Texto do jornalista Ricardo Kotscho, no portal UOL:
“A campanha lançada hoje para comemorar os 100 dias de governo na próxima segunda-feira conseguiu a proeza de produzir um duplo plágio.
A assinatura ‘O Brasil Voltou’ é uma cópia literal do banner que o governo de Michel Temer colocou no Palácio do Planalto, ao completar dois anos, em 2018, como mostra fotografia publicada na coluna Radar da revista Veja desta semana.
O texto, por sua vez, é ‘inspirado’ na clássica ‘Aquarela do Brasil’, de Ary Barroso, que virou um segundo hino brasileiro.
‘O Brasil que ama a sua terra, sua cultura, sua natureza, sua gente voltou. Voltou para cuidar e fazer mais, muito mais, para cada brasileiro e brasileira, unindo cuidado e crescimento, pessoas e desenvolvimento. O Brasil voltou para fazer mais por nossa gente’, diz a narração.
Não há nenhuma referência ao principal feito do governo Lula 3 até agora _ a volta da plena democracia e do Estado de Direito, tão ameaçados nos quatro anos do governo anterior e golpeados no dia 8 de janeiro, durante a invasão à sede dos poderes, em Brasília.
Também o resgate do povo Yanomami, ameaçado de extinção, que marcou este período, não foi citado no texto.
A campanha de Temer foi criada pelo marqueteiro Elsinho Mouco, em 2016. A canção de Ary Barroso foi composta numa noite chuvosa de 1939, em pleno Estado Novo, e praticamente inaugurou o samba-exaltação na música brasileira…
Os responsáveis pela publicidade institucional do governo, que eu não conheço, tiveram 100 dias para pensar na campanha dos 100 dias, mas acabaram misturando criações pretéritas de Michel Temer com Ary Barroso.
Pisaram feio na bola, dando a margem para a produção de memes pelos adversários. Isso se reflete também no balanço das ações do governo neste período, em que os principais programas sociais lançados até agora são os herdados de mandatos anteriores de Lula (Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos).
As ‘ boas novidades’ anunciadas – redução do preço das passagens aéreas e dos juros do crédito consignado para aposentados – ou não eram viáveis ou não eram boas, e foram chamadas de ‘genialidades’ pelo próprio presidente. Faltam ainda novas e boas ideias para o governo Lula 3, e não só na publicidade institucional.
Na economia, Fernando Haddad, o melhor ministro do governo, está dando os primeiros passos com firmeza, até chegar à reforma tributária, mas é mais elogiado por adversários do que por aliados.
Lula mesmo andou dizendo para seus ministros que quer ‘um novo governo Lula’ e não ‘um governo Lula de novo’.
Vida que segue.”