Contextualizando

Um corpo estranho – a incômoda presença de Marina Silva no ministério de Lula

Em 29 de Maio de 2023 às 18:08

Texto de Nuno Vasconcelos, no portal IG:

“Se Lula não eliminar os ruídos dentro da própria equipe, Marina pode se convencer de ter repetido um erro ao aceitar o convite para voltar ao Ministério do Meio Ambiente. Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou, sob as bênçãos do Planalto, um projeto que, na prática, reduz as atribuições do ministério comandado por Marina e, também, as do Ministério dos Povos Indígenas, entregue a Sônia Guajajara. Esse ministério é uma dessas invenções de Lula que foram responsáveis por elevar de 23 para 37 o número de pastas na Esplanada dos Ministérios.

Lula, claro, agiu para conter a insatisfação de duas ministras que são importantes para a construção de seu prestígio internacional (que tem sido sua principal preocupação desde que retornou à presidência) e até anunciou, para novembro de 2025, a realização da 30ª Conferência Internacional sobre Mudança Climática (COP-30) para a cidade de Belém do Pará. Resta saber o que ele fará para evitar que a ministra continue criando obstáculos a projetos importantes, que podem perfeitamente conviver com uma agenda ambienta avançada, mas que Maria vê como uma ameaça.

A ministra vem se desentendendo publicamente com o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, que defende a exploração de petróleo na costa do estado do Amapá — uma ideia contra a qual Marina sempre lutou. A divergência entre os dois expõe a falta de coordenação de um governo em que os ministérios não se guiam pelos compromissos que Lula assumiu com o eleitor na campanha do ano passado, mas pelas conveniências do partido que nomeou o titular da pasta.

O caso da exploração de petróleo na costa amazônica do Brasil — uma reserva estimada em dez bilhões de barris, equivalente a todo o pré-sal — é o caso à parte. Todo mundo acha que ela deve acontecer — e que a engenharia já dispõe de recursos suficientes para evitar ou mitigar os danos causados por eventuais acidentes. Só Marina é contra. Seja como for, o assunto é importante demais para ser tratado num bate-boca público entre dois ministros de um mesmo governo.

A pauta ambiental é, sem dúvida, importante — mas não pode se limitar, como parece ser a intenção de Marina, a criar mecanismos que transformem a Amazônia num santuário ecológico intocável e aberto apenas aos povos originários e às comunidades extrativistas que exploram os seringais do Acre, os castanhais do Pará, o capim dourado no norte do Tocantins e outros recursos naturais como esse.

É preciso se preocupar com gerar empregos de qualidade e com a renda e a qualidade de vida dos brasileiros que moram na região — até para evitar que eles se exponham ao risco de se contaminar pelas mesmas doenças que Marina contraiu há mais de 50 anos e que ainda hoje continuam ameaçando as populações da Amazônia. Para isso, é preciso que haja equilíbrio entre as políticas de preservação e o manejo responsável dos recursos naturais — levando a uma situação em que a presença humana funcione como uma cortina de proteção e não um fator de depredação ambiental.

Já passou da hora de o país se beneficiar dos recursos naturais abundantes que oferecem uma chance de desenvolvimento neste momento em que o mundo vive uma corrida por fontes mais limpas e sustentáveis de energia. Esses recursos só se transformarão em riqueza se Marina e Silveira começarem a trabalhar juntos.

Do jeito certo e cercada pelos devidos cuidados, a exploração do petróleo, a produção do hidrogênio verde e as usinas de eletricidade alimentadas pelo vento e pela luz solar podem transformar o Brasil na grande potência energética do Século 21.

Mas, para isso, é preciso olhar para a frente e entender que não existe incompatibilidade entre a preservação do ambiente e a exploração racional dos recursos naturais.”

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