Transporte coletivo é opção para economia com preços elevados dos combustíveis

Transporte coletivo é opção para fugir da alta dos combustíveis

Paulo Victor Malta | 30/10/21 - 16h05

O cenário de crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19 desde o início de 2020 tem mexido no bolso do cidadão brasileiro e desafiado as pessoas a economizarem como podem para o orçamento dar conta das despesas. Uma delas tem gerado espantosos aumentos em sequência e impactado diretamente a rotina de quem precisa utilizar automóveis: os frequentes reajustes feitos pela Petrobras nos preços dos combustíveis. 

A Petrobras anunciou na última segunda-feira, 25, mais um reajuste nos valores da gasolina e do diesel para as distribuidoras. Em 2021, a alta acumulada da gasolina é de 73,4%, enquanto a do diesel é de 65,3%. Os novos reajustes já passaram a valer desde terça-feira, 26, em todo o país. Em termos de comparação, na primeira quinzena de outubro do ano passado, segundo publicação do portal Exame, o preço médio da gasolina custava R$ 4,569. Esse aumento de quase R$ 2,00 no litro da gasolina em um ano fez com que o uso do transporte coletivo de ônibus seja uma opção para o consumidor que tem seu carro próprio possa fugir dos seguidos reajustes dos combustíveis e ter algum alívio no bolso.

Foi a decisão que o motorista Jeferson Ferreira, 48 anos, tomou há quase quatro meses. Em entrevista ao TNH1, Jeferson explicou que tem deixado o seu carro, um Renault Clio ano 2010, em casa para ir e voltar do trabalho de ônibus durante a semana. "Como a empresa em que eu trabalho nos ajuda com o custo do transporte, hoje eu gasto R$ 70,00 por mês para ir e voltar do trabalho. Levando em consideração que atualmente eu estaria gastando uns R$ 250,00 com o combustível, minha economia gira em torno de R$ 180,00. No final de semana que eu preciso trabalhar, como a demanda de ônibus é menor, eu utilizo o carro. Também deixo para usar o veículo nas saídas com a família, o que nem se compara com a utilização diária. Com o valor que eu economizo, posso inclusive gastar com outras coisas", explica Jeferson.


O condutor Jeferson Ferreira ao lado do carro na garagem (Foto: Arquivo Pessoal)

Dados de uma amostra de precificação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em Maceió mostram que o valor médio cobrado pela gasolina comum na capital é de R$ 6,248, sendo o valor mínimo de R$ 6,090 e o máximo de R$ 6,99, como apontou reportagem do TNH1. A pesquisa registrou essas médias no período entre os dias 17 e 23 de outubro, ou seja, com o último aumento anunciado pela Petrobras no dia 25, após a pesquisa, o valor máximo da gasolina comum deve superar a marca dos R$ 7,00 na capital alagoana nos próximos dias. 

Economista: transporte público é a grande alternativa- Especialista no assunto, o professor de economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Francisco Rosário esclarece que andar de carro está mais caro porque a política de reajustes de preços leva em consideração três fatores: 1º a alta na negociação internacional no valor do barril de petróleo; 2º a desvalorização da moeda do real frente ao dólar; 3º a Petrobras que tem alinhado os preços internos com os preços internacionais, que são cotados em dólar. 

Carro x ônibus: calculando a economia - Para se ter ideia do tamanho desses reajustes, um carro popular com um tanque que cabe 50 litros de gasolina, há um ano era abastecido por cerca de R$ 220,00. Hoje esse custo subiu para aproximadamente R$ 312,00. É um aumento de R$ 92,00 na despesa de transporte do mês. E com esse novo reajuste anunciado esta semana, o valor deve ultrapassar a marca dos R$ 100,00 de diferença em relação ao tanque abastecido em 2020. Com o valor da passagem de ônibus atualmente a R$ 3,35 em Maceió, para fazer duas viagens por dia o consumidor vai gastar R$ 6,70. Contando os dias úteis de segunda a sexta-feira na semana, isso vai dar R$ 33,50, e no mês um total de R$ 134,00. Hoje seria uma economia de R$ 178,00 por mês em relação ao valor pago no tanque do carro. 

"A alternativa para reduzir custos e não pegar um carro e pagar R$ 7,00 no litro de gasolina é o transporte público. Em Maceió, R$ 3,35 a tarifa subsidiada pela Prefeitura para o transporte público, de certa forma há uma compensação. O que a gente tem que lutar? Por melhorias no transporte público, que precisa ter uma qualidade melhor e maior quantidade de linhas para que a gente consiga deslocar-se de casa para o trabalho sem a necessidade de botar mais um carro na rua, às vezes, o carro com uma pessoa apenas. O transporte público é viável, é a única alternativa para que a gente sinta menos no bolso os aumentos constantes dos combustíveis e também aliviar um pouco o estresse do trânsito, que o trânsito é muito complicado e muito pesado. Portanto, o transporte público é uma alternativa, em todos os sentidos, talvez seja a melhor, mais rápida, mais justa socialmente e mais limpa, do ponto de vista ambiental, do que a gente estar dirigindo um carro, com um motorista e consumindo litros e litros de combustível fóssil poluente. Vale a pena investir e lutar pelo transporte público", embasou o especialista Francisco Rosário.  Assista à entrevista

"Se o combustível estivesse em conta... Eu ainda vou voltar com o carro, estou esperando as coisas melhorarem para voltar, mas no momento não posso, com o combustível do jeito que tá e a situação assim, não tem como. Para mim, a economia está excelente para hoje andar de ônibus. Hoje seria uns R$ 250,00 que eu gastaria só para ir e voltar do trabalho. Esse dinheiro já serve para muita coisa", disse um trabalhador que mora no bairro do Barro Duro, próximo da Avenida Rotary, e se desloca para a empresa que fica no Farol.  

O trabalhador reconhece que abrir mão do conforto do veículo durante a semana não é fácil, como por exemplo depender dos horários dos coletivos e o risco de ficar sem transporte caso algum dos veículos tenha problema nas primeiras horas da manhã, mas ressalta que o valor economizado vale a decisão. 

"Eu ainda assim não pretendo voltar com o carro agora por causa do preço da gasolina. Se todo mundo pensasse como penso, porque tem muita gente que tem o carro e só tem que andar com ele, como eu era antigamente. Eu não me via andando de ônibus. Uma vez tive problema com o carro, peguei duas vezes o ônibus errado porque não tinha mais experiência. Mas hoje já estou me adaptando tranquilo, esses três a quatro meses que estou andando de ônibus. Hoje, eu só volto a andar de carro se realmente o combustível baixar ou tiver uma situação que valha a pena. O álcool está subindo no mesmo ritmo da gasolina, que antigamente não era tão próxima assim. Não aumentava dessa forma, não ficava muito próximo. Agora está de uma maneira que você não consegue migrar para o álcool. É melhor dar um tempo, deixar o carro na garagem. Você economiza o pneu, o combustível e o resguardo do carro. Hoje, para mim, andar de ônibus está tranquilo", comentou Jeferson.

Mesmo com o automóvel parado em casa, o consumidor ainda tem despesas com o valor do seguro do veículo, o custo de revisão anual, o pagamento do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), manutenção do carro, como limpeza e lavagem, além de possíveis contratempos que podem surgir, como troca de pneus e itens que apresentem problema. O cômodo de ter um carro já era alto, mas com as subidas dos preços dos combustíveis tem se tornado um desafio. 

Poupando essa quantia citada pelos números acima, caso o condutor permaneça com o carro, pode utilizá-lo para uma saída mais em conta aos finais de semana ou até mesmo juntar esse dinheiro mensalmente para investir ou remanejar para alguma outra despesa mais urgente. Há ainda outras possibilidades de investimentos para o carro não ficar parado na garagem: alugar o veículo para uma outra pessoa e ter uma renda extra mensal ou aproveitar a alta no preço dos automóveis e vendê-lo.  

Faixa azul valorizou transporte coletivo - Andar de ônibus sempre foi sinônimo de demora no trajeto. Mas essa realidade mudou desde 2015 com a implantação da faixa azul exclusiva para o transporte coletivo. A Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) comunicou que o espaço é prioritário para o transporte coletivo e reduz em até 30 minutos o deslocamento dos usuários de ônibus. Esse dado foi constatado em uma semana mais intensa de fiscalizações, que inibiu o uso indevido do dispositivo.

O órgão acrescenta ainda que os dias e horários de proibição da faixa azul para a circulação de veículos individuais é de segunda a sexta-feira, das 6h às 20h. Fora desses dias e horários, é livre a circulação de automóveis nos corredores prioritários de ônibus. Aos finais de semana e feriados, períodos em que o fluxo de veículos trafegando pelas vias de Maceió é menor, é autorizado o tráfego de automóveis pela Faixa Azul.

"O uso indevido do espaço nos horários e dias proibidos é considerada uma infração de natureza leve. O condutor que for flagrado trafegando indevidamente por este local será autuado no valor de R$ 88,38, perdendo três pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH)", alertou a SMTT.

Foto: Secom Maceió

Passe livre estudantil - O transporte coletivo aparece ainda como opção para estudantes maiores de idade que têm habilitação e usam carro para se locomoverem até as instituições de ensino. Segundo a Prefeitura de Maceió, os estudantes podem contar com 44 passagens por mês, que devem ser utilizadas nos dias úteis. Com a disparada da gasolina, o programa surge como uma alternativa para que universitários, por exemplo, economizem com o transporte.  

O programa Passe Livre Estudantil além de alcançar estudantes do ensino fundamental e médio, pode ser usado por alunos dos ensinos técnico e superior das instituições situadas em Maceió e devidamente credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC), pela Secretaria de Estado da Educação de Alagoas (Seduc) e pela Secretaria Municipal de Educação de Maceió (Semed), informou a prefeitura.

Foto: Itawi Albuquerque/TNH1