Brasil

Museu Nacional inicia reconstrução três anos após incêndio

Folhapress | 12/11/21 - 20h28
Custódio Coimbra / Agência O Globo / Reprodução

Mais de três anos depois do incêndio, o Museu Nacional começa a ser reerguido. O palácio bicentenário que foi casa da família imperial e primeira instituição científica do país, porém, por enquanto só verá sua fachada e parte de seu telhado reformados. A ideia é finalizar essa parte externa até 7 de setembro de 2022, para sediar as comemorações dos 200 anos da independência do Brasil. Mas atrasos no cronograma não foram raros até aqui, com entraves nas licitações e na obtenção de verbas e, principalmente, com a pandemia.

A previsão inicial era iniciar a reforma ainda em 2019, quando a tragédia completou um ano. Depois, especulou-se junho deste ano, o que também não se concretizou. O interior do edifício, que agora já tem um projeto pronto, deve ficar ao menos para 2026. O imponente palácio na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio de Janeiro, segue cercado por tapumes e envolto por uma gigante cobertura de metal que o protege das chuvas, já que seu telhado e seus dois pavimentos desabaram com as chamas.

Foi dentro dele, com tijolos ainda expostos pelo fogo e estruturas aço ainda retorcidas, que ocorreu nesta sexta (12) a cerimônia de início das reformas. O prefeito Eduardo Paes (PSD) compareceria, mas não foi e enviou seu secretário de Planejamento Urbano, Washington Fajardo.

"É uma emoção muito grande o início dessa obra, para todos nós que lutamos tanto, sofremos tanto", discursou Alexander Kellner, diretor do museu, ligado à UFRJ. "Hoje nós damos o pontapé inicial para virar a página de uma das maiores tragédias que aconteceram no campo científico e cultural do nosso país."

A instituição conseguiu arrecadar até agora 65% da verba de 385 milhões necessária para a reconstrução, que veio em grande parte da Vale e do BNDES e será gerida pela Associação Amigos do Museu Nacional. A construtora responsável é a Concrejato.

Sobre as obras da fachada, "a grande novidade é que não vai ter novidade", diz Kellner. Ela será idêntica ou o mais parecida possível com a do edifício original, "só não vamos usar óleo de baleia como antigamente", ele brinca. Já o telhado terá algumas partes de vidro, para deixar a luz natural entrar. As únicas reformas que já haviam começado dentro do palácio eram as do Jardim das Princesas, onde foi escrita a primeira constituição republicana do país. Tronos e mosaicos foram restaurados, e o paisagismo vai começar a ser feito.

A principal meta agora é recuperar o acervo perdido no maior museu de história natural e antropológica da América Latina. Estima-se que 85% dos 20 milhões de exemplares que estavam no prédio tenham sido destruídos durante as mais de seis horas do incêndio na noite de 2 de setembro de 2018.

A expectativa é que os pesquisadores consigam recuperar de 20 mil a 50 mil dos itens resgatados nos escombros, que abarcam a maioria das coleções existentes. Entre eles estão peças célebres como o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo na América do Sul, e o meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no país, que ficava na entrada e resistiu às chamas.

"É fundamental entender que o maior desafio para a reconstrução do Museu Nacional se chama acervo. Você não consegue recuperar um acervo de 200 anos de uma hora para a outra. E também precisamos de ajuda de outros países para isso", ressaltou o diretor.

No último dia 3 de setembro, a instituição lançou uma campanha internacional com o objetivo de arrecadar cerca de 10 mil exemplares, que serão divididos em quatro circuitos expositivos: histórico, universo e vida, ambientes brasileiros e diversidade cultural. Até agora, foram doados por volta de 500.

Outro passo importante previsto para acontecer no início do ano que vem é a abertura de um centro de visitação voltado às crianças. A estrutura já está pronta no novo campus de ensino e pesquisa do museu, próximo ao Maracanã (zona norte do Rio), mas ainda falta o acervo.

"O movimento pela educação começa no Brasil com a chegada da família real, em 1808. Precisamos cada vez mais valorizar a educação, a ciência, a cultura e a tecnologia, porque longe disso não seremos um país verdadeiramente independente, apesar de estarmos há 200 anos independentes", concluiu a reitora da UFRJ, Denise de Carvalho.