Contextualizando

Uma perspectiva otimista para os rumos da economia brasileira

Em 27 de Setembro de 2022 às 21:27

Paulo Rabello de Castro, economista, em artigo no jornal “Estado de Minas”:

“O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem insistido, nos últimos dias, que o Brasil é o país que, na comparação mundial, saiu na frente no combate à inflação, ao elevar juros em mais de dez pontos percentuais desde meados do ano passado. Essa reação ‘antecipada’ à crise inflacionária é o que nos teria dado, agora, a chance de também avançar na direção da retomada da economia, como aparenta dar sinais o mercado de emprego no Brasil.

São, de fato, boas notícias nesse findar da gestão do presidente Bolsonaro. O cenário interno está menos carregado de ameaças ao cidadão comum, que amargou, desde 2020, a violência da COVID 19 agravada por desemprego em massa e fechamento de milhares de negócios. O governo tem tomado várias medidas em sequência para estimular o ambiente econômico – mais linhas de crédito, antecipação de 13º, redução de tributos sobre energia e combustíveis, reduções de IPI e, sobretudo, ampliação significativa de pagamentos assistenciais, como o Auxílio Brasil.

O impacto cumulativo dessa massa adicional de recursos transferida pelo governo para o mercado tem um impacto não inferior a aumentar em dez por cento a massa salarial total do país. O reflexo é sentido no consumo e na melhoria parcial das avaliações de opinião pública sobre a aprovação ao governo.

A inflação deu uma trégua no Brasil, permitindo ao Banco Central não aumentar os juros além do já gravoso patamar de 13,75%. Nos EUA, essa briga contra a inflação está apenas começando com recentes altas de juros, tanto lá como na Europa, e noutros países emergentes. Nesse sentido, o Brasil largou na frente e, sem surpresa, de modo muito mais agressivo, pois colocou o patamar de juros numa altura nem cogitada por outros bancos centrais.

Somos os campeões de juros altos há muito tempo. É de se esperar, portanto, que a economia brasileira, embora debilitada por altos custos financeiros e pobreza disseminada, venha a abrir espaço para uma retomada mais vigorosa de empregos e negócios no próximo ano. Como já assinalei nesta coluna antes, nunca foi tão fácil, como agora, consertar o rumo do Brasil em sua gestão econômica.

Há notáveis semelhanças entre a situação atual e aquela por que passamos na virada de 2002 para 2003. A passagem de 2022 para 2023 está com a mesma cara de vinte anos atrás. E, com algumas mudanças, os personagens políticos se repetem. Em 2002, chegamos ao fim do ano com taxa de juros também elevadíssima (26%) e desemprego muito alto, o real desvalorizado frente ao dólar e o receio do que a mudança de rumo na política (de FHC para Lula) poderia trazer mais turbulência à economia já combalida.

O ano atual, 2022, se parece bastante com as condições do distante 2002. A equipe econômica de então se desdobrou para domar efeitos de uma crise externa – após anos de bonança – e obrigou o País a tomar remédios amargos. Os resultados demoraram a aparecer e o candidato da situação, o competente José Serra, perdeu para Lula, que assumiu em janeiro de 2003. O cenário de hoje não é muito distante do de então. Havia, na época, outros nomes de valor na disputa, como Ciro Gomes, de novo se apresentando no pleito dos próximos dias.

O que aconteceu a partir do início de 2003 pode voltar a ocorrer na economia de 2023 em diante. O Brasil tem crescido muito abaixo do seu potencial. E hoje, diferente de vinte anos atrás, o Banco Central tem reservas volumosas e muito mais conhecimento para lidar com inflação.

No plano das finanças estaduais, a vantagem de hoje sobre 2002 é escandalosa: diria que a totalidade dos estados brasileiros só precisa de um acerto financeiro para iniciar uma era de grande prosperidade. Há espaço para investimentos enormes em infraestrutura e o Brasil de hoje tem uma matriz energética de dar inveja por seu grau de diversificação e potencial de avanço em segmentos ‘verdes’.

E, tal como duas décadas passadas, as coisas boas e alvissareiras continuam escondidas debaixo de um entulho de crendices, invencionices e chatices do horário político mais vazio e patético da televisão mundial.

Não importa, por isso, que o Brasil saia na frente. A questão continua sendo como chegar na frente. Não basta largar bem se a gente não conhece direito qual o caminho a percorrer em seguida. Nossa sorte é que, mais uma vez, o futuro próximo se apresenta favorável para o Brasil. O grande desafio segue sendo o de encontrar lideranças que regurgitem menos e aproveitem mais o potencial da hora presente.

Uma boa votação para todos.”

Gostou? Compartilhe  

LEIA MAIS

+Lidas