Saúde

38% das crianças nascidas no mundo se alimentam exclusivamente de leite materno nos primeiros seis meses de vida

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que este alimento pode reduzir em até 13% a taxa de mortalidade de crianças com menos de dois anos

João Pedrosa UFRN | 11/08/19 - 11h15

Nos primeiros meses de vida, a mãe se preocupa em garantir a melhor alimentação que uma criança pode ter. A mais completa é, sem dúvidas, o leite materno, que oferece inúmeros benefícios, desde a melhora no sistema imunológico até a prevenção contra diabetes, obesidade, infecções e alergias. Mas isso não é tudo. Amamentar, além de fortalecer o vínculo entre a mãe e o filho, também faz bem para a saúde da mulher.

É que a amamentação previne a hemorragia pós-parto, anemia, osteoporose, doenças cardíacas, cânceres de mama e de ovário e depressão, além ser um ato prazeroso que eleva a autoestima.

Infelizmente, a falta de informações sobre a importância do aleitamento materno é uma realidade comum entre diversas famílias. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que apenas 38% das crianças no mundo se alimentam exclusivamente de leite materno nos seis primeiros meses de vida. A intenção é que até 2025 esse número chegue a pelo menos 50%, o que ainda é pouco.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) sugerem que a amamentação seja realizada por dois anos ou mais e que o leite materno seja o alimento exclusivo na dieta do recém-nascido até o sexto mês de vida.

Esse é o objetivo de Maria Auxiliadora Ferreira, mãe de Celine Agnnys, que pretende amamentar até a pequena completar seis meses. “Esta é a quarta vez que tenho um filho. Para mim, é um momento de muita satisfação amamentar. Sei o quanto o leite irá beneficiar minha filha e pretendo amamentar de forma exclusiva”, afirma.

Na Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), todas as mães recebem orientação de como amamentar. 

Mais que isso, a instituição possui um Banco de Leite Humano (BLH) responsável pelo controle de qualidade e distribuição do leite materno para cerca de 80% dos recém-nascidos em situação de risco em todo o estado.

Banco de Leite da MEJC é responsável por 80% do controle de qualidade e distribuição do leite materno distribuído no Estado – Foto: Cícero Oliveira

Banco de leite

Considerado referência pela Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (RedeBLH), o Banco de Leite Humano da MEJC conta, em média, com 50 doadoras e chega a coletar cerca de 200 litros de leite por mês. Parece muito, mas ainda é insuficiente para atender toda a demanda que precisa de pelo menos três vezes mais doações, cerca de 15 litros por dia.

“Somos o único banco de leite do estado que faz o processamento do leite materno para atender as unidades maternas, sejam elas públicas ou privadas. Para atender apenas a nossa demanda interna, seria necessário de 8 a 10 litros por dia”, comenta a coordenadora do Banco de Leite da MEJC, Ana Zélia Pristo.

Segundo ela, alguns bebês, ao nascerem, não têm a oportunidade de mamar. Garantir que sejam alimentados da melhor forma possível, possibilitando um crescimento saudável com todas as defesas que o organismo precisa, é uma das funções do Banco de Leite.

A doação é parte fundamental para que isso aconteça, mas não basta apenas receber o leite, é preciso garantir que ele tenha as condições adequadas para o consumo. Por isso, é necessário que seja submetido a testes microbiológicos e físico-químicos para avaliação de sua qualidade. Todo o processo realizado pelo Banco de Leite da MEJC dura, em média, 48 horas até que o alimento seja considerado adequado para o consumo. 

O leite materno processado em bancos de leite atende principalmente a bebês prematuros ou em situações em que não conseguem mamar diretamente na mãe. É o caso da pequena Damara Maria, filha de Jailma Ribeiro, que nasceu com 860 gramas. 

Segundo Jailma, a assistência recebida no período em que a filha estava na UTI Neonatal, o acompanhamento de toda a equipe e o leite materno fizeram toda a diferença na sua recuperação. “Tive algumas complicações durante a gestação e ela chegou antes do tempo. Tomei um susto grande, pois eu era mãe de primeira viagem e tinha um bebê prematuro para cuidar. Foram vários dias com ela internada na UTI Neonatal e, mesmo depois que foi transferida para a Enfermaria Canguru, ela chegou a ter complicações e precisou retornar algumas vezes para a UTI”, lembra.

Desenvolvendo-se e ganhando peso, atualmente a pequena Damara está com 3,120 kg e logo mais deve ir para casa. “No início, eu não tinha leite suficiente para alimentá-la. O leite materno doado fez toda a diferença. Tenho certeza que se não fosse o apoio, a assistência que nos foi dada e o leite materno proveniente das doações, talvez ela não estivesse aqui comigo”, fala a mãe emocionada.   

Coleta domiciliar

O leite materno processado em bancos de leite atende principalmente a bebês prematuros que não conseguem mamar na própria mãe – Foto: Cícero Oliveira

A coleta de leite materno é realizada por meio do projeto Amigo do Peito, realizado em parceria com o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte (CBMRN). Só no primeiro semestre de 2019, a parceria realizou mais de 685 visitas domiciliares. Qualquer mãe que amamenta é considerada uma possível doadora, desde que tenha boa saúde, excesso de leite e cadastro no banco de leite mais próximo. 

O Banco de Leite da MEJC funciona todos os dias, das 7h às 19h, dando apoio e orientação às mães, estimulando a doação de leite materno, auxiliando no processo de ordenha e análise do leite, além das visitas previamente agendadas. Dúvidas e informações podem ser obtidas através do 0800.721.0078.

A matéria-prima para a manutenção do Banco é o leite materno. Contudo, todos podem colaborar com a continuidade do serviço às mães do estado. Quem não tiver leite pode doar frascos de vidro que servem para o acondicionamento do produto.

Arte: Ivan Cabral

Sobre a Rede Hospitalar Ebserh

A MEJC faz parte da rede hospitalar Ebserh desde agosto de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.

Como hospitais vinculados às universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.

Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a rede hospitalar Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.