Hoje, 28 de junho, véspera de São Pedro, marca praticamente o encerramento das festividades junina, em que a tradição do Nordeste remete à reverência ao forró e suas variantes – xote, baião, xaxado…
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Infelizmente, a pandemia de Covid-19 restringiu ao máximo as manifestações culturais, principalmente os shows artísticos com plateia, para evitar aglomerações.
Passada a fase do “fique em casa”, no ano passado tais apresentações populares voltaram, ainda com algumas restrições, e neste ano a liberação foi total, infelizmente sem a pujança de antes para o forró e seus ritmos derivados.
Em 2023 o que se tem visto nas ditas “festas juninas” é a proliferação de cantores, grupos e bandas que nada têm a ver com as tradições nordestinas.
Graças à ganância de empresários que visam acima de tudo o lucro, gestores públicos de todo o Nordeste foram “convencidos” a abrir espaços em suas “programações juninas” para samba, sertanejo, axé, “piseiro”, DJs e outras coisas totalmente estranhas aos nossos costumes.
Os milionários e suspeitos cachês dessa turma contrastam com o que tem sido pago aos humildes forrozeiros, ainda por cima escanteados dos principais palcos dos festejos, em toda a região.
A propósito, vale registrar a indignação de músicos e poetas divulgadores das nossa raízes culturais, a exemplo de Bráulio Tavares e a sua poesia “Deixe junho pro São João”:
“Deixe o batuque do axé
pro carnaval da Bahia
e que a insana pornografia
não toque no arrasta-pé.
Rapariga e cabaré?
Em nenhuma ocasião.
E o forró da ostentação
Reinando o falso interesse?
Não faça um negócio desse,
Deixe junho pro São João.
Pelo menos uma vez
Esqueça Michel Teló
E deixe eu dançar forró
Os trinta dias do mês.
Um disco de Marinês,
O gogó de Assisão
E o nosso Rei do Baião,
Cantando Zé Marcolino,
Só esse mês é junino,
Deixe junho pro São João.
Com seu povo tenha zelo,
Respeite nossa raiz,
Não ouça o cantor que diz
Que o melhor é o desmantelo.
Deixe a escova do cabelo
De Wesley Safadão
Pro Programa do Faustão
Que aqui é outra lisura,
Não mate nossa cultura,
Deixe junho pro São João.
Deixe a tal da muriçoca
Se enganchar no mosqueteiro,
Contrate Alcimar Monteiro
Que nossa música toca.
Deixe o funk carioca
Tremendo seu paredão
Pra quando uma guarnição
Passar baixando o volume,
Perca esse fútil costume,
Deixe junho pro São João.
Nós precisamos parar
A superficialidade,
Pois cultura de verdade,
Jamais pode se apagar.
É triste se constatar
Essa covarde inversão,
E o povo sem ter noção
Do próprio valor que tem
Faça a você esse bem.”
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