Contextualizando

Por que é indispensável se chegar ao(s) mandante(s) da vereadora Marielle Franco

Em 31 de Julho de 2023 às 21:48

Texto de Nuno Vasconcelos, no portal “IG”:

“… A história do Brasil, infelizmente, registra dezenas de crimes com motivações políticas e a maioria deles continua sem resposta. Num cenário como esse, e por mais desconfortável que seja fazer esse tipo de afirmação, é preciso admitir que a execução de Marielle Franco foi apenas mais um entre dezenas de episódios parecidos.
Existe, porém, um fato que torna esse crime diferente dos demais. Enquanto parece existir em torno da maioria dos crimes políticos um certo esforço no sentido de encerrar logo a discussão e colocar uma pedra sobre o assunto, no caso de Marielle, existe a tentativa de manter sempre acesa a chama que joga luz sobre essa tragédia.

Nem é o caso de mencionar, por exemplo, o atentado cometido em setembro de 2018 na cidade mineira de Juiz de Fora, em plena campanha eleitoral, que quase custou a vida do então candidato a presidente Jair Bolsonaro. A celeridade com que se procurou dar o assunto por encerrado e a rede de proteção que se formou ao redor do acusado de cometer o crime, o ex-militante do PSOL Adélio Bispo de Oliveira, levantou suspeitas de parcialidade.

Para muita gente, uma série de elementos sugerem que o tratamento dado ao episódio pela Polícia Civil de Minas Gerais e pela própria Justiça foi superficial demais e mesmo assim deu esclarecido, de forma peremptória, um crime sobre o qual ainda pairavam muitas dúvidas…

É melhor ficar por aqui! Qualquer comparação entre o atentado que tirou a vida de Marielle e o episódio que causou um ferimento gravíssimo em Bolsonaro é arriscada: desperta paixões inflamadas e traz o risco de desviar a conversa do rumo que interessa. O que se compara aqui, portanto, não é a gravidade dos fatos, mas a diferença de postura em torno de cada um deles.

O atentado contra Bolsonaro também é apenas um entre dezenas de episódios que, até para se eliminar as dúvidas que abrem espaço para suspeitas, mereciam ter sido discutidos com mais profundidade do que foram. No entanto, existe em torno deles um silêncio ensurdecedor.

Falando apenas de atos de violência que atingiram nomes importantes da esquerda, é o caso de fazer sobre dois assassinatos cometidos contra políticos do PT a mesma pergunta que se lança sobre o caso de Marielle. Quem mandou matar o ex-prefeito de Campinas, Toninho do PT?

O crime aconteceu no dia 10 de setembro de 2001 — mas teve sua repercussão diminuída pelo atentado terrorista que, no dia seguinte, pôs abaixo as torres gêmeas na cidade de Nova York. Quem mandou matar, no ano seguinte, o então coordenador da primeira campanha de Lula à presidência da República, o ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel?

O que impressionou nesses dois casos foi a pressa em dar o caso por resolvido e impedir qualquer iniciativa no sentido de se aprofundar as investigações sobre os assassinatos — logo classificados como “crimes comuns” pelos investigadores. No caso de Antônio Costa Santos, o Toninho do PT, a família jamais aceitou, mas teve que se contentar com a versão de que o crime foi causado por um desentendimento com criminosos no trânsito…

É preciso, até em respeito à memória de Marielle, concluir a investigação! Da próxima vez que o assunto for trazido às manchetes, que venha acompanhado pelo nome de quem deu a ordem e pela razão concreta para a execução do crime contra alguém que, além de ter toda uma carreira pela frente, tinha todo o direito conferido pela democracia de lutar por suas crenças e convicções!

Voltar a falar no caso para que tudo fique como está, com todo respeito, dá a impressão de querer lucrar com a tragédia. E isso, com mais respeito ainda, significa matar Marielle mais uma vez.”

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