Professor diz que contraiu superbactéria após raspar as partes íntimas: "Quase morri"

Publicado em 03/11/2025, às 09h46
Reprodução/Vídeo
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Por Viva Bem/UOL

Vinícius Zacchia, professor de inglês, enfrentou uma grave infecção após um corte durante a depilação, que evoluiu para gangrena de Fournier, uma condição potencialmente fatal. O diagnóstico tardio poderia ter resultado em complicações severas, incluindo risco de morte.

Após uma série de internações e cirurgias, foi confirmado que ele contraiu uma infecção por MRSA, uma superbactéria resistente a antibióticos, que exigiu tratamento intensivo e acompanhamento médico. A infecção se agravou rapidamente, levando a um quadro de febre alta e mal-estar generalizado.

Agora recuperado, Vinícius adotou novos cuidados com a pele e recomenda precauções rigorosas antes de qualquer depilação, como garantir a integridade da pele e o uso de instrumentos limpos. Especialistas alertam sobre os riscos de infecções graves e a importância de buscar atendimento médico imediato em casos de sintomas alarmantes.

Resumo gerado por IA

O professor de inglês Vinícius Zacchia, de 29 anos, viveu semanas de incerteza em setembro, após desenvolver uma infecção grave. O problema começou com um corte próximo à região íntima, após uma depilação com máquina.

"Na verdade, eu nem sabia que tinha me cortado. Tudo começou com uma dor leve, meio incômoda, numa região onde eu jamais imaginaria que algo grave pudesse acontecer", afirmou.

Nos dias seguintes, a dor aumentou e o local começou a inchar. Ao procurar o hospital, recebeu o diagnóstico de hemorroida e foi mandado para casa com medicação. Ao retornar, acreditou que era algo simples, mas o incômodo começou a piorar.

Em três dias, o quadro se agravou. A dor ficou muito intensa, o inchaço aumentou, e Vinícius começou a ter febre alta, calafrios e um mal-estar geral, que, segundo ele, era como se o corpo inteiro estivesse tentando avisar que algo estava errado.

De volta ao hospital, ele tinha dificuldade para andar e os médicos perceberam que o quadro era muito mais grave do que parecia. A suspeita inicial era de uma gangrena de Fournier, condição rara e perigosa, que pode se espalhar rapidamente e colocar a vida em risco.

Vinícius foi levado às pressas para uma cirurgia de drenagem de abscesso. Só depois do procedimento veio o diagnóstico. Ele estava com uma infecção por MRSA, uma superbactéria resistente a vários tipos de antibióticos.

"Raspei minhas partes íntimas, contraí uma superbactéria e quase morri", resumiu ele, ao contar sua história em um vídeo no TikTok.

Três semanas de internação

Após a cirurgia, começou o tratamento com antibióticos intravenosos, curativos diários e acompanhamento com infectologistas. "Fiquei 8 dias internado na primeira vez, e depois precisei ser internado novamente por mais 15 dias. Ao todo, foram mais de três semanas de internação".

Durante esse período, ele precisou se afastar por completo das atividades, inclusive das aulas e gravações da escola onde dá aulas de inglês. "Foi um choque, porque saí de uma rotina superativa com treinos, alimentação regrada e muito trabalho, direto para um quadro grave de infecção."

Segundo os médicos que o atenderam, se não tivesse agido rapidamente, havia riscos de complicações mais graves e, dependendo da evolução da infecção, até morte.

"A MRSA é uma bactéria muito resistente e pode atingir a corrente sanguínea, causando infecção generalizada. No meu caso, além disso, havia o risco de gangrena de Fournier, que é uma condição extremamente grave", diz ele.

"Quando falaram em gangrena de Fournier, eu entendi a gravidade da situação. Felizmente, o diagnóstico precoce e o tratamento rápido foram decisivos, junto com o meu histórico de cuidar bem da saúde", disse Vinícius Zacchia.

Recomeço e cuidados redobrados

Depois de quase um mês internado, Vinícius recebeu alta e voltou para casa.

"Foi um susto enorme e uma lição para a vida inteira. Minha alta definitiva foi depois de mais de três semanas internado. Voltar para casa foi um alívio indescritível. A recuperação é lenta, mas o mais importante é que agora eu estou bem, em casa, voltando à minha rotina e à minha vida."

Ele seguiu com o tratamento em casa e recebeu a confirmação de que realmente teve gangrena de Fournier, que evoluiu devido à bactéria. Devido ao tratamento, os sintomas não progrediram de forma rápida e não causaram danos mais graves, como necrose do tecido da região genital.

Depois da experiência, ele mudou completamente seus hábitos de cuidado com a pele. "Aprendi, da forma mais dura possível, que a bactéria poderia ter entrado por qualquer microcorte, em qualquer parte do corpo. No meu caso, para minha infelicidade, acabou sendo em uma região delicada, o que deixou tudo ainda mais complicado."

Hoje, o professor toma precauções extras. "Tenho apenas aparado os pelos, para evitar qualquer tipo de corte ou microlesão. Além disso, mantenho uma higienização cuidadosa antes e depois, e se um dia eu decidir voltar a fazer depilação, será apenas com profissionais de confiança em ambiente totalmente esterilizado."

Depilação e cuidados

Antes de qualquer depilação íntima, é fundamental garantir que a pele esteja íntegra e livre de irritações. A dermatologista Samara S. O. Kouzak, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), explica que a higienização com sabonete neutro deve ser feita antes do procedimento e que o uso de instrumentos limpos, sem resíduos e, preferencialmente, individuais é essencial.

Segundo ela, instrumentos contaminados ou o atrito da lâmina sobre a pele seca podem gerar microlesões que rompem a barreira de proteção natural, facilitando a entrada de fungos e bactérias. "Os pelos pubianos funcionam como uma barreira natural contra microrganismos, e sua retirada total deixa a pele mais vulnerável a traumas e infecções."

A dermatologista Carulina Moreno, da Associação Médica Brasileira (AMB), reforça que preparar a pele antes do procedimento reduz o risco de irritação e inflamação. Ela recomenda o uso de lâmina nova, espuma apropriada e movimentos suaves, evitando depilar a seco. Após a depilação, o ideal é enxaguar com água fria, aplicar hidratante sem álcool e reduzir o atrito e a umidade nas primeiras 48 horas.

Kouzak recomenda evitar a reutilização de lâminas, o uso de produtos vencidos e qualquer tipo de depilação em peles irritadas ou com lesões prévias. Manipular pelos encravados ou foliculites também pode abrir portas para bactérias.

Segundo ela, quem apresenta foliculites de repetição, diabetes, uso de medicamentos que reduzem a imunidade ou lesões inflamadas após depilação deve procurar um dermatologista antes de repetir o procedimento. "O médico pode orientar medidas de prevenção e avaliar se a depilação a laser é mais indicada, especialmente em casos de pelos grossos ou propensão a inflamações superficiais."

Moreno alerta ainda que dor intensa, vermelhidão que se expande, secreção purulenta ou mau cheiro são sinais de infecção. Em casos mais graves, quando há febre alta, bolhas ou escurecimento da pele, é preciso buscar atendimento de emergência. "A gangrena de Fournier é rara, mas evolui rapidamente e pode colocar a vida em risco", explica.

Infecção e gangrena de Fournier

A gangrena de Fournier é uma infecção grave que atinge a região genital e perineal, com evolução acelerada e risco de comprometimento de tecidos profundos. Segundo o dermatologista Marcelo Bellini, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, o quadro geralmente surge após a evolução de um abscesso ou infecção já existente na virilha ou na pelve.

"É uma condição que costuma ocorrer quando há uma infecção que se dissemina a partir de cistos ou abscessos na região pélvica. Quando os gânglios que deveriam conter o processo inflamatório não conseguem mais segurar, a infecção se espalha, levando à gangrena de Fournier", explica.

Bellini acrescenta que o ambiente quente e úmido da região íntima, somado ao atrito constante da roupa, favorece a proliferação de bactérias. Nesses casos, o tratamento inclui cirurgia para remover o tecido necrosado e o uso de antibióticos intravenosos em ambiente hospitalar.

Kouzak diferencia a gangrena de um abscesso comum. Enquanto o abscesso apresenta vermelhidão, inchaço localizado e dor delimitada, a gangrena de Fournier tem progressão rápida e sintomas desproporcionais à aparência inicial da pele.

"Os sinais de alerta são dor intensa na região genital, mudanças na coloração da pele, que pode ficar arroxeada ou escurecida, mau cheiro, febre alta e mal-estar generalizado. O diagnóstico é clínico e o tratamento deve ser imediato, pois o quadro pode ser fatal."

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