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Sequestrado há 50 anos, Menino Carlinhos é a criança há mais tempo desaparecida no RJ

Extra | 02/08/23 - 09h15
Reprodução

O sequestro de Carlos Ramirez da Costa, então com 10 anos, na noite de 2 de agosto de 1973 causou uma comoção nacional. O rosto de Carlinhos estampou a capa da edição do jornal O Globo no dia seguinte e a busca de respostas sobre o caso não cessaram. No entanto, mesmo 50 anos depois do crime, ainda não se sabe o paradeiro do menino, caso mais antigo de desaparecimento de crianças e adolescentes sem solução do Rio, segundo estatísticas do programa SOS Crianças Desaparecidas, da Fundação para a Infância e a Adolescência (FIA-RJ).

Se, por um lado, o programa contabiliza 3700 localizados, por outro, há a tristeza de quem segue à espera de respostas. Atualmente, são 603 crianças e adolescentes desaparecidos no estado, dos quais quase 90% já passaram dos 18 anos.

— Não vamos largar os casos de quem atingiu maioridade, o Carlinhos é um deles. A gente não tira do cadastro (de desaparecidos), porque lá tem todas as informações, preservando a história dele e respeitando família — observa Luiz Henrique Oliveira, coordenador do SOS Crianças Desaparecidas.

Os motivos para o desaparecimento são vários, mas o primeiro deles é a fuga do lar (366), seguido justamente de sequestro (109), além de perdidos (55), que completa o top 3. Para Luiz, até no caso de Carlinhos, novas informações podem surgir, mesmo 50 anos depois.

— O verbo é esperançar, não podemos deixar de acreditar. Eu ainda tenho esperanças de que teremos notícias sobre esse caso, porque a dor (das famílias) é horrível e traumática — completa Luiz, que ressalta que o anonimato é garantido e que, se alguém tiver informações que ajudem a elucidar o que aconteceu com Carlinhos, pode entrar em contato com o programa da FIA-RJ. Os telefones de contato são (21)2286-8337, (21)98596-5296 e (21)99400-7704.

Relembre o caso - Carlinhos estava em casa, na Rua Alice, em Laranjeiras, acompanhado da mãe e de quatro dos seis irmãos na ocasião do sequestro, em 2 de agosto de 1973. Dona Maria da Conceição Ramirez acompanhava a novela das 20h, até que uma queda de luz deixou a sala no escuro.

Nesse momento, um homem armado e de rosto coberto entrou no sobrado e levou Carlinhos, momento que não foi presenciado pelo pai, João Costa, que havia saído com os dois filhos caçulas.

O rosto do menino estampou a capa do jornal O Globo no dia seguinte, edição que contou ainda com a reprodução de um bilhete — obtido pelo jornalista Gilson Rebello — que dava conta de um pedido de recompensa: o sequestrador exigiu Cr$100 mil, que deveriam ser deixados em um ponto da Rua Alice, na madrugada de 4 de agosto. O dinheiro foi levado por João Costa, pai de Carlinhos, mas o filho não apareceu.

A suspeita inicial foi sobre um homem com quem o pai de Carlinhos teria uma dívida. Proprietário de uma indústria farmacêutica em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ele estaria passando por dificuldades financeiras. Uma outra linha de investigação foi a de que João teria um caso com a secretária, e os dois teriam planejado o crime.

Em janeiro de 1974, Adilson de Oliveira confessou o sequestro, apontando que João seria o mandante, o que levou o pai de Carlinhos à prisão. João conseguiu um habeas corpus para deixar a detenção no dia seguinte. A confissão, no entanto, era falsa. Mesmo assim, os boatos abalaram a família, e os pais do menino desaparecido se divorciaram pouco tempo depois.

Quatro anos após o sequestro, o detetive particular Bechara Jalkh, que investigava o caso paralelamente à polícia, fez revelações ao jornal O Globo que levariam à reabertura da investigação: o pai de Carlinhos teria forjado o sequestro do próprio filho para conseguir dinheiro da família, na tentativa do resgate.

O delegado Gomes Sobrinho, então titular da Delegacia de Roubos e Furtos, seguiu as pistas do detetive particular e exames grafotécnicos apontaram que a letra do bilhete que pediu o resgate era de Silvio Pereira, funcionário da empresa de João, que estaria falido, com nome sujo. Foram arrecadados Cr$300 mil para se pagar o resgate, valor que não se sabe qual foi o destino. Silvio foi condenado em primeira instância, mas recorreu e foi absolvido.

Em 1979, no entanto, a irmã de Carlinhos disse ao Globo que reconheceu Silvio no momento do sequestro, fato ao qual o pai não deu importância.

Nunca foi provado o envolvimento de João no crime.

Vários Carlinhos - A busca ao longo de décadas sobre Carlinhos já tiveram desdobramentos que chegaram a acender a chama da esperança de encontrá-lo: casos de homens que afirmavam que poderiam ser Carlinhos. Luiz Henrique conta que ele próprio já chegou a viajar para acompanhar os exames de DNA, todos frustrados.

O último é o que mais se recorda, quando foram ao encontro do suposto Carlinhos no interior de São Paulo.

— O caso do Carlinhos mexe com os brasileiros e motiva que todos queiram ser ele. Cheguei a ir à cidade de São Carlos, onde apareceu um Carlinhos, fizemos o teste de DNA e o resultado foi negativo — lembra, citando que as histórias eram parecidas e, ao menos, teve um final feliz para o suposto Carlinhos: conseguiram encontrar sua família.