Contextualizando

No Dia da Consciência Negra, professora indaga: “Zumbi ainda mora aqui?”

Em 20 de Novembro de 2022 às 15:30

Texto da professora Arísia Barros, do Instituto Raízes de Áfricas:

“Mesmo sendo o berço político de Zumbi dos Palmares, registrado honrosamente como herói nacional no livro de aço dos Heróis Nacionais, exposto no salão principal do Panteão da Pátria Tancredo Neves, em Brasília, o estado político das Alagoas rouba, com uma omissão pacificada, pela conivência de esquerda, direita, volver, o lugar da legitima participação e representação política e social dos descendentes de Palmares.

O estado alagoano adota o discurso teórico e abstrato do atendimento aos mais pobres, estabelecendo o sequestro das identidades étnicas, esquivando-se de perceber que a problemática do racismo estrutural, vai bem mais além do que o conceito estigmatizante de pobreza.

Nas Alagoas de Jorge de Lima, de Palmares, o ‘pai’ da escravizada e analfabeta Nega Fulô, faltam letras inteiras no vocabulário de tantos meninos e meninas, quase todos pretos ou pardos, que sem a voz política do conhecimento são capturados pelo trabalho subalternizados, ou, na venda dos corpos mirrados nas beiras das pistas locais: Tio, eu ‘faço’ por um real!

Sua criança tem fome de quê?

Para além da fome, que por si só é uma violência mortal, o racismo  carrega uma série de fatores (é estrutural,né?), que causam impactos danosos, ao desenvolvimento infantil, principalmente, sob os pontos de vista psicológico e social, e quem se importa, com a integralidade da saúde do desenvolvimento das crianças pretas, em Alagoas?

A Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, ou quem sabe, o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial – CONEPIR, ou o Programa Criança Alagoana – CRIA, ou ainda o Fundo Estadual de Combate e Erradicação à Pobreza (FECOEP)?

São mortes em vida. Não é, Severina?

O estado contemporâneo gestado, por uma casta de homens brancos e, politicamente, brancos, versados na política universalista, adota, sem mea-culpa,  a cartilha do apartheid consentido, (sempre com a anuência da esquerda, direita, aliados, volver) e ao fazê-lo desestabiliza identidades, a ideia do pertencimento, incitando a população tutelada à perpetuação da segregação étnica e a aversão aos diferentes.
É o racismo estrutural envolto em uma letal carga de burocracia, neutralidade estatal, muitas vezes racial.

É a catástrofe da plataforma política exclusiva: ‘Se o povo não tem pão que coma brioches’, traduzindo Maria Antonieta, a rainha francesa.

Os fatos gritam, os números da pesquisa corroboram, 77% das crianças pretas/pardas alagoanas, o que significa 137.042, vivem em extrema pobreza, em um estado preto. A  população de Alagoas é 73%, entre pret@s e pard@s .

Só falta, agora, encontrar legítim@s representantes do povo, nesse estado sob nova direção executiva e a composição dos parlamentos, em Alagoas, ( temos? teremos, um dia?), alfabetizad@s na cartilha da gestão responsável atrelada a adoção de políticas públicas distributivas e emancipatórias ,que possam conter e paulatinamente, erradicar essa persistente sub cidadania das muitas gentes pretas/pardas viventes das Alagoas.

Será que Zumbi ainda mora aqui?”

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