Walter Casagrande Jr., colunista do portal UOL:
“Não é só o treinador, comissão técnica, diretor de seleções que precisam mudar. As relações também precisam. A história do relacionamento dos jogadores e da seleção brasileira com a torcida e a sociedade brasileira precisam mudar urgentemente.
Esses relacionamentos precisarão ser reescritos, e os autores serão os novos jogadores. Aqueles que não foram contaminados pelo futebol ostentação, arrogante e prepotente dos líderes dessa última geração.
Eu tenho muita esperança no Richarlison, Vinícius Jr, Rodrygo, Antony, Pedro, Paulinho (Atlético-MG), outros que aparecerão ou alguns que ainda podem ser recuperados mas surfaram nessa onda.
A CBF precisa mudar o estilo da pessoa que irá trabalhar como intermediário entre a comissão técnica, direção e imprensa. Precisa ser alguém com personalidade e com estilo mais próximo das pessoas e não alguém que passa informação para amigos, porque cai a credibilidade entre vocês.
A seleção precisa jogar mais no Brasil, não só em jogos de Eliminatórias, mas também em amistosos espalhados pelas capitais do país.
Os torcedores de todo o Brasil têm o direito e merecem ver os seus ídolos de perto. É assim que se conquista identidade e aproximação com a realidade brasileira.
O povo precisa se sentir pertencente a esse processo de recuperação da imagem da seleção brasileira por todo país.
É uma questão de acolhimento: os torcedores acolhem a seleção, e os jogadores acolhem esses torcedores.
A CBF precisa se aproximar da sociedade e dos verdadeiros torcedores, e não dos torcedores de vitrine.
Precisa estar mais perto daqueles que são apaixonados pelo futebol, pela essência do esporte e da própria alma, e não daqueles que aparecem a cada quatro anos atrás de cliques para aumentar o número de seguidores nas redes sociais.
Precisa se aproximar daquele que chora com as vitórias e derrotas, e não dos que fazem caras e bocas para o telão e para as selfies.
O Brasil continua sendo o país do futebol, só que não para essa turma oportunista. Mas daqueles torcedores invisíveis que estão em casa assistindo a Copa, porque não tem dinheiro e nem patrocinadores para estarem perto da seleção.
A seleção brasileira precisa se aproximar daqueles que por gerações e gerações torcem, porque esses só querem em troca gritar gol e sentir orgulho de ser brasileiro.
Lembram daqueles que torciam da geral do Maracanã? Ou daqueles que ficavam colados na grade do Pacaembu? Esses lugares não existem mais, mas aquelas pessoas ainda existem, e aos montes.
A CBF precisa levar a seleção até eles, porque hoje em dia essas pessoas não conseguem mais ir até até a seleção.
É o pedido de um cara que ficou muitas vezes colado naquela grade do Pacaembu, mas que também jogou pela seleção brasileira numa época em que tínhamos orgulho de ouvir o torcedor gritar o nosso nome e de encostar as mãos na gente.
Não nos escondíamos com óculos escuros e fones de ouvido, com distância deles — porque óculos se usa e nem sempre para se esconder . Por que usar fones quando o torcedor só quer um pouco de atenção?
Por que não ouvir o carinho do povo? Por que ignorar pessoas que te admiram? Esse comportamento diminuiu a proximidade com os jogadores.
Alguns falarão assim: Mas, Casão, os jogadores das outras seleções também usam fone? Nem todos.
Mas cada país tem um modo de se relacionar com o seu povo. No Brasil, é sempre através da proximidade e do carinho, e não com distanciamento e aproximações ignoradas.
O Brasil já está mudando. A seleção brasileira e a CBF precisam acompanhar essa mudança.
A seleção precisa ouvir a voz do torcedor de perto.”