Contextualizando

O velho discurso petista está de volta: nós, quem? Contra eles, quem?”

Em 8 de Julho de 2025 às 17:00

Texto de Celso Ming:

“Até pouco tempo atrás o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciava que governava para o interesse de todos os brasileiros, inclusive dos que votaram contra ele.

Hoje, vai sendo imposto o mantra do “nós contra eles”, sem que fique claro quem sejam esses ‘nós’ e quem sejam esses ‘eles’. Nós, os pobres? Nós, os proletários? Nós, os do partido? Nós, os democratas? Contra quem? Contra a direita? Contra a Faria Lima? Contra os manda-chuva de sempre? Seja o que — e quem — for, é o discurso da polarização, que pretende antecipar o debate eleitoral.

No momento, serve para defender o renitente aumento de impostos, em detrimento de um mínimo de objetividade: como é que o aumento do IOF, que deveria ser apenas para fins regulatórios – e não arrecadatórios - , beneficiaria o ‘andar de baixo’ e não os lobbies favorecidos pelo Congresso, se atinge em cheio as pequenas e médias empresas, os microempreendedores individuais MEIs) e o comércio que pratica o crédito denominado ‘risco sacado’?

Na falta de um inimigo claro, as velhas esquerdas que se agrupam ao lado do governo Lula ainda tentam se apegar à estratégia da diversidade, de parca densidade sociológica e ideológica, da defesa dos direitos das minorias (negros, mulheres, população LGBT+), ainda que resvalem para discursos extremistas, que pregam mais o ódio ao outro do que o combate às discriminações vigentes.

Poderiam refugiar-se na defesa dos valores da social-democracia. Mas têm, em relação a ela, um entendimento confuso e inconsequente, 

Como a questão central desse discurso não é de lógica aristotélica, cabe perguntar se, ainda assim, consegue colar na sociedade e no jogo político.

Quando perde votos e capacidade de mobilização, o governo apega-se a dois falsos diagnósticos: o de que é preciso melhorar a sua comunicação, e aí nomeia outro marqueteiro; e o de que é o de que falta diálogo com as bases – e se põe a fazer sermões, sem dar ouvidos ao outro lado.

Apesar das fartas políticas populistas e distributivas, a popularidade do governo Lula desliza ladeira abaixo. A percepção geral é de que a política econômica se aprofunda para o campo disfuncional. Novos rombos somam-se aos anteriores. A dívida pública vai crescendo, se aproxima dos 80% do PIB. Para pagar os lesados pelas fraudes do INSS, que até agora não haviam sido coibidas, o governo decidiu que vai aumentar a dívida e, assim, descarregar a conta sobre o contribuinte.

Muito antes da Inconfidência Mineira e da Derrama, sabe-se no Brasil, que há um limite para a extorsão tributária. Chega o momento em que o contribuinte não aguenta mais, mesmo quando as autoridades se esforçam para difundir a versão de que são os mais ricos que rejeitam a carga tributária e a empurram sobre os mais pobres.

E quando a sociedade não aguenta mais, as consequências políticas ficam inevitáveis.”

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