Contextualizando

Uma avaliação do cenário político: "As jabuticabas no pomar do Éden"

Em 3 de Agosto de 2025 às 16:00

Texto de Percival Puggina:

"Estamos em vias de pagar preço pesadíssimo, imposto pela irresponsabilidade do presidente da República ao desconsiderar as consequências do que faz por conta própria. No caso da hecatombe à vista, parece mais adequado a Lula dizer – 'Ao perdedor, as jabuticabas!', que ele saboreia como se estivesse no pomar do Éden.

Quem não se engana com o Lula e vota no Lula é porque espera dele o que está fazendo. Quem vota no Lula enganado por ele, depois de quatro mandatos petistas e da longa folha corrida do partido, quando melhorar muito se tornará apenas um tolo certificado. Os ministros do STF não são tolos e sabem o que estão fazendo. Sabem que estão manipulando e que encontraram a fórmula de usar seu poder para se garantir no poder. E têm consciência de que grande parcela de brasileiros sabe o que eles fizeram nos últimos verões, outonos, invernos e primaveras.

A quem exerce o poder político com protagonismo, a democracia pressupõe voto e convívio com o necessário contraponto entre direita e esquerda, entre oposição e governo. No regime atual, porém, quem faz política de modo mais efetivo (os membros do Supremo) se considera, monocraticamente ou em colegiado, como uma 'instituição'. Entende a crítica como ataque à instituição. A quem cai em desagrado, impõe proibições, censuras, silêncio absoluto e pesada distribuição de investigações e punições. Por isso, assim como Janja, ministros do STF se agradam do modelo chinês de controle social, tornando-se pró China nessa perspectiva.

Coisa diversa, mas simultânea, são as burradas que Lula vem produzindo em série a partir de quando, garantido internamente pela maioria do Supremo, resolveu insultar os EUA e seu presidente. Tem feito isso cada vez que abre a boca em foro internacional ou se une com inimigos da grande potência do Norte. Ele pensou que cresceria batendo de longe em cachorro grande, mas o que produziu foi uma dispersão de cuscos e arrastou o Brasil para a soleira de uma crise nunca antes vista.

Quem escolhe lado, escolhe, também, o adversário. Escolhe o inimigo. Foi o que Lula fez desde a campanha eleitoral americana e a guerra que abriu representou, a meu ver, a gota d’água para Trump. Instado pelos exilados brasileiros a livrar o Brasil da venezuelização, decidiu pegar pesado contra nosso país.

Trump pode desarmar o Brasil, pode quebrar nossa economia, causar um dano social de consequências incontroláveis e deixar seus alvos no Supremo politicamente expostos no plano nacional e internacional. Se a volta do Brasil aos trilhos do Estado de Direito e ao regime democrático não acontecer antes e por menor custo, acontecerá depois – com imenso preço econômico, financeiro, social e de vidas – pela súbita miserabilização, frente a um setor público que pode estar quebrado em poucas semanas. 'Todas as cartas estão sobre a mesa'.

Falemos, então sobre soberania. A guerra entre o Brasil de Lula e os Estados Unidos de Trump foi insistentemente declarada por Lula, mediante palavras e ações. Então, pergunto: foi você, leitor, ou o Congresso Nacional, quem autorizou Lula a iniciá-la? Você está incomodado pela intromissão estrangeira em temas inerentes à nossa soberania? Nesse caso, tenho três outras perguntas:

– Qual a regra que autoriza o Brasil a interferir e dar pitaco na soberania de outros países como vem fazendo em Israel, no Peru e na Argentina?
– Você considera legítima a interferência de um poder nacional na soberania do povo, intimidando a representação popular no Congresso, cancelando direitos constitucionalmente assegurados, nossa liberdade e nossa democracia?
– Foi a direita que deixou o Brasil se converter num narcoestado e perder para o crime organizado a soberania sobre expressivas porções de seu território e população?

Assim como o poder dos ministros do STF se impõe pelo medo que suscitam, só algo simetricamente oposto pode desestabilizar a segurança de que hoje usufruem sob agasalho da mídia companheira e camarada.

Se isso não acontecer, restam-nos as jabuticabas."

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