Do jornalista J. R. Guzzo:
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“… A edificação da ditadura no Brasil está acontecendo, passo a passo, por decisões como a cassação do deputado Dallagnol; é um regime que querem construir com decretos-leis, portarias e despachos do STF, TSE e repartições públicas do mesmo tipo.
A democracia, na concepção em vigor no governo, será desmontada com a destruição dos princípios básicos da economia, da sabotagem ao sistema de produção e da anulação do poder do Congresso.
É o que se vê pela supressão de leis que já foram legitimamente aprovadas, como a Lei das Estatais, ou a reforma do ensino, ou a projetada volta do imposto sindical — ou, então, pela imposição de leis que o Congresso não quer aprovar, como é o caso da censura nas redes sociais.
É o que se está vendo pelas prisões políticas e pelos inquéritos ilegais que o STF conduz contra inimigos do governo — até agora, em quatro anos de ação e milhares de brasileiros perseguidos, nenhum militante de esquerda, nem um, foi incomodado pelas investigações. É o que se vê pela violação sistemática da lei por parte do alto Judiciário, e pelo rebaixamento do Ministério Público à condição de serviço de atendimento às ordens do governo.
A cassação do deputado Dallagnol é mais um prego no caixão. Para os que têm dúvidas sobre o enterro da democracia que está acontecendo à luz do dia, é instrutivo ouvir o ministro da Justiça, numa reunião com dirigentes das plataformas de comunicação social há cerca de um mês, dizendo que ‘esse tempo da liberdade de expressão como um valor absoluto, que era uma fraude, acabou, acabou, foi sepultado’. Podia ser uma palestra do chefe da KGB.
Falando na ‘Polícia Federal que eu comando’, ameaçou as redes, disse que vão ‘arcar com as consequências’ pela prática de crimes não especificados e informou que os estatutos internos das redes ‘não lhe interessam’, e não valem mais nada.
O ministro afirmou que o objetivo da censura às redes sociais é acabar com o ‘massacre em série de crianças nas nossas escolas’ — isso quando a lei que quer aprovar à força na Câmara fala em punir a ‘desinformação’, as ‘fake news’, as conclusões ‘enganosas’, ‘distorcidas ou fora de contexto’, ou seja, todo um balaio que atinge diretamente a livre expressão do pensamento.
Pouco depois, o ministro Alexandre de Moraes proibiu o aplicativo Telegram de publicar sua opinião sobre o projeto de censura em debate na Câmara — e obrigou que publicasse um texto do STF, dizendo o contrário do que dizia a postagem proibida. Que diabo isso tem a ver com massacre de crianças?
O PT e a esquerda brasileira estão convencidos, e dizem isso em público, de que terem aceitado sair do governo, em 2016, depois de terem entrado pela primeira vez no Palácio do Planalto, foi o maior erro de toda a sua história; não deveriam ter topado nunca, e não estão dispostos a topar agora, quando têm o STF, as Forças Armadas e a direção do Congresso a seu serviço. É o seu único objetivo visível.
Quem acha que não é bem assim, ou que não é assim, pode responder a um teste fácil. Esqueça Lula, seu programa de turismo com a mulher através do mundo e a sua convicção de que, se na Venezuela o presidente pode ficar no cargo pelo resto da vida, por que não aqui? Há mais uma multidão que quer ficar lá para sempre. Alguém acha, por exemplo, que o ministro da Justiça e os defensores do comunismo que fazem parte da sua corte estão dispostos a aceitar, mansamente, uma derrota em eleições limpas e voltar à escassez da vida na oposição?
Para acreditar em jogo limpo é preciso acreditar que eles possam dizer algo assim: ‘Pôxa, que pena, perdemos a eleição… Chato, não? Vamos ter de começar tudo de novo’. Os proprietários do MST vão aceitar, de boa, a devolução das diretorias que ganharam no Incra, ou a ausência de seis ministros de Estado em suas ‘feiras’? E as viagens ao exterior? E o resto da manada que está ganhando mais de R$ 70 mil por mês em conselhos de estatais e desfrutando das demais maravilhas da máquina estatal?
Essa gente toda está disposta a ficar lá por toda a eternidade, como acontece nos regimes que lhe servem de modelo, e tem os meios materiais para isso — só precisa continuar a fazer o que está fazendo.
O Brasil tem um deserto pela frente. No momento não há oásis à vista.”
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