Jornalista Matheus Pichonelli:
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"Na decisão que impôs uma série de medidas cautelares contra Jair Bolsonaro, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica, o ministro Alexandre de Moraes, no STF, escreveu: 'não será admitida a utilização de subterfúgios para a manutenção da prática de atividades criminosas, com a instrumentalização de entrevistas ou discursos públicos como 'material pré fabricado' para posterior postagens nas redes sociais de terceiros previamente coordenados'.
Instrumentalização de entrevistas também não é um conceito estrito. Bolsonaro instrumentaliza as dele desde que era atração do programa da Luciana Gimenez.
Moraes, ao que parece, queria evitar o uso das redes sociais como ferramenta de ataques contra instituições democráticas. Isso em um momento em que o STF é alvo até do presidente dos Estados Unidos.
Na dúvida, Bolsonaro e seus advogados acharam melhor que ele evitasse dar entrevistas para não parecer instrumentalização nem material pré-fabricado para posterior postagens de terceiros – o veículo seria um deles?
A ordem era tão confusa que Moraes precisou reformular. Disse que não proibiu o ex-presidente de conceder entrevistas. Apenas de usar redes sociais, 'de forma direta ou por meio de terceiros'.
Isso apesar de o ministro ter sinalizado que discursos em eventos públicos e privados não foram vetados – desde que o ex-presidente respeitasse os horários estabelecidos nas medidas restritivas.
Bolsonaro tem dificuldade para pronunciar palavras como paralelepípedo.
Esperar que compreendesse decisões paralelepípedas era forçar demais a barra.
Moraes poderia ser mais específico, mas nem Graciliano Ramos seria capaz de especificar, sem mais nem menos palavras, se o réu pode ou não atender videochamada de apoiadores usando chinelo e tornozeleira eletrônica. Principalmente se os apoiadores estivessem em um carro de som gritando 'mito'.
A medida de Moraes não determina que o réu não pode atender celular.
Uma hora dessas, ministros da Suprema Corte se debruçam sobre a cena como quem olha para uma pintura cubista tentando interpretar o que vai além do traço.
O meio, ali, também é a mensagem.
Quem estudou a construção da mitologia do heroi poderia imaginar que ele está forçando uma prisão para acusar a corte onde é julgada de algoz persecutório.
Mas quem entende de bolsonarismo sabe também o quanto o ídolo da turma teme a prisão.
A prova de interpretação de texto – no caso, de imagem – está agora com Alexandre de Moraes."
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