamente, a Justiça de Cabo Verde decidiu anular a sentença do julgamento de primeira instância que condenou os velejadores brasileiros Rodrigo Dantas e Daniel Ribeiro Dantas. Os dois são acusados, juntamente com Daniel Guerra e o francês Olivier Thomas, de tráfico internacional de drogas. Eles negam conhecimento sobre pouco mais de uma tonelada de cocaína que estava escondida no casco da embarcação que trabalhavam. Um inquérito da Polícia Federal brasileira considera os jovens inocentes.

A reportagem do Portal TNH1 conversou exclusivamente, nesta terça-feira (21), com Aniete Dantas e Rita Dantas, mãe e tia de Rodrigo Dantas, um dos jovens que estão presos em Cabo Verde.  Aniete reside na Bahia e Rita, em Maceió. As duas relatam meses de angústia pela prisão de Rodrigo através de um julgamento "arbitrário", dizem.

“A decisão de primeira instância foi baseada apenas no senso individual do juiz. Ele não ouviu nenhuma testemunha do caso. Os meninos não estavam mais trabalhando com a companhia de transportes no dia da inspeção que encontrou a droga no barco”, conta Aniete, mãe de Rodrigo.

A anulação da sentença, que aconteceu na última terça-feira (15), se deu em atendimento à solicitação do advogado de Rodrigo Dantas, que alega ter sido prejudicado pela decisão do juiz da primeira instância de não ouvir as testemunhas de defesa dos velejadores. Em prisão preventiva, os suspeitos só poderiam ficar presos de 14 a 16 meses, segundo a Justiça de Cabo Verde, o que deveria resultar na soltura dos brasileiros dentro dos próximos dias.

“É uma situação arbitrária, uma decisão questionável e injusta. Eles [Rodrigo e Daniel] não sabiam da carga escondida na embarcação, só foram contratados pela empresa de transportes. A Polícia Federal conseguiu provar isso e a Justiça de Cabo Verde não aceita, dizem por lá que a nossa família comprou o inquérito da PF”, disse Rita Dantas, tia de Rodrigo. Ela contou que, em Maceió, alguns familiares e amigos já estão se mobilizando pela liberdade do velejador.

Através de conversas, Rodrigo relatou à família as circunstâncias em que vive no cárcere, em Cabo Verde, que chegou a ilustrar em desenho. “É uma situação desumana a que estão submetendo o meu filho. Está trancado em um cubículo onde o sol e até mesmo a água tem consumo regrado. Já levamos o processo a vários juristas, nenhum esteve de acordo com o andamento que a justiça de Cabo Verde tem dado ao caso”, lamentou a mãe.

Ilustração de Rodrigo Dantas da cela em que so brasileiros estão presos em Cabo Varde

O caso

Rodrigo Dantas, o baiano Daniel Ribeiro Dantas e o gaúcho Daniel Guerra, foram contratados por uma companhia de entregas para conduzir uma embarcação de Salvador até Portugal, na Europa, em uma viagem que começou em julho de 2017, mas que acabou em uma ilha de Cabo Verde em agosto do mesmo ano, no dia 23, quando a embarcação passou por uma vistoria e foi detida na Ilha de Mindelo, em Cabo Verde, quando agentes de segurança descobriram pouco mais de uma tonelada de cocaína escondida no casco do barco.

No dia 22 de agosto, Rodrigo Dantas pediu demissão e Daniel Dantas foi demitido pela empresa de transportes. Apenas Daniel Guerra e o francês Olivier Thomas, capitão da embarcação, estavam presentes na vistoria e foram presos e julgados quatro dias depois da apreensão. A embarcação apreendida pertence ao inglês George Edward Saul, que havia contratado o serviço de transportes e desistido de realizar a viagem com os velejadores de última hora, embarcando para Portugal de avião.

Rodrigo Dantas e Daniel Ribeiro Dantas tiveram prisão preventiva efetuada em dezembro de 2017, sob a alegação de risco de fuga. No entanto, os dois já haviam sido demitidos pela companhia há dois meses. Os jovens alegam que não sabiam da droga que estava na embarcação, assim como o inquérito da Polícia Federal brasileira descarta qualquer participação de Rodrigo e Daniel no esquema de tráfico e chegou a emitir nota de repúdio sobre conduta da Justiça de Cabo Verde.

*Estagiária sob supervisão da editoria